Moradores do Complexo da Penha retiraram mais de 50 corpos de área de mata e os levaram à praça São Lucas, após a operação policial mais letal da história do Rio. Famílias denunciam execuções, com vítimas feridas na nuca e nas costas. Governo ainda não comentou o novo balanço
Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levaram na madrugada desta quarta-feira (29) mais de 50 corpos para a praça São Lucas, na comunidade.
Eles foram localizados na mata entre os complexos do Alemão e da Penha, onde foi realizada a operação mais letal da história do estado, nesta terça (28).
Segundo os números oficiais, a ação deixou ao menos 64 pessoas mortas e 81 foram presas. Entre os mortos há quatro policiais.
A advogada Flávia Fróes, que acompanha a retirada dos corpos, afirma que alguns deles têm marcas de tiros na nuca, facadas nas costas e ferimentos nas pernas.
Defensores de direitos humanos pediram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos a presença de interventores e peritos internacionais no Rio. A advogada chama a ação policial de "o maior massacre da história do Rio de Janeiro".
Os corpos são retirados da caçamba de um carro com a ajuda de moradores de rua. Crianças estão presentes e, uma delas, um menino de cerca de 9 anos, ajudou na remoção do carro.
Um dos corpos estava sem cabeça, que foi trazida dentro de uma sacola. Aos familiares, um dos homens que ajudava na remoção gritou "é um de cabelo vermelho". As mãos do cadáver estavam fechadas, segurando grama.
Enfileirados, os corpos estão cercados de moradores, que tentam identificar familiares e amigos. Uma senhora gritava: "polícia assassina, cadê meu filho?"
A mãe de um dos mortos, um jovem de 20 anos, diz que encontrou filho com o pulso amarrado, na mata: "Dava tempo de socorrer", afirmou.
Ao lado dos corpos, mulheres choraram e se abraçaram após reconhecer alguns dos mortos, na manhã desta quarta. "Meu filho", disse uma delas, em prantos.
Rodeados de fotógrafos e cinegrafistas, todos os corpos foram descobertos por volta das 7h. Segundo o ativista Raull Santiago, a exposição foi um pedido dos familiares, para mostrar o estado em que as pessoas foram encontradas.
"Uma cena que entra para a história de terror do Brasil", disse. De acordo com ele, os corpos encontrados na mata durante a madrugada não estão na contagem oficial de 64 mortos. O governo estadual ainda não se pronunciou sobre esse novo fato.