A PANDEMIA ACABOU? - Mesmo com flexibilizações, entenda por que ainda não é o fim da pandemia no Brasil
Vacinação desigual, número de mortes elevado e possibilidade de mutação do vírus preocupam especialistas ouvidos pelo R7
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Os anúncios de flexibilização de medidas não farmacológicas impostas pelos governos estaduais para conter a disseminação da Covid-19 pode passar a sensação de que a pandemia chegou ao fim no Brasil.
A média diária de mortes no país, no entanto, segue em torno de 500 pessoas. "Para termos uma ideia, comparada ao surto de influenza causado pela Darwin, que é bem contagiosa e forte, as pessoas foram internadas, a Ômicron continuou sendo algumas vezes mais letal do que a gripe com a nova variante", explica Soraya Smaili, professora de farmacologia da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo).
E acrescenta: "Ainda não chegamos nem próximo de uma gripe, sob o ponto de vista do número de mortes. O dia em que a letalidade da Covid chegar próximo ao nível [de letalidade] da gripe, poderemos falar que talvez tenhamos controlado a pandemia".
Vacinação desigual no Brasil
Alguns estados, como São Paulo, Pauí, Rio Grande do Sul e Paraná, têm mais de 75% da população com duas doses de vacina. Mas essa não é a realidade do Brasil. "Uma cidade pode afetar muitas outras cidades. Nem todos estão na mesma época da cobertura vacinal. Cada estado tem uma situação, porque não houve uma política nacional, um alinhamento para ser feita uma centralização nos calendários de vacinação. Não houve um trabalho conjunto dos estados, para homogeneizar a vacinação. Tem estados que estão na casa dos 50% de vacinados", alerta Soraya, que foi reitora da Unifesp de 2013 a 2021 e coordenadora do Centro SOU_Ciência.
"A gente ainda não pode abrir mão de medidas não farmacológicas, permitir aglomeração e eliminar o uso de máscara, dizer às pessoas que voltem a ter uma vida normal, porque a pandemia ainda não acabou. A terceira dose é importante. Então o Brasil tem que continuar a vacinação dos grupos vulneráveis que ainda não completaram o ciclo vacinal, as crianças de 5 a 11 anos, é disso que a gente precisa hoje, ter um controle ainda maior da circulação do Sars-CoV-2."
Falta de medicamentos disponíveis no Brasil
A circulação do vírus segue por aqui, portanto ainda existe a possibilidade de a pessoas serem contaminadas pelas formas mais graves da doença.
A falta de medicamentos antivirais disponíveis tanto no SUS (Sistema Único de Saúde) quanto na rede suplementar de saúde é mais um fator de preocupação. Faz com que não seja possível comparar a situação pandêmica do Brasil com a de outros países.
"Eles têm acesso a medicamentos que não temos nesse momento, como o paxlovid e outros. São remédios que podem ajudar quem desenvolve a doença [de forma] grave. Esses medicamentos são importados e custam uma fortuna. Alguns hospitais importam [esses produtos], mas é a minoria que vai ter acesso a esses tratamentos", explica Soraya Smaili.
Possibilidade de novas variantes
O fato de o Sars-CoV-2 manter ritmo alto de transmissão não só no Brasil como no mundo, e em alguns países de forma mais acentuada devido à falta de vacinas, sugere que o fim da pandemia ainda está longe – uma vez que é possível o surgimento de novas variantes do vírus.
Na última quarta-feira (9), a OMS (Organização Mundial de Saúde) alertou sobre as evidências de uma nova cepa chamada Deltacron, derivada da combinação entre a Delta, surgida na Índia e detectada pela primeira vez em outubro de 2020, e a Ômicron, que apareceu na África do Sul e foi reconhecida a primeira vez em novembro de 2021.
"Quando se acha que está controlando [a pandemia], [que ela está] diminuindo, fica todo mundo feliz, e vem uma nova onda, a gente já viu isso acontecer", lembra Monica Levi.
A transmissão ativa e a volta de feriados prolongados, como o da última semana, pedem cautela. "Acabamos de sair de um feriadão. Pode não ter tido Carnaval em muitos lugares, mas em alguns lugares teve. Além do que, houve aglomerações, as pessoas transitaram e ainda não sabemos quais serão os efeitos disso. É a ciência que tem de responder", finaliza Soraya.
A diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Monica Levi, alerta também sobre a importância de manter as medidas não farmacológicas.
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