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Cici – Um bom camarada

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Quem quisesse sair da fossa, dor de cotovelo, era só conversar com Cici. Seu nome era Alci Araújo. Pelo nome ninguém o conhecia. Montou o primeiro hotel da Vila de Ariquemes, todo de madeira e coberto de telha de amianto. Dois andares. O cliente que entrasse a noite no hotel acordava quem já estava no sono. Tinha o barulho assombrado no piso de prancha e tábua.

Ele teve farmácia. Tinha prática na área. Olhava pressão, examinava garganta, aplicava injeção, ponteava ferimentos, tratava malária com quinino. O povo botava fé nele. Não tardou fazer um barracão no terreno, onde era parada dos ônibus. No alto de uma castanheira enorme, instalou o primeiro alto-falante da Vila. O som ia longe. Dava notícias. Mandava recados. Anunciava perdidos. E soltava música e mexia com os corações cheios de saudades.

 

A Vila de Ariquemes passou a distrito. Depois a cidade. Chegaram as primeiras ruas asfaltadas. A energia demorou muito a sair do racionamento. O motor de luz era a diesel. Havia um posto telefônico. Fazia fila para falar com parentes. Não havia segredo. Todo mundo ali apurado para que se desocupasse logo a cabine.

Cici foi meu companheiro de caminhada por muitos anos. Fizemos um grupo e lá pelas 5 horas da madrugada, já estávamos na rua, sempre nos encontrando ali perto da rodoviária nova, cabeceira da Avenida Tancredo Neves. Com o tempo, se juntaram mais dois inseparáveis companheiros – o Afonso e o Rei do Pano. Na madrugada o som vai longe, a gente pensa que não, mas vai. E Cici sempre liderava. Puxava assunto, contava casos, a gente sorria demais, não via o tempo passar e nem a quilometragem.

Ali, colado no Hospital do Governo, tinha um boteco. Fim de semana a turma se ajuntava ali, depois dos bailes, tomava uns caldos, completava as doses de cachaça, o som era alto, forró mesmo pé-de-serra, os casais se agarravam por ali, dançando nas calçadas, não se incomodando nem com os doentes do hospital e nem com quem passasse na rua.
Falei com ele – Cici, como é que este pessoal aguenta, ficar na farra, noite inteira? Ele me respondeu, de imediato – “você está é morrendo de inveja”.


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