“Congresso não vai perdoar se governo recorrer ao STF”



Calma lá! Não é de minha lavra o despautério aí de cima. Quem disse isso foi o imortal Merval Pereira, 75 anos, presidente da ABL e colunista de O Globo. Reproduzo o título de seu artigo de sexta-feira mais pelo que sugere do que efetivamente diz. É como uma ameaça de Benjamim Netanyahu aos sobreviventes famélicos da faixa de Gaza: - “Fiquem quietos, pois tudo pode piorar”.

Merval Pereira não conseguiu refrear o que parece ser a sedução de imortalizar-se como “imorrível”, à semelhança daquele outro, que somente passa a merecer citação a partir da sentença condenatória no STF. O colunista ainda vaticinou: - “É difícil, quase impossível que o Congresso volte atrás, pela maneira como foi feita e com a vitória avassaladora. A única maneira é a negociação de um corte de gastos”.

Claro que ele não diz onde cortar, mas pensa claramente no óbvio: começa pelo congelamento do salário mínimo, aposentadorias, bolsa família e benefícios sociais. Além da sempre presente desvinculação da saúde e educação. E o Imposto de Renda fica como está! Que negócio é esse de isenção para quem recebe até R$ 5 mil? Querem destruir o país? Nem ao menos lhe ocorre a possibilidade de cobrar IR dos ricos, que hoje pagam 2,5%, enquanto uma pessoa que ganha R$ 4 mil paga 15% de imposto, e quem recebe R$ 5 mil, 22,5%.

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Ajusta-se aqui, à perfeição, ao pensamento do presidente do “clube dos imortais” a resposta do jovem poeta Antero de Quental a um crítico já avançado em anos, por uma observação tola sobre a geração de novos poetas: - "Levanto-me quando os cabelos brancos de v. ex.ª passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas cousas, que saem dele, confesso não me merecerem nem admiração nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. ex.ª precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão”.

Na verdade, o enfrentamento é a única alternativa que resta ao governo. Deputados e senadores não estão preocupados com a economia. Nem poderiam, pois todos os indicativos são favoráveis ao governo. E o país continua a crescer, mesmo com os juros nas alturas, com sucessivos recordes na queda do desemprego, inflação um pouco elevada, mas sob controle, e aumento real do salário mínimo bem acima da inflação.

O que apavora de verdade os nobres parlamentares é o STF, com destaque para o ministro Flávio Dino, por conta das emendas parlamentares. Já não é tanto pela perspectiva de acabar com a distribuição futura das emendas parlamentares. O que apavora mesmo é a investigação da PF das emendas passadas, considerável parcela das quais foi dirigida aos bolsos ávidos de suas excelências.

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Consta que estão sendo investigados, pela Polícia Federal, 82 “representantes do povo”, uma bancada expressiva. Por isso vão continuar a fustigar o governo, na esperança de que Lula controle seu ex-ministro da Justiça. Lula não tem esse poder. Dino não é Nunes Marques ou André Mendonça, os tais 20% da corte que Bolsonaro diz controlar.

Carlos Henrique

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