OPINIÃO DE ANA PAULA HENKEL - As jacobinas do basquete brasileiro
Em tempos em que opinar contra o manual progressista virou crime hediondo, o pescoço de Diego foi colocado nas lâminas das nossas revolucionárias de boutique
“Liberté, Égalité, Fraternité” (“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”) é um lema que se originou durante a Revolução Francesa, encapsulando os ideais revolucionários da época. Representava uma ruptura radical com a monarquia e o sistema feudal do antigo regime, defendendo uma sociedade fundada em direitos iguais, liberdades pessoais e virtude cívica. Durante a Revolução, o lema foi amplamente utilizado em discursos e escritos, expressando o desejo de acabar com os privilégios aristocráticos e estabelecer uma nova ordem social.
Embora tenha se popularizado durante a Revolução, “Liberté, Égalité, Fraternité” não foi imediatamente adotado como lema oficial da França. Foi apenas com a instauração da Terceira República, em 1870, que o lema foi oficialmente reconhecido e consagrado como símbolo nacional. Desde então, tem sido incorporado na Constituição francesa e se tornou uma parte central da identidade nacional.
Hoje, “Liberté, Égalité, Fraternité” aparece em moedas, edifícios governamentais e documentos oficiais da França. O lema continua a ser uma expressão poderosa dos valores fundamentais da República Francesa e é frequentemente invocado em discussões sobre direitos humanos e justiça social. Reflete as aspirações do povo francês por uma sociedade onde as liberdades individuais são respeitadas, todos são tratados igualmente perante a lei e prevalece um sentido de solidariedade e comunidade. Esse lema deveria lembrar constantemente o compromisso da nação com a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Sua gênese, no entanto, vem de uma revolução não muito virtuosa.
A Revolução Francesa foi um divisor de águas na história europeia moderna. Começou em 1789 e terminou no final da década de 1790, com a ascensão de Napoleão Bonaparte. Durante esse período, Maximilien Robespierre, o arquiteto do Reino do Terror da Revolução, encorajou a execução dos inimigos do movimento que prometeu liberdade, igualdade e fraternidade.
O rei Luís XVI, condenado à morte por alta traição e crimes contra o Estado, foi enviado à guilhotina. Sua esposa, Maria Antonieta, teve o mesmo destino nove meses depois. Após a execução do rei, a guerra com várias potências europeias e intensas divisões ideológicas conduziram a Revolução Francesa à sua fase mais violenta e turbulenta. Em junho de 1793, os jacobinos tomaram o controle da Convenção Nacional dos girondinos mais moderados e instituíram uma série de medidas radicais, incluindo o estabelecimento de um novo calendário e a erradicação do Cristianismo. Aqui foi desencadeado o sangrento Reino do Terror, um período de dez meses em que os inimigos suspeitos da revolução foram guilhotinados aos milhares.
Guardadas as devidas proporções, é praticamente impossível não visitar esse bárbaro período da história mundial para abordar o que aconteceu na última semana com Diego Falcão, preparador físico da seleção brasileira de basquete feminino, que foi demitido de seu posto por expressar publicamente sua opinião sobre o aborto.
Em suas redes sociais, Falcão declarou apoio ao Projeto de Lei nº 1.904/2023, que visa a alterar o Código Penal para equiparar o aborto em gestações acima de 22 semanas ao crime de homicídio:
“Qualquer país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar qualquer violência para conseguir o que deseja”, opinou o profissional do esporte.
Opinião? E contra o aborto? Não pode, Diego. Perdeu a cabeça? Bem, sim.
Falcão foi guilhotinado pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB) após pressão de um grupo de jogadoras — as jacobinas do basquete brasileiro — que entraram em campo para tirar de circulação aquele que ousou ir contra a cartilha abortista da turma do amor. Em tempos em que opinar contra o manual progressista virou crime hediondo, o pescoço de Diego foi colocado nas lâminas das nossas revolucionárias de boutique.
A atleta da WNBA Damiris Dantas, preocupadíssima com o “direito” das mulheres de poder matar bebês no ventre das mães, mas não com o direito à vida de meninas, postou em suas redes sociais:
“Inacreditável que um profissional, que trabalha com o feminino, demonstre esse tipo de posicionamento nas redes sociais. O estupro é um crime grave. Que as mulheres tenham o direito de decidir e expressar sua opinião sobre isso. É essencial que nossa confederação se posicione de forma clara e adequada a esse assunto tão sério.”
