INJUSTIÇA - Governo brasileiro deixa morrer, sem direitos reconhecidos, mais 2 soldados da borracha
Porto Velho, RONDÔNIA – Apesar de condenado em cortes internacionais por violação aos direitos humanos de nordestinos, convocados e recrutados para extrair látex na Amazônia, o Brasil acaba de deixar morrer, praticamente, à míngua, mais dois soldados da borracha na Amazônia Ocidental.
Anônimo, o seringueiro Antônio Soares Mendes Filho (Tio Deco) morreu nesta terça-feira (12), em Porto Velho. Ele engrossa a lista de centenas de soldados da borracha, muitos tirados à força de suas famílias e mandados por Getúlio Vargas, nos idos de 1940 até o final do conflito, aos seringais amazônicos.
Como Tio Deco, a maioria era do Nordeste e integrava um contingente civil de 65 mil homens atraídos pela propaganda militar getulista a mando dos Estados Unidