Autor contemplado pela Lei Aldir Blanc valoriza a chuva, homenageia os pais e retrata Porto Velho em forma poética
Apoiado pela Lei Aldir Blanc, Carlos Reis lança livro no qual retrata o cotidiano de Porto Velho
Carlos Reis, 57 anos, escritor, professor em escola pública (de Português e Artes), artista do audiovisual, teatro e Folia de Reis, lançou mais um livro, desta vez, o Chuva para molhar a casa de Trenel e Dona Reis, prosa poética das décadas de 1960 e 70. Ele foi um dos contemplados pela Lei Aldir Blanc, no Edital 78/2020 lançado pelo Governo de Rondônia no âmbito da Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel).
Exemplares do livro foram distribuídos pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) em coordenadorias regionais, bibliotecas, Fundação Cultural (em Ji-Paraná e Porto Velho) e escolas da Rede Municipal de Ensino Fundamental de Porto Velho, para compor o acervo literário.
Por quê esse título? Carlos Reis explica que as prosas poéticas o conduzem à infância, no bairro Areal. “Nasci no Bairro Caiari, mas a família se mudou para o Areal, eu era menino e vivia numa casa de madeira coberta de palha, na Rua Bolívia nº 60, perto do Colégio Dom Bosco”, relata com a memória de cinco décadas atrás.
Ouvia a música tocada diariamente nesse colégio, sinalizando a entrada nas salas de aulas, e se lembra do padre organizando a tradicional fila, muito comum nas escolas de antigamente.
“Aprendi a tomar banho de chuva com o meu pai, ele dizia: “Chuva que Papai do céu manda para molhar a casa do garotinho e garotinha”, ele recorda.
A frase era dirigida a ele e a mana Rosa, que faleceu aos 51 anos, em 2012. O livro reúne memórias escritas sob influência do pai e dos costumes portovelhenses. Quando o pai faleceu, em 2016, decidiu homenageá-lo, e também à mãe. Da família de seis irmãos, Rosa faleceu aos 51, em 2012, e o pai aos 79, em 2016. A mãe, Maria Raimunda Reis, mais conhecida por dona Reis, tem 80 anos. O casal foi pioneiro em Ji-Paraná quando a cidade ainda se chamava Vila de Rondônia.
A mãe esteve na live de lançamento do livro, em 24 de fevereiro, no auditório da Coordenadoria Regional de Educação (CRE)de Ji-Paraná. Ao propor o livro à Sejucel, no formato prosa poética, Carlos quis narrar vários episódios do período em que os pais viveram em Porto Velho. Inseriu-se, então, num workshop (reunião) virtual sobre a valorização da história dos pioneiros amazônicos.
Dona Reis nasceu em Humaitá (AM); o pai dele, Carlos José dos Reis, seu Trenel, em Santarém (PA), mudou-se aos 14 anos para Manaus, onde conheceu o amigo alfaiate Tancredo e a mulher dele, Araceli.
MUDANÇA DA FAMÍLIA
Raimunda, Dona Reis, se casa com Carlos dos Reis, Trenel |
Aprendeu com Tancredo essa profissão e, em 1958 mudou-se para Porto Velho. Depois, a família foi para Vila de Rondônia em 1975, onde abriu uma alfaiataria.
Segundo conta o autor, o pai foi também garçom durante 13 anos num restaurante conhecido, e qualificou dezenas de garçons na cidade. Treinou o time do Vera Cruz, e ali ganhou o apelido. “Nos treinos, um jogador começou chamá-lo de Trenel, e os demais também o imitaram, e assim ficou Trenel”.
Já em Porto Velho, fiel torcedor do Moto Clube, foi massagista do time e ajudou também o Grêmio portovelhense, na fase de ouro da equipe. Trenel chamava o filho de Carlinhos, depois o apelidou de Cacá e Caua. Tempos inesquecíveis para o autor, quando ela frequentou também a extinta Escola Monteiro Lobato.
UM SONHO
“Foi a realização de um sonho”, define Carlos Reis. Inicialmente, eu pretendia escrever um livro com o título A Casa do Vô Trenel, mas percebeu que o volume das histórias não caberia em um só livro. “Se quisesse também recorrer ao período da infância, já teria material para mais de um livro, daí surgiu a segunda ideia: escrever fatos da infância, com a presença de meu pai”.
Ao elencar suas gratas lembranças, Carlos constatou que a mãe seria indispensável em sua narrativa. Então, surgiu o título Chuva para Molhar a Casa de Trenel e Dona Reis, variante da expressão “chuva para molhar a casa de garotinho e de garotinha”, repetida pelo pai a cada chuva em Porto Velho.
O projeto demorou dois anos. O autor acreditava que, na impossibilidade de publicação, a obra fosse distribuída às bibliotecas escolares de Porto Velho e de Ji-Paraná, municípios em que meus pais são pioneiros. Idealizou um worshop (reunião) inicialmente presencial, para três públicos distintos: alunos de sextos e sétimos anos; educadores; público em geral, mas veio a pandemia da covid-19. Ao mesmo tempo, foi divulgado o edital, e isso facilitou a reformulação do projeto, adaptado aos critérios da Coordenadoria de Cultura da Sejucel.
OUTRAS OBRAS DO AUTOR
Graduado em Letras e em Pedagogia, pela UNIR, acadêmico de Psicologia, pela Estácio-Unijipa, Carlos Reis publicou anteriormente:
O fio tênue (2014
Lua de chocolate (2010, em parceria com Raísa Lua)
A humana Casa das Oliveiras (2007)
Avenoite & Outros Poemas (2000)
Vigor da Primavera (1999, coletânea)
No prelo:
Borboleta frente ao mar (Ou: Como se as madrugadas fossem inférteis)
Exposições literárias recentes:
Borboleta frente ao mar (2019)
Festival UNIR Arte e Cultura, e Sesc Ji-Paraná (#caiporaecurumim, 2019)
Colar de Letras, 2018 , com Vanessa Alessandra (Festival Unir Arte e Cultura)
Entre 2007 e 2010 idealizou e coordenou o Projeto Colares de Letras – A Literatura Ji-paranaense, que possibilitou a publicação de 16 obras de autores residentes em Ji-Paraná.
O workshop virtual “A Importância do Registro das Histórias dos Pioneiros Amazônicos” – parte integrante do projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc, contou com a participação das pioneiras Dona Reis e Dona Angelita
(Angelita Maria Carvalho Pereira), e dos artistas ji-paranaenses Raísa Lua, Artur Nestor, Vanessa Alessandra e Rafaela Oliveira. Parte do material de divulgação (incluindo a live de lançamento do livro) está no canal
do autor, na plataforma Youtube
Secom
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