
Redação, 11 de julho de 2025 - Em meio à tensão diplomática provocada pelas novas tarifas comerciais dos Estados Unidos ao Brasil, o presidente norte-americano Donald Trump declarou nesta sexta-feira (11) que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — mas "não agora". Segundo ele, o atual governo brasileiro tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de forma "muito injusta", o que estaria dificultando qualquer diálogo imediato.
“Talvez em algum momento eu fale com ele [Lula]. Agora, eu não vou. Eles estão tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta. Ele é um bom homem. Eu o conheço bem. Eu negociei com ele. Ele era um negociador muito difícil, mas também muito honesto. E ele amava o povo do Brasil”, afirmou Trump, ao responder à jornalista Raquel Krähenbühl, correspondente da TV Globo em Washington.
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A declaração foi feita a caminho de um evento no Texas, e reforça a leitura de que as tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros têm um componente político, além do comercial. Trump ainda destacou a relação próxima que teve com Bolsonaro durante seus mandatos, classificando-o como “honesto” e “patriota”.
“Eu conheço os honestos e conheço os corruptos. Bolsonaro é um dos honestos”, acrescentou o republicano.
Impasse nas relações diplomáticas
Essa é a primeira manifestação direta de Trump sobre uma possível conversa com Lula desde a crise tarifária iniciada no começo do mês. Até então, as interações entre os dois governos vinham sendo conduzidas em nível técnico e diplomático, sem envolvimento pessoal dos chefes de Estado.
Trump, no entanto, deixou claro que não está disposto a conversar com Lula enquanto o ex-presidente Bolsonaro estiver, em sua visão, sendo alvo de perseguição por parte da Justiça brasileira. O republicano tem usado falas como essa para se aproximar da base conservadora no Brasil e reforçar sua aliança com líderes da direita internacional.
Governo Lula evita confronto direto
Em Brasília, o governo federal ainda não respondeu oficialmente às novas declarações de Trump. No entanto, interlocutores do Palácio do Planalto afirmam que a prioridade do Itamaraty é manter canais de diálogo abertos com os Estados Unidos e evitar que a tensão comercial se transforme em um impasse diplomático maior.
Apesar disso, o Planalto vê com preocupação a tentativa do governo Trump de condicionar a relação bilateral a temas de política interna brasileira — especialmente ao julgamento e prisão de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Exportadores pressionam por solução
A elevação das tarifas norte-americanas para 50% sobre as importações brasileiras já provocou reações de setores do agronegócio, indústria e comércio exterior. Entidades empresariais têm pressionado o governo por uma resposta estratégica — seja por meio de negociação direta, seja por recursos legais junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
A fala de Trump também repercutiu entre parlamentares da oposição. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) interpretaram a fala como mais um sinal de que o governo norte-americano endossa a narrativa de que Bolsonaro foi alvo de perseguição política, e que a crise pode ser revertida com mudanças internas no Brasil — como a aprovação da anistia aos presos do 8 de janeiro, tema que voltou a ser discutido no Congresso.
Próximos passos
Apesar da disposição em “conversar em algum momento”, Trump não sinalizou uma data ou canal formal para o contato com Lula. Por ora, a situação segue indefinida, e o Brasil continua sob o impacto comercial das novas tarifas — com danos já visíveis nas exportações e incertezas quanto ao futuro das relações com o maior parceiro econômico fora da América Latina.
Fonte: noticiastudoaqui.com