NÃO PRECISA IR À BOLÍVIA - O que está por trás da 'capital das plásticas', que oferece cirurgias a preços imbatíveis

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Dulcineia Luz, 47, saiu de Rondonópolis, Mato Grosso, e passou dois dias viajando de ônibus rumo a Ubá, em Minas Gerais, uma cidade que nunca havia visitado — e da qual, até poucas semanas antes, nunca sequer havia ouvido falar.

Foram vídeos no TikTok que a apresentaram, por acaso, à cidade de cerca de 100 mil habitantes que, nas redes sociais, se vende como a "capital das plásticas".

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"Minha irmã já tinha feito cirurgia e ficou maravilhosa. Eu não pensava em fazer também, mas quando vi no TikTok… Olhei para minha barriga caída e pensei: 'Tô precisando'. Aí eu vim realizar esse sonho."

O principal atrativo que faz com que vídeos de mulheres recém-operadas dançando, ainda com suas cintas e drenos pós-cirúrgicos, somem milhões de visualizações e atraiam pessoas como Dulcineia, é o preço acessível.

Em Ubá, é possível encontrar, por exemplo, a famosa cirurgia "x-tudo" (que consiste em elevação dos seios, remoção de gordura das costas com retirada do excesso de pele e gordura da barriga e possível aumento dos glúteos) por um total de R$ 18 mil — um valor que, em muitas capitais brasileiras, corresponde apenas ao custo de internação em hospitais de alto padrão.

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Também há ofertas de mastoplastia (cirurgia nas mamas) por menos de R$ 11 mil, incluindo custos de hospital e anestesista, e abdominoplastia (cirurgia no abdômen), por menos de R$ 9 mil — um preço mais de 50% abaixo da média em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Diariamente, mulheres de diferentes partes do Brasil — e até algumas brasileiras morando no exterior — chegam a Ubá atraídas pela chance de renovar a autoestima por um preço acessível.

Mas, para algumas pacientes, o que era um sonho se transformou em pesadelo, com resultados muito diferentes de suas expectativas, infecções e falta de assistência médica.

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Hoje, pelo menos seis cirurgiões plásticos realizam procedimentos diariamente em Ubá. Dois deles — Maurino Grossi e Júlio Cesar Ferreira, considerados pioneiros da especialidade na cidade — acumulam, cada um, mais de 30 processos na Justiça.

Ao investigar o histórico de Júlio Cesar, a reportagem encontrou cerca de 40 ações contra ele. As acusações se concentram principalmente em supostos erros médicos, especialmente em mamoplastias. Dos 16 processos que já tiveram sentença, ele foi condenado em 7. Em outros 4 casos, o processo foi extinto — por acordo ou desistência do paciente — e 5 foram julgados improcedentes.

Já contra Maurino Grossi, a BBC News Brasil localizou cerca de 40 processos. Dos 28 já sentenciados, ele foi condenado em 5. Outros 2 foram considerados improcedentes. Nos 21 restantes, o processo foi extinto, seja por desistência dos pacientes ou por acordo entre as partes.

A BBC News Brasil procurou ambos e foi recebida por Maurino Grossi em seu consultório, em dezembro de 2024, como descreveremos ao decorrer do texto.

Júlio Cesar Ferreira não aceitou dar entrevista, mas foi contatado por mensagem com questionamentos sobre os casos relatados aqui e enviou uma nota por meio de seu advogado, descrita ao longo deste texto.

'Uma máfia que deu certo'

Pelas ruas de Ubá, nada indica que a cidade, mais famosa pela venda de móveis de madeira, esteja tão economicamente aquecida pela cirurgia plástica. Mas as redes sociais fizeram com que o engajamento nas redes se convertesse, de fato, em negócios.

A fama criada online impulsionou uma rede de novos trabalhos: motoristas especializados no transporte de pacientes, lojas de material hospitalar, casas de cuidado e até uma modalidade financeira voltada especialmente para quem deseja operar.

Lucilene Queiroz é a responsável pela Pag Crédito Ubá, que tem atraído clientes com um financiamento programado, pensado especificamente para cirurgias estéticas.

Ela recebeu a reportagem em um coworking e contou como as redes sociais têm feito com que ela receba mais de 80 mensagens de interessadas por dia e quais são as opções das clientes.

"Funciona basicamente como um consórcio: a cliente escolhe o plano, começa a pagar as parcelas e já sabe quando vai operar — sem lance e sem sorteio", explica Lucilene.



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