Redação, Brasília 14 de julho de 2025 – A tensão no julgamento dos envolvidos na suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022 ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (14/7), quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), repreendeu com veemência o advogado Jeffrey Chiquini durante audiência de oitiva do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. A frase "Enquanto eu falo, o senhor fica quieto" ecoou no plenário e se tornou símbolo de um ambiente cada vez mais polarizado – dentro e fora das instituições judiciais.
O episódio levanta discussões não apenas sobre os limites do contraditório e da autoridade judicial, mas também sobre a condução do processo relacionado aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e as investigações sobre uma possível trama golpista liderada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O QUE ACONTECEU NA SESSÃO
A audiência desta segunda-feira teve início com o advogado Jeffrey Chiquini, que representa Filipe Martins — ex-assessor internacional de Bolsonaro — pedindo a palavra. Ele alegou que a defesa recebeu, poucos dias antes da oitiva, uma grande quantidade de documentos da Polícia Federal (PF), o que, segundo ele, teria prejudicado o direito à ampla defesa e exigiria o adiamento da sessão.
Moraes, que preside as instruções da ação penal no STF, não só indeferiu o pedido como o fez de forma enfática, afirmando que os documentos recebidos não compõem integralmente a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e que, portanto, não havia justificativa legal para adiar os depoimentos.
Quando o advogado tentou insistir, foi interrompido duramente pelo ministro:
“Enquanto eu falo, o senhor fica quieto”, disparou Moraes, encerrando a tentativa de interlocução e prosseguindo com a oitiva.
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CONFLITO ENTRE PRERROGATIVAS E CONDUTA NO PLENÁRIO
O episódio acendeu debates no meio jurídico sobre a tensão entre a autoridade de um ministro do STF e as prerrogativas constitucionais da advocacia. Advogados criminalistas ouvidos pelo Metrópoles e por nossa reportagem afirmam que a atuação de Moraes, embora respaldada por sua função de presidente da audiência, pode representar um problema do ponto de vista do respeito ao contraditório.
Segundo o advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho (ex-secretário nacional de Justiça), “há um limite tênue entre manter a ordem da audiência e tolher o direito de defesa”.
Por outro lado, juristas ligados ao Ministério Público e à magistratura apontam que a condução firme de Moraes é necessária, sobretudo em um processo com dezenas de réus, testemunhas e pressões políticas extremadas.
O CONTEXTO: JULGAMENTO DA “MINUTA DO GOLPE”
A audiência fazia parte da instrução do processo em que Filipe Martins, Mauro Cid, e outros membros do núcleo militar e político do entorno de Bolsonaro respondem por participação em um suposto plano de golpe de Estado. As acusações envolvem:
- A elaboração de uma minuta de decreto de Estado de Defesa para contestar o resultado das eleições de 2022;
- A tentativa de instrumentalizar as Forças Armadas para anular o pleito;
- O monitoramento irregular do sistema judiciário e a tentativa de desacreditar as instituições democráticas.
Na mesma sessão, Mauro Cid confirmou novamente que Bolsonaro foi o responsável direto pela redação da minuta, e que a intenção era criar uma base jurídica para a intervenção militar.
ANÁLISE: UM PROCESSO JUDICIAL OU UM EMBATE POLÍTICO?
A maneira como o STF — em especial Alexandre de Moraes — tem conduzido os processos relacionados ao 8 de janeiro e à suposta tentativa de golpe tem gerado críticas recorrentes de setores da direita, que acusam o tribunal de agir com viés político.
Ao mesmo tempo, os ministros têm sido firmes em defender que a democracia foi colocada em risco real, e que a resposta do Judiciário precisa ser proporcional à gravidade dos fatos.
Para analistas, o embate verbal entre Moraes e o advogado não é um evento isolado, mas sim reflexo de um ambiente institucional saturado, no qual o STF não apenas julga, mas atua também como pilar de contenção da erosão democrática no Brasil.
REPERCUSSÃO
O vídeo do momento circulou nas redes sociais e se tornou trend no X (antigo Twitter) com hashtags como #MoraesAutoritário e #DefesaSilenciada. Parlamentares bolsonaristas criticaram a atitude do ministro, classificando-a como "desrespeito à advocacia". Já aliados do governo defenderam a postura de Moraes como necessária para manter a ordem diante do que chamam de "manobras protelatórias" das defesas.
O presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti, afirmou em nota que “a Ordem analisará o episódio com atenção”, sem tomar partido imediato.
CONCLUSÃO
O embate entre Alexandre de Moraes e o advogado de Filipe Martins escancara as tensões que dominam os processos sobre os ataques à democracia brasileira. Mais do que um episódio pontual, trata-se de um reflexo do momento político-judicial que o país atravessa — onde cada gesto em um tribunal ecoa nas trincheiras de uma sociedade ainda polarizada, e onde os ritos jurídicos se misturam com disputas de narrativa e poder.
durante audiência de oitiva do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. A frase "Enquanto eu falo, o senhor fica quieto" ecoou no plenário e se tornou símbolo de um ambiente cada vez mais polarizado – dentro e fora das instituições judiciais.
O episódio levanta discussões não apenas sobre os limites do contraditório e da autoridade judicial, mas também sobre a condução do processo relacionado aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e as investigações sobre uma possível trama golpista liderada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Fonte: noticiastudoaqui.com