
A sabedoria popular costuma dizer que a esperança é a última que morre. Na minha singela interpretação, digo: mas morre.
É nesse dilema que vivemos quando o assunto é a pavimentação do trecho do meio da rodovia federal BR-319, inaugurada em 1976, fechada em 1988 e reaberta em 2015.
Não faz muito tempo, a ministra do meio ambiente, Marina Silva, anunciou a criação de um grupo interministerial para coordenar um estudo sobre a viabilidade da estrada e apresentar direções sustentáveis para a sua trafegabilidade.
Não quero dar uma de rasga-mortalha, aquela coruja que ao gritar anuncia a morte, mas quando não se quer fazer uma coisa, é só inventar um estudo ou a criação de um grupo. Quando são os dois juntos, é embromação na certa.
Já foram gastos cerca de 111,5 milhões de reais em estudos sobre a flora, fauna, arqueologia e epidemiologia em área afetada pela 319. Só na parte ambiental, o Denit diz que em dez anos foram gastos 80 milhões de reais em estudos para realização das obras. Essa grana toda incluiu um EIA-Rima, documento exigido para licenciamento dos trabalhos de pavimentação.
Cadê esses estudos? Não valem mais nada? E a responsabilidade administrativa de quem gastou 200 milhões de reais em estudos que não serviram para nada ou não trouxeram resultado?
Não acredito que a BR-319 venha a ter trafegabilidade digna até ano que vem. Só os novos estudos deverão durar oito meses. Neste mês foi publicado no diário oficial da União a contratação de uma empresa para iniciar os estudos, porém, o tempo não para.
Na semana passada, o senador Omar Aziz conduziu uma caravana pela BR, para ver de perto as dificuldades enfrentadas pelas populações que moram no entorno da estrada e o sufoco dos motoristas que por ali trafegam.
Com certeza, apenas confirmou o estado de abandono, com ausência de serviços públicos básicos e situação propícia para o domínio de todo tipo de crime.
Na contramão dos anseios dos povos do Amazonas e Roraima está um grupo reduzido de pseudo-ambientalistas, que defendem teses superadas, como a do santuário ecológico, para se contrapor à recuperação da BR-319.
São teorias trazidas dos Estados Unidos, que resultaram em dramas sociais perversos na Amazônia. Defender o isolamento do Amazonas do restante do país em nome da preservação ambiental é um equívoco profundo.
A dignidade humana e os direitos humanos de bem viver exigem o reconhecimento de 4,6 milhões de brasileiros que querem a saída e a entrada terrestre dos seus estados.
Que o Estado brasileiro garanta sustentabilidade ambiental e dê segurança às populações que moram no entorno da rodovia.
Hoje, somente o crime organizado está por lá.