DIA DO ÍNDIO I - As nações índigenas lembram 521 anos de resistência contra todo tipo de violência e invasão do que restou de suas terras | Notícias Tudo Aqui!

DIA DO ÍNDIO I - As nações índigenas lembram 521 anos de resistência contra todo tipo de violência e invasão do que restou de suas terras

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No dia 19 de abril é comemorado o Dia do Índio e o Diário da Amazônia entrevistou a ativista e indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, conhecida como Neidinha, da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, organização não governamental que atua em Rondônia. Ela contou como a pandemia afetou os povos indígenas de Rondônia e lembrou sobre as constantes ameaças de grupos invasores, violência e racismo que afetam a cultura indígena.

Qual foi o impacto da pandemia da Covid-19 nas aldeias de Rondônia?

Ivaneide: Os indígenas já receberam a primeira dose da vacina. Então estão vacinados os maiores de 18 anos. Mas isso não impede da Covid-19 entrar. Estamos com uma aldeia inteira com indígenas com o Coronavírus e a gente acha que é até outra Cepa, não temos certeza, não somos médicos, mas a gente desconfia. São 25 indígenas Uru-eu-wau-wau contaminados com Covid-19. Mas percebemos que o fato de estarem vacinados foi mais fraco o vírus. Eles são muito vulneráveis. Os Uru-eu-wau-wau são os penúltimos povos contactados. Eles têm 40 anos de contado e é pouco tempo. Quando eles têm o contato logo são acometidos com gripe, tuberculose, sarampo, doenças respiratórias que é o que mais mata. Os Suruí antes do contato eram cinco mil, depois do contato eles eram 250 pessoas, porque morreram quase todos dessas doenças que não tem tratamento e que são frágeis.

Como foi a condução do Governo na pandemia?

Ivaneide: As aldeias deveriam ter sido fechadas. O Governo deveria ter fechado, porém não fez isso. O Governo não tem nenhum planejamento de proteção para a população geral brasileira e muito menos da população indígena. O pouco que se fechou foi por iniciativas dos próprios índios. As Ongs que trabalham com os indígenas foram nas aldeias colocaram cartazes e portões para ninguém entrar. Os Uru-eu-wau-wau foram os últimos a pegarem Covid porque tiveram todos os cuidados para fecharem as aldeias. Os  Surui também foram cuidadosos.

Como o racismo indígena pode ser combatido?

Ivaneide:  A forma de se combater o racismo é deixando muito claro que ele existe. A gente cresce em um mundo muito preconceituoso e as vezes nem percebe que está sendo racista reproduzindo piadas. Nós somos todos iguais. Não é a cor da pele que te faz melhor que o outro. Nós somos todos seres humanos e temos que lutar para que o mundo seja melhor.

Substituição de crenças religiosas é uma ameaça aos hábitos culturais?

Ivaneide:  Não sou contra nenhuma religião ou outra. O que eu tenho presenciado é que essas religiões fundamentalistas dentro das aldeias têm impactado diretamente as crenças e espiritualidade indígenas. Deus é de todos. E quando você destrói uma cultura você está destruindo algo que Deus deixou existir.

E qual a cadeia produtiva dos indígenas?

Ivaneide: Os indígenas são grandes produtores. Os Suruí são grandes produtores de café, ganhadores de prêmios como o ConCafé, com o Café da Tribo que é o maior sucesso, um café gourmet que tem levado o nome de Rondônia a muito longe. Nessa pandemia os índios gaviões e os araras coletaram alimentos das roças e foram doar para a comunidade não indígena na cidade de Ji-Paraná. As empresas já estão descobrindo essa qualidade de produção. A empresa 3 Corações veio e apostou na produção indígena e está comprando café dos Suruí e apostando no mercado externo.

Aumento de casos de violência indígena na Amazônia?

Ivaneide: Hoje em Rondônia e na Amazônia inteira a gente vê todas as terras indígenas sendo invadidas, por grileiros, madeireiros, garimpeiros. Não há uma fiscalização eficiente, uma fiscalização constante. Atribuo isso a atitude do Governo Federal que tem fragilizado as fiscalizações através de instruções normativas e portarias contra a proteção dos territórios. Os indígenas têm sido resistentes a esses ataques que vêm sofrendo há mais de 521 anos. Não há o que comemorar no Dia 19 de Abril (Dia do Índio), mas há o que se reivindicar.

No dia 18 vai fazer um ano que assassinaram o Ari Uru-eu-wau-wau, que era um ativista e que defendia o seu território. Até o momento não temos nenhum resultado da investigação do assassinato desse indígena. A mesma coisa acontece com os outros. Nesse Dia 19 de Abril nossa principal reivindicação é justiça para todas as mortes desses indígenas e de outros ativistas como tantos outros no Brasil”, finalizou.

(Diariodamazonia)


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