A vitória brasileira sobre o Quênia, que vive transição para a profissionalização sob comando de um técnico brasileiro, ressaltou o espírito olímpico do torneio
![]() |
O Brasil não chegou em Tóquio como o grande favorito ao ouro no vôlei feminino dos Jogos Olímpicos. Mas a renovada Seleção Brasileira se fortaleceu diante da lesão da levantadora Macris, assumiu a liderança do Grupo A após a vitória sobre a forte Sérvia e terminou a primeira fase do torneio invicta diante do Quênia, por 3 sets a 0 (parciais de 25/10, 25/16 e 25/8), nesta segunda-feira (2/8), na Ariake Arena, no Japão. O próximo desafio das brasileiras será pelas quartas de final, contra o Comitê Olímpico Russo, na terça-feira (3/8), às 21h.
As comandadas de José Roberto Guimarães entraram em quadra contra a seleção do Quênia já classificadas, mas o clima estava ainda mais leve com a volta da Macris às quadras. Após assustar a todos pela torção no tornozelo direito, a levantadora voltou ao time e participou do aquecimento com bola. Ela não chegou a atuar, mas a cena da jogadora no banco à disposição do Brasil trouxe alívio para os torcedores. Roberta a substituiu na distribuição de bola novamente em alto nível.
A partida ressaltou o espírito olímpico da competição. A única equipe africana na disputa do vôlei feminino em Tóquio voltou a participar dos Jogos Olímpicos após 17 anos, quando disputou os Jogos de Atenas-2004. Retorno com uma cara nova, a começar pelo técnico brasileiro Luizomar de Moura que assumiu o comando da seleção com a missão de desenvolver a modalidade que vive a transição para a profssionalização.
Luizomar encarou uma realidade completamente diferente no país que contava com apenas uma quadra profissional de vôlei. A maioria das equipes treinam e jogam em quadras de terra. Clube do Luizomar, o Osasco doou bolas e material de treinamento para elevar a preparação da seleção queniana. O resultado foi visto em quadra.
Transbordando alegria por estar em uma Olimpíada, as quenianas mostraram evolução técnica e tática e se despediram do torneio após alguns ralis contra a seleção bicampeã olímpica, principalmente no segundo set. Uma vitória que coroa essa experiência, que tornou-se ainda mais especial para a estreia de Luizomar nos Jogos Olímpicos após ter vivido um drama no início do ano. O treinador ficou 12 dias internado com covid-19 e comemorou a recuperação e a oportunidade de viver o sonho olímpico em Tóquio.
Com o time titular, o Brasil venceu com tranquilidade o primeiro set por 25 x 10. A parcial seguinte foi a mais disputada do duelo, terminando em 25 x 16. A partir do terceiro set, Zé Roberto aproveitou para dar rodagem ao time brasileiro colocando Rosamaria, Natália, Bia e Ana Cristina para atuarem. Sem dificuldade, as brasileiras fecharam a parcial em 25 x 8, mantendo os 100% de aproveitamento na competição.
“O melhor é jogar sério contra elas, jogar o nosso melhor exatamente para que elas evoluam. Até para que elas tenham esse parâmetro e fizemos isso”, disse Zé Roberto Guimarães, após a vitória brasileira. Do lado queniano, Luizomar se despediu das quadras da primeira Olimpíada dele com um abraço emocionado nas brasileiras Camila Brait, Natália e Tandara, atletas que ele tanto conhece pelos trabalhos junto no Osasco. “Há tempos atrás, eu falava para elas que, se trabalhassem sério, seriam atletas olímpicas. E estar nas Olimpíadas era um sonho meu também”, comentou o treinador, sobre a cena.
Em relação ao trabalho à frente da seleção queniana, Luizomar sai dos Jogos de Tóquio com uma sensação de esperança. “Lançamos uma sementinha e foi uma forma honrosa de viver o espírito olímpico. Espero que nas próximas edições dos Jogos Olímpicos, essas jogadoras quenianas não saiam da competição reconhecidas apenas pela alegria de competir, mas por aturem de forma mais competitiva também”, disse.
(Correio Braziliense)