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O prefeito e a cozinha

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ColunistaConfucio Moura

 A velocidade da cozinha não é a mesma velocidade da sala. Foi assim, quando fui prefeito da cidade Ariquemes. Tive velocidades diferentes, alegrias diferentes, preocupações diferentes, ora à frente, ou por detrás. O desacerto é propriedade de quem vive e do próprio universo, que por si só, é caótico.

A cozinha do município, essencial, como toda cozinha é, aqui, neste caso, pública. Cozinhava para dois hospitais. Ela não aguentou uma inspeção da Vigilância Sanitária, velha, cheia de vazamentos, equipamentos danificados, panelas amassadas, quentíssima. Fiquei aflito. Não havia outra. Veio providencialmente, a cozinha espaçosa, ociosa, do Batalhão da Polícia Militar. Foi pra lá, a cozinha municipal.

Quem nos servia, com ambulância, por sorte, era o Corpo de Bombeiros. Acidentados, esfaqueados, queimados, doentes urgentes, emergentes, sempre ali, presentes. Como vivia de favor dos outros, autorizei o lanche para os plantonistas da PM e para os motoristas das ambulâncias. E o tempo foi passando.

O que era para ser breve, demorou um ano, dois anos, quase três. Na política, sempre atenta, a oposição tratou de denunciar. O prefeito com dinheiro da saúde, dando marmitas para policiais e bombeiros.

Foi passando o tempo, o processo foi aberto. Realmente, o denunciante tinha razão. Mas, também tinha a desrazão. Sem gasto nenhum para o erário municipal, sem aluguel, sem combustível para ambulância, sem o gasto com energia, haveria de minimamente, uma compensação, para quem nos servia tanto.

Qual o quê?

O processo tem também a sua velocidade. É lento. Cruel. Infeliz de quem se move no ritmo de um processo, porque ele é frio, não tem cheiro, não tem cor. Mas, ele segue – e tem a sua própria lógica. E o denunciado perde o seu próprio destino. A cozinha da prefeitura se arrastava, indo e vindo, o que era para ser rápido, se tornou indefinido.

Eu saí da prefeitura e esqueci do processo. E ele não esqueceu de mim. Foi andando, silencioso, na sua própria órbita. Quando de pronto veio a condenação. Um susto. Como um meteoro caído das profundezas cósmicas.

Por fim a sentença, plena e irreparável, uma multa em dinheiro. Paguei. Doeu no bolso. Doeu no coração. Doeu na minha alma. Doeu no fígado. O que ficou mais caro, as marmitas ou o processo?


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