GUARDIÕES DA NATUREZA - Quilombos titulados desmatam até 55% menos em países da Amazônia, aponta estudo

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Os territórios quilombolas – quilombos – em quatro países amazônicos podem ser, agora, oficialmente considerados como guardiões da floresta – fenômeno similar ao que já acontece nos territórios indígenas. Estudo inédito da organização Conservação Internacional, publicado dia 22 na revista Communications Earth and Environment, do grupo Nature, revela que o desmatamento em territórios afrodescendentes titulados no Brasil, Colômbia, Equador e Suriname, têm taxas de 29% a 55% menores do que áreas similares.

“Os povos afrodescendentes das Américas serviram por muito tempo como guardiões do meio ambiente sem reconhecimento nem compensação, inclusive, a maioria de seus territórios nem sequer está formalmente reconhecida”, lamenta Martha Cecilia Rosero Peña, Ph.D., diretora de Inclusão Social na Conservação Internacional. “No entanto, a evidência é indiscutível; o mundo tem muito a aprender com suas práticas de gestão territorial”.

O estudo compara quilombos titulados de todos os biomas dos quatro países latinoamericanos com áreas parecidas, exceto territórios indígenas. “São áreas fora dos territórios quilombolas que apresentam características mensuráveis semelhantes, incluindo cobertura florestal inicial, uso e proteção da terra, tempo de viagem até cidades, elevação, entre outros”, explica Sushma Shrestha, diretora de Ciência Indígena, Pesquisa e Conhecimento na Conservação Internacional e principal autora do artigo. 

No Brasil, apenas 4,3% da população quilombola reside em territórios titulados segundo dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população total quilombola do país, o que inclui territórios não titulados, é de 1,32 milhão de pessoas, ou 0,65% do total de brasileiros.

De acordo com o levantamento da Conservação Internacional, além do desmatamento menor, esses territórios latinoamericanos têm maiores quantidades tanto de biodiversidade quanto de carbono irrecuperável (o carbono armazenado em ecossistemas naturais que, se perdido, não pode ser recuperado em menos de 30 anos).

Mais da metade dessas terras (57%) estão entre os 5% de áreas mais biodiversas do planeta – no Equador, esse índice chega a 99%. Ao todo, esses territórios quilombolas armazenam mais de 486 milhões de toneladas de carbono irrecuperável, o que torna sua preservação, sob gestão das comunidades, essencial para prevenir os efeitos mais graves das mudanças climáticas.

O artigo é a primeira pesquisa que combina dados estatísticos, espaciais e históricos para quantificar o papel dos povos afrodescendentes na proteção da natureza. A pesquisa é publicada após o reconhecimento formal do ano passado pela Convenção sobre Diversidade Biológica na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), sobre o papel vital que pessoas afrodescentes possuem na conservação da biodiversidade e nas metas de conservação global.


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