PORTO VELHO – Água, esgoto e canais desafiam governos há 100 anos
Com 518 mil habitantes e edificações modernas, Porto Velho tem somente 33% das moradias abastecidas com água tratada e 3% atendidas com esgotamento sanitário.
Há mais de um século essa situação pede solução, desafiando poderes executivo e legislativo, governos e gestores a tirar a Capital da lista das“piores cidades para se viver no Brasil”.
A falta de água tratada e a ausência de esgotamento sanitário impõem duras condições de vida aos habitantes da cidade.
Neste período do alto verão, com temperaturas acima de 35 graus, poços amazônicos secos e os artesianos com baixo volume, além de não contar com água tratada, obriga a população a consumir o líquido com altíssimos índices de contaminação.
Historicamente, poderes públicos e políticos relegam esses dois serviços essenciais que afetam gravemente a saúde pública.
GASTO INVERSO
Para cozinhar e matar a sede, todos, do pequeno ao grande, são obrigados a comprar água com rótulo de mineral, algumas de duvidosa origem.
Essa despesa extra soa como castigo sobre o cidadão de pouca renda. O dinheiro gasto com a despesa extra faz falta para o remédio e até para a comida de parcela da população.
Em consequência do consumo da água imprópria, as pessoas enchem os corredores dos postos de saúde, das Upas e até dos hospitais da rede particular. Alguns pagam planos privados de saúde. E os miseráveis não têm saída. Morrerão mais cedo até de diarreia.
Às 5h as pessoas já estão na fila por uma senha...
... depois se estressam emante-salas lotadas de doentes nervosos
O dinheiro que não é investido no abastecimento de água tratada e no esgotamento sanitário é gasto com saúde: investimentos na construção de postos, Upas, clínicas, hospitais e laboratórios; compra de equipamentos, remédios e insumos; contratação de médicos, paramédicos e muita gente para cuidar da população doente. É uma insanidade incompreensível.
O CASTIGO
Basta alguém dar uma espiadinha na situação degradante dos canais que circundam a cidade, para que se depare com uma triste realidade.
Não tendo para onde mandar os dejetos e o lixo doméstico, os moradores das proximidades e das margens dos canais, despejam tudo nestes antigos olhos d’água e igarapés amazônicos.
Antes, com águas limpas e peixes, hoje com lama pútrida, fétida, animais peçonhentos e lixo, muito lixo
Esse sapo gigante foi encontrado em 2008 no Canal dos Tanques
... em 2012 o canal teve parcial desobstrução
Em 2015 foi a vez do Canal Tancredo Neves ter 11 pontos rebaixados na Zona Leste para dar vazão às águas das chuvas
Mas em outubro de 2017 a prefeitura retomou obras de macrodrenagem no mesmo Canal do Tancredo Neves, na Zona Leste, para impedir o sofrimento de 40 mil pessoas com os alagamentos da região.
O Bairro Três Marias foi um dos beneficiados. Os canais do Linhão no Bairro São Francisco, do Tanque e do Bairro da Lagoa também receberam atenção no ano passado
Ainda assim, as pessoas que moram nas margens desses canais e seus vizinhos, no período do verão são submetidos a odores que repugnam e embrulham o estômago.
São notórias as condições de baixa qualidade do ar que respiram e a insalubridade a que são submetidas.
No centro da Avenida Amador dos Reis, um retrato que envergonha
Só quem mora aqui sabe o que sofre.
A elas o poder público e político não oferecem baixa qualidade de vida. Oferecem vida indigna.
É verdade que há dez anos anda em curso um projeto de R$ 750 milhões inicialmente, financiado pelo governo federal através ainda do PAC 1, que prometia levar água e esgotamento sanitário para todos os moradores da cidade.
A ESPERANÇA
Essa obra era uma das compensações por nos tirarem, de uma só vez e para sempre, as belezas encantadoras das cachoeiras de Samuel e Santo Antônio para dar lugar às usinas hidrelétricas no Rio Madeira.
Ainda hoje esse projeto vem se desdobrando em lentas ações, consumindo os recursos pactuados, mas reduzidos cada vez mais. Consequentemente, diminuindo a cobertura prometida.
Nem a água nem os esgotamentos sanitários prometidos cobrirão mais a cidade toda. E ninguém arrisca dizer quando serão concluídos.
Essas obras começaram no governo Ivo Cassol, que as licitou sem plano diretor e foi denunciado por um vereador petista. Prendeu-se o dinheiro restante. Perdeu-se o que se gastou. E até hoje ninguém foi punido pelo crime contra a sociedade.
Ao assumir o cargo em 2011, o ex-governador Confúcio Mouraresgatou o dinheiro e reiniciou as ações sempre muito emperradas pelos órgãos de controle. Diante de rígidas exigências, ele chegou a perder a paciência com o Tribunal de Contas da União.
Assim, as dificuldades enfrentadas empurraram Confúcio a buscar ao menos o abastecimento d’água. Durante os dois mandatos prometeu matar a sede dos porto-velhenses.
Nos últimos dois anos de sua gestão (2016-2017), o ex-governador chegou a marcar data para entregar a água tão esperada; não conseguiu. No meio do caminho encontra-se uma Companhia de Água e Esgotos de Rondônia(Caerd) ineficiente e afundada em dívidas.
Embora as obras continuem neste, como nos cem verões de sua existência, as pessoas continuam andando em Porto Velho com latas e galões buscando água onde encontram.
Morador se abastece numa torneira da Rua Mário Andreazza...
... na Secretaria de Obras do município na Zona Leste...
... enquanto outras esperam a vez, em pleno domingo.
