Filho de Lula recebeu mesada do ‘careca do INSS’, diz testemunha em depoimento




A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS recebeu da Polícia Federal indícios de que Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, manteve proximidade e possível sociedade empresarial com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, preso desde 12 de setembro de 2025 por envolvimento no maior escândalo já identificado de fraudes contra beneficiários da Previdência. As informações foram reveladas pela repórter Mariana Haubert, no site Poder360, e confirmadas pelo portal Metrópoles.

Segundo depoimento prestado por Edson Claro, ex-funcionário de Antunes, Lulinha teria recebido do empresário quantias que chegam a R$ 25 milhões, além de uma espécie de “mesada” mensal de R$ 300 mil, sem especificação do período. A investigação também aponta que os dois realizaram viagens juntos a Portugal. As declarações de Edson foram prestadas em 29 de outubro de 2025 e chegaram aos parlamentares da CPMI por meio da Polícia Federal. Em 2 de outubro, uma tentativa de convocação de Edson para depor foi barrada por pressão da base governista, alinhada ao Palácio do Planalto.

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O filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vive atualmente na Espanha. A reportagem procurou seu ex-advogado, Marco Aurélio Carvalho, que classificou as acusações como “pirotécnicas e improváveis”. Não há até o momento comprovação formal dos pagamentos ou do vínculo societário, mas os dados entregues à CPMI incluem conversas por WhatsApp, menções a Lulinha como “nosso amigo”, registros de ingressos e trocas de mensagens sobre sua suposta ligação com os negócios do “Careca”.

Parte da suspeita recai sobre a empresa World Cannabis, com sede no Brasil e ramificações em Portugal, EUA e Colômbia. A empresa, oficialmente voltada à venda de cannabis medicinal, teria sido usada para lavar recursos desviados do INSS. A World Cannabis tem como razão social a Camilo Comércio e Serviços S/A (CNPJ 50.442.926/0001-05) e está registrada em Brasília, com Antunes como sócio formal.

Além de Fábio Luís, também são investigados nomes ligados ao Partido dos Trabalhadores. Um relatório de inteligência financeira (RIF nº 133.609), produzido pelo Coaf, revela que Ricardo Bimbo Troccolli, atual secretário nacional de Ciência e Tecnologia da Informação do PT e proprietário da empresa Datacore Informática, recebeu R$ 11,1 milhões de associações envolvidas no esquema de descontos fraudulentos. O mesmo relatório mostra que ele pagou boletos em nome de João Muniz Leite, antigo contador da família Lula.

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Outro ponto de atenção envolve a relação de Lulinha com Roberta Moreira Luchsinger, que aparece em mensagens tratando com o “Careca” sobre formas de esquentar dinheiro supostamente oriundo das fraudes. Conversas entre os dois indicam uma atuação conjunta classificada pela PF como “atuação societária” e potencial tráfico de influência. A CPMI também identificou diversos trechos em que Roberta e Lulinha realizaram viagens com os mesmos códigos localizadores de passagem, entre 2024 e 2025, incluindo destinos como Lisboa, Brasília e São Luís.

As investigações seguem sob ritmo lento. Um setor da Polícia Federal defende o aprofundamento das apurações, enquanto outra ala resiste a adotar medidas mais incisivas diante da fragilidade dos indícios até agora reunidos. O entendimento que prevalece, por ora, é o de que não há ligação direta de Fábio Luís com o esquema de descontos associativos, embora a proximidade com os principais nomes envolvidos tenha levantado preocupações internas.

Há suspeitas entre parlamentares de que o Planalto tenha sido informado antecipadamente pela Polícia Federal sobre o nome de Lulinha constar nos materiais apreendidos, o que teria motivado esforços para blindá-lo politicamente. Se confirmada a antecipação de informações, essa conduta poderá abrir uma nova linha de investigação, já que não é permitida a comunicação prévia entre órgãos investigativos e o Executivo em casos dessa natureza.

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A base legal para a investigação encontra respaldo em decisões anteriores do Supremo Tribunal Federal. Em 2017, por exemplo, o ministro Roberto Barroso autorizou a abertura de inquérito contra o então presidente Michel Temer com base apenas em indícios preliminares.

Por fim, a relação entre Lulinha, Roberta e o “Careca do INSS” se fortaleceu no fim de 2024, período em que o esquema de fraudes atingiu valores recordes. Contratos de consultoria e pagamentos de mais de R$ 1 milhão a Roberta por parte de Antunes foram identificados, sem justificativas técnicas ou operacionais documentadas.



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