
Os rachas internos no clã Bolsonaro tornaram-se mais visíveis após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que completa 10 dias em uma cela da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. A condenação a mais de 27 anos de prisão pela trama golpista tira o líder da família do jogo eleitoral, enquanto a esposa, Michelle Bolsonaro, e os quatro filhos mais velhos entram em fogo cruzado pelo espólio político da família.
A tensão entre os Bolsonaro ficou pública após o último fim de semana, quando Michelle Bolsonaro criticou a aproximação do diretório do Partido Liberal no Ceará com Ciro Gomes (PSDB), durante um evento partidário em Fortaleza (CE).
No discurso, Michelle repreendeu os aliados locais pela tentativa de aproximação com o ex-governador de Ceará, que já anunciou a candidatura ao cargo nas eleições do próximo ano.
“É sobre essa aliança que vocês [PL-CE] se precipitaram a fazer. […] Fazer aliança com o homem [Ciro] que é contra o maior líder da direita, isso não dá. […] A gente quer pacificar, quer ter a unidade, e a gente vê que a pessoa [Ciro] não levanta a bandeira branca. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como, não existe mais essa”, disse Michelle.
A fala da ex-primeira-dama contradizer diretamente o anúncio feito pelo deputado federal André Fernandes (PL-CE), presidente da sigla no estado, inflamou os dirigentes locais e expôs tensões internas no partido. No fim de outubro, Fernandes afirmou que Jair Bolsonaro havia dado aval ao apoio do PL à candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará.
Após o evento, André Fernandes rebateu Michelle.
“A esposa do ex-presidente Bolsonaro vem e tenta chegar aqui e dizer que a gente fez uma movimentação errada, sendo que o próprio presidente Bolsonaro, no dia 29 de maio, com parlamentares, pediu para a gente ligar para Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que nós apoiaríamos Ciro Gomes”, declarou à imprensa.
A repercussão, porém, foi ainda mais ruidosa entre os filhos de Bolsonaro. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a repreender a madrasta. Ao Metrópoles, por meio da coluna de Igor Gadelha, o senador afirmou que a fala de Michelle foi “autoritária e constrangedora.”
“A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”, disse o filho mais velho de Jair Bolsonaro à coluna.