A mobilização dos torcedores é sempre um marco, mas, por medidas de segurança, em 2025 o Ministério Público determinou diversas ações, inclusive disciplinares para coibir práticas ilegais.
O clima do 58º Festival Folclórico de Parintins é de pura emoção nas imediações do Bumbódromo. Diversos torcedores apaixonados dos bois Caprichoso e Garantido iniciaram os tradicionais acampamentos nas laterais da arena ainda no meio do mês, dando início à intensa disputa por um lugar privilegiado nas arquibancadas destinadas à Galera, item 19 da competição, e um dos mais vibrantes do festival.
A mobilização dos torcedores é sempre um marco, mas, por medidas de segurança, em 2025 o Ministério Público do Amazonas (MPAM) determinou ações disciplinares para coibir práticas ilegais, como a ocupação antecipada de espaços públicos e até mesmo a venda de lugares nas filas.
No domingo (22), após os anúncios das medidas, cadeiras, caixotes, tendas improvisadas e inclusive pichações em calçadas foram removidas. “O objetivo é garantir um festival mais seguro e acessível para todos, tanto para a população local quanto para os visitantes. A partir do diálogo entre os órgãos, conseguimos alinhar medidas para evitar abusos e preservar o caráter popular do evento”, explicou o promotor Ricardo Mitoso.
O MPAM anunciou que a formação oficial de filas passa a ser permitida apenas a partir das 10h do dia 27 de junho, primeiro dia do embate entre os bumbás. A estrutura de apoio às filas foi instalada no dia 25 de junho.
Antes da medida
Cerca de 15 dias antes de oficializar a medida de segurança, ambos lados do Bumbódromo já estavam sendo ocupados por torcedores que buscam um lugar nas galeras. Grupos estavam organizados em esquema de revezamento.
Entre histórias de sacrifício, camaradagem e paixão, todos compartilham um objetivo comum: viver o festival de dentro, como parte essencial do espetáculo, vivenciando a experiência de ser um item que ajuda um dos bois a ser campeão.

Wilson Medeiros era um desses torcedores que estavam na maratona da fila. Integrante de um grupo com 58 pessoas, ele participa da mobilização no lado azul.
“Estou bem ansioso, pois é a primeira vez que venho. Tem amigos que já participaram antes, então fico mais tranquilo. A gente reveza e vai se ajudando”, contou. O grupo inclui até colegas de Manaus, que, mesmo de longe, colaboram com doações para alimentação. “É uma força tarefa feita por pessoas que amam o Caprichoso”, destacou.
O grupo de Yasmin Guimarães, veterana na fila do Caprichoso desde 2019, chegou com antecedência: no dia 17, até então pegando o tão sonhado “primeiro lugar” na fila. O grupo que ela faz parte é ainda maior: cerca de 80 integrantes. Até então o coletivo mantinha um rígido esquema de revezamento e convivência harmoniosa.


Garantido também marcava presença
Do lado encarnado, o cenário era semelhante. Mara Amaral, artesã e aderecista do boi Garantido, chegou com seu grupo no dia 16. E, apesar da antecedência, não garantiram a primeira posição na fila.
A expectativa do grupo era conseguir um bom ponto de vista na arquibancada. “A gente quer ver o espetáculo de frente, porque o ângulo muda tudo. E com fé em Deus, esse ano o título desce pro lado vermelho”, afirmou confiante.
O grupo de Mara conta com cerca de 20 pessoas, muitas de Parintins e outras ainda a caminho, como primas que chegam de Manaus. A rotina incluía revezamento entre os que dormem e os que ficam durante o dia, além de um esquema para garantir lugar nas três noites de apresentação.
“Uns assistem uma noite, outros seguram a vaga pra próxima. Sempre foi assim”, explicou Mara, que também destacou o apoio de moradores locais, que cederam espaço para proteção contra o sol forte.


Luiz explica que o grupo também participa de forma organizada, sob orientação do “comando” do boi, responsável por coordenar a distribuição de adereços e coreografias. Na última noite, todos se unem: “É o grande final. Vai todo mundo junto, com o coração acelerado e a certeza de que todo o esforço valeu a pena”.

Mesmo após recomendação do MPAM, muitos seguem acampados no local. Yasmim, por exemplo, segue revezando com seu grupo. “Estamos aqui porque amamos o nosso boi e queremos ter uma melhor visão do espetáculo que está sendo preparado. Não estamos aqui para vender o lugar, não”, afirmou.
Na Galera encarnada, Maria Eduarda Xavier, que chegou no dia 17, também segue com os amigos no local. “A gente veio como Item 19, pra torcer. Vai acabar prejudicando quem está aqui de verdade. A maioria acha que é pra vender, mas estamos entre amigos, ninguém vende pra ninguém ficar pra trás”, disse a torcedora.
*Com a colaboração de Clarissa Bacellar, do Portal Amazônia, e Patrick Marques e Matheus Castro, do g1 Amazonas