MINIMIZAÇÃO DO PROBLEMA
A ausência de esgotamento sanitário decretou a morte dos igarapés e olhos d’água. Criou-se um terceiro problema: eles foram transformados em canais de esgotos a céu aberto cidade afora.
Entupidos com todo tipo de lixo, os canais enchem no inverno e, não tendo vazão, invadem os lares das pessoas. Até se ver, aqui e acolá, aparecem algumas iniciativas paliativas e pontuais do poder público.
De Roberto Sobrinho a Hildon Chaves, alguns trechos de alguns canais foram e estão sendo alvos de serviços de limpeza, e até de urbanização, em suas margens e leito.
Ações como estas, têm como objetivo, desobstruir a passagem das águas de chuvas para não invadir as casas e melhorar o fluxo dos dejetos para o Rio Madeira.
Por isto, temos visto neste verão, o prefeito Hildon Chaves construindo galerias de drenagem das águas pluviais que, em algumas regiões da cidade, invadem as casas das famílias a cada inverno. Um serviço útil e necessário.
INICIATIVA RETOMADA
Mas a ausência de planejamento e de política pública de município e não de gestão induz o poder municipal a não resolver definitivamente a questão ambiental dos canais da cidade. E nada obriga um novo prefeito a dar continuidade ao projeto, a fim de concluir obras iniciadas pelo antecessor.
O ex-prefeito Roberto Sobrinho, por exemplo, iniciou uma obra que acalentou a esperança das pessoas: tirou moradores das margens de algumas áreas de alguns canais e fez obras de contenção e urbanismo.
Mas parou aí. O seu sucessor, Mauro Nazif, não deu continuidade ao projeto e ainda enterrou o Projeto Parque das Águas que prometia recuperar o Beira-Rio, o Mocambo e o Areal, áreas antigas da cidade.
Veja imagens e vídeo:
Agora o prefeito Hildon Chaves retoma a iniciativa de recuperação pontual dos canais com o Projeto Ecoparque.
O primeiro ecoparque foi inaugurado dia oito de abril passado, na Avenida Campos Sales, esquina com a Rua Paraguassu, Bairro Novo Horizonte, na Zona Sul da cidade.
O lugar atrai visitantes do entorno e das imediações, que há décadas aguardavam pelo benefício.
Academia do Ecoparque da Zona Sul
Ecoparque é um projeto de parques lineares a serem construídos às margens de canais, com propostas de intervenções urbanística simples e usuais para melhoria da qualidade de vida da população.
Estão andamento mais dois ecoparques idênticos ao da Cidade do Lobo.
Um acima, na confluência das ruas Campos Sales e Esron de Menezes no Bairro Areal...
...e outro na Rua Currupião com Rua Ponta Negra, no Bairro Três Marias, na Zona Leste
Nesses locais, as pessoas encontrarão academia ao ar livre, pista de caminhada, bancos com cobertura de madeira (pergolados) playground, área de convivência e projeto paisagístico com flores e árvores.
Tudo indica que o modelo Ecoparque servirá como projeto de base para vários bairros de Porto Velho. Estima-se que ele possa solucionar diversos problemas ambientais e urbanísticos, além de impedir as invasões às margens dos canais.
Apesar dessas iniciativas positivas de cidadania e recuperação do meio ambiente, o esgoto a céu aberto continua criminosamente sufocando nascentes e olhos d’águas dos antigos igarapés de Porto Velho. Por dois principais agentes: o cidadão que ocupa área imprópria e o poder que deixa pra lá.
Antes de apontarmos o dedo somente para o cidadão que se instala nas margens desses canais, lembremos que existe a lei que proíbe, mas não existe a fiscalização que impede o ato ilícito. Nem antes, nem depois.
Por pura omissão dos poderes executivos e legislativos do município. Um, por não fazer o que deve, outro por não cumprir o dever de fiscalizar.
E PARA ONDE VAI A SUJEIRA?
Numa cidade de meio milhão de habitantes, as pessoas jogam seus dejetos em algum lugar. Os abastados moram em condomínios e edifícios de luxo que constroem fossas com tecnologia de absorção. Mas ainda assim, contaminam o solo e lençol freático...
A população comum constrói fossas sem nenhuma assepsia. Simplesmente as pessoas cavam buracos ou reutilizam poços amazônicos para despejar excrementos. Às vezes, até nas áreas das calçadas, quando o terreno é pequeno, o que é proibido.
Mas quem impedirá a obra ilegal? Lógico, a Prefeitura. Mas não impede. Tem o dever e obrigação de oferecer a solução certa: rede de saneamento e tratamento dos dejetos. Mas não oferece. Aí, fica sem moral para cobrar.
O lixo recolhido nas portas dos mais de 500 mil moradores vai diretamente para os lixões a céu aberto. A Vila Princesa é o mau exemplo de uma Porto Velho que teima em permanecer no atraso.
Com quase seis mil municípios, o Brasil tem poucos exemplos de ações bem-sucedidas de respeito ao meio ambiente, à natureza e às pessoas de pouca renda. No Rio Madeira e na Vila Princesa é onde jogamos tudo o que não presta.
O Rio Madeira, nosso principal cartão postal, é agredido diariamente.
Estamos empenhados em matar a nossa principal fonte de vida. É lá e na Vila Princesa, que a cidade despeja o lixo doméstico, industrial, hospitalar e animais mortos.
É lá que a sociedade, sem nenhum pudor, entrega sua podridão e a sua insensibilidade aos urubus e às pessoas mais pobres e miseráveis da cidade.
Não é por acaso que o Instituto Trata Brasil informa que amargamos a última posição do ranking dos 100 maiores municípios do Brasil, com 3,39% na coleta e tratamento de esgoto e somente 33,05% de domicílios atendidos com água tratada. Doloroso.
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