Damiris, além de dizer a obviedade de que estupro é um crime grave, mostra preocupação com o direito das mulheres de se expressar. E não basta apenas silenciar um homem que se preocupa com o primeiro direito de qualquer mulher. Contra aqueles que pecam contra a agenda, é preciso mostrar às multidões toda a hipocrisia em defender a liberdade de expressão apenas para quem pensa como os jacobinos. Pelo “direito de matar bebês com cinco meses de gestação”, é preciso tentar destruir o nome e a reputação dos inimigos da nefasta agenda. Tudo em nome do amor, claro.
A Confederação Brasileira de Basquete foi incapaz de pairar acima das agendas políticas e mostrar liderança. Seitas ideológicas cobram pedágio, e a CBB pagou o seu para ser poupada
O que aconteceu com Diego Falcão se tornou o novo normal no debate público. E não pode — em hipótese alguma — ser aceito por nós. Esse é mais um caso destes tempos em que a intolerância e o rancor são impostos à sociedade com violência cada vez maior pelos movimentos ditos “progressistas”. O linchamento virtual, a pressão para que qualquer um contra as opiniões autorizadas seja expurgado de qualquer debate e de seus campos profissionais, vai além do pagamento de pedágio ideológico — mostra uma covardia digna dos sistemas totalitários que o mundo já testemunhou em sua história. Diego não fez nada além de exercer o direito constitucional à expressão do seu próprio pensamento.
A decepção com as jogadoras, covardes e autoritárias, só não é maior do que o desapontamento com a Confederação Brasileira de Basquete, que deveria ter sido o adulto na sala. A CBB não aguentou a pressão das guilhotinas chegando à praça pública virtual e se curvou para beijar os anéis das supostas rainhas do pedaço e suas cartilhas abortivas. O desligamento de Diego da seleção brasileira marcou pontos gloriosos com a audiência cativa dos cancelamentos, o aplauso fácil veio instantaneamente, e a instituição não protegeu a espinha dorsal do esporte como um todo: a verdadeira igualdade — a presença conquistada de cada membro em um time baseada em sua competência técnica, e não em opiniões, credos, orientação sexual ou qualquer outra vertente da vida social de cada pessoa que não seja pertinente ao seu exclusivo desempenho como profissional. A Confederação Brasileira de Basquete foi incapaz de pairar acima das agendas políticas e mostrar liderança. Seitas ideológicas cobram pedágio, e a CBB pagou o seu para ser poupada.
Recentemente, o psicólogo canadense e grande pensador contemporâneo Jordan Peterson esteve no Brasil. Peterson também já sofreu inúmeras tentativas de assassinato de sua reputação por parte dos “jacobinos do bem”. Para isso, ele tem o seguinte conselho: “Nunca se ajoelhe a uma multidão sedenta de sangue. Você não está lidando com pessoas com quem pode restabelecer um relacionamento. Você está lidando com uma ideia sem alma que possui pessoas”.
E foi isso que Diego fez. Agarrou-se em seus princípios inegociáveis e não cedeu. E um exército se levantou para aplaudi-lo. Os seguidores em suas redes sociais, que antes do episódio eram em torno de 20 mil, hoje já somam mais de 500 mil apoiadores. Nesta semana, o atual técnico da seleção feminina de basquete, José Neto, parceiro profissional e amigo de Diego Falcão há 17 anos, pediu demissão em solidariedade ao amigo. Glória aos homens de coragem que não sucumbem diante da maldade dos covardes. Salve, José Neto!
Na última quarta-feira, 26, Diego Falcão deu uma longa entrevista ao programa Oeste Sem Filtro e disse que, como um católico apostólico romano e contra o aborto, ficou preocupado com a censura:
“Hoje sou eu, amanhã pode ser você a ser retirado por uma liberdade de expressão. E isso me preocupa porque é censura. Sei que existem pessoas responsáveis pela minha demissão, mas me calar, nunca. Censura não pode, o Brasil é um país democrático. Fica aqui a minha tristeza, foi quebrado um objetivo, um sonho de medalha olímpica. A intolerância venceu o esporte, mas vamos seguir.”
Milhares das mortes na guilhotina durante a Revolução Francesa aconteceram sob as ordens de Robespierre. No entanto, o francês revolucionário, que queria impor suas ideias com violência e brutalidade, jamais imaginou que seus métodos alcançariam exatamente o seu pescoço. Robespierre foi executado em 28 de julho de 1794.
A Revolução Francesa se tornou modelo para outras revoluções nos séculos seguintes. Como ela, esse tipo de revolução consome seus próprios filhos.
Diego Falcão e José Neto, vocês são gigantes. Filhos de Deus e de princípios inegociáveis, não de revoluções bárbaras cobertas de sangue. Sejam elas em 1790, ou em 2024.
(revistaoeste)
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