
Reportagem de Mary Anastasia O’Grady aponta possível inserção indevida de dados por infiltrado em sistema de imigração dos EUA; documento estaria sendo usado por Alexandre de Moraes em inquérito no STF
Redação, 28 de julho de 2025 — Uma reportagem publicada neste domingo (27) no influente jornal norte-americano The Wall Street Journal levanta sérias dúvidas sobre a veracidade de registros de imigração atribuídos a Filipe Martins, ex-assessor especial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a jornalista Mary Anastasia O’Grady, colunista veterana da publicação e especializada em América Latina, documentos do Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) dos Estados Unidos teriam sido adulterados por um suposto infiltrado, com o objetivo de incriminar Martins em investigações conduzidas no Brasil.
A denúncia, se confirmada, coloca em xeque elementos usados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para embasar medidas cautelares contra Filipe Martins no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022.
A denúncia
O artigo de O’Grady cita fontes ligadas a agências de inteligência e segurança nos EUA que teriam identificado duas entradas supostamente falsas no sistema do CBP, atribuindo a Martins uma viagem a Orlando, na Flórida, em datas nas quais ele teria provas de que permaneceu no Brasil. A jornalista aponta que essas informações teriam sido usadas como evidência de contato direto com outros bolsonaristas investigados fora do país, sugerindo articulações internacionais para um plano de ruptura institucional.
No entanto, a colunista afirma que "agentes de dentro do próprio sistema norte-americano suspeitam de manipulação deliberada". Ainda segundo o WSJ, há indícios de que um funcionário com acesso privilegiado ao sistema do CBP possa ter inserido os dados fraudulentos a pedido de terceiros interessados em fortalecer o caso contra Martins no Brasil.
Repercussão no Brasil
O conteúdo da reportagem repercutiu imediatamente entre aliados do ex-presidente Bolsonaro, que vêm denunciando, sem apresentar provas, uma perseguição política por parte do STF. Filipe Martins, por meio de sua defesa, já havia negado ter viajado aos Estados Unidos no período mencionado nos registros e alegava manipulação de provas.
Em nota divulgada nesta manhã, a defesa de Martins afirmou que o artigo "corrobora o que a equipe jurídica vem sustentando há meses: que há elementos fabricados sendo usados de maneira abusiva para restringir a liberdade de um cidadão brasileiro sem qualquer condenação". O documento ainda pede que o Supremo revise as medidas cautelares com base na nova denúncia internacional.
STF e CBP não se pronunciam
Até o momento, nem o Supremo Tribunal Federal nem o Ministério Público Federal se manifestaram oficialmente sobre o teor da reportagem do Wall Street Journal. O CBP, por sua vez, não comentou o caso específico, mas, segundo a reportagem, iniciou uma investigação interna para apurar eventuais violações no sistema de controle de fronteiras.
Um novo front na crise institucional
A matéria do WSJ reacende o debate sobre o uso de provas internacionais em investigações sensíveis no Brasil e traz à tona questões sobre a confiabilidade de sistemas de cooperação entre autoridades brasileiras e americanas. A denúncia também adiciona um novo capítulo à já conturbada relação entre o STF e apoiadores do ex-presidente Bolsonaro.
Especialistas jurídicos ouvidos por veículos nacionais apontam que, caso seja comprovada a inserção fraudulenta dos dados, isso poderá gerar uma reação em cadeia, incluindo a revisão de medidas judiciais, abertura de investigação internacional e até um pedido formal de esclarecimentos ao governo norte-americano por parte das autoridades brasileiras.
A Procuradoria-Geral da República, pressionada por parlamentares bolsonaristas, deverá se manifestar nos próximos dias. Já o Itamaraty ainda não confirmou se acionará formalmente os canais diplomáticos com os EUA.
O caso evidencia o delicado equilíbrio entre cooperação internacional, soberania judicial e garantias individuais. A acusação de que registros oficiais de imigração possam ter sido manipulados por motivações políticas, se comprovada, abala não apenas a credibilidade das investigações brasileiras, mas também levanta um sinal de alerta sobre a vulnerabilidade de sistemas que deveriam operar com máxima integridade.
Enquanto isso, Filipe Martins continua sob medidas cautelares impostas pelo STF, aguardando os desdobramentos de um caso que pode se tornar um marco nas discussões sobre lawfare e justiça transnacional no Brasil.
Fonte: noticiastudoaqui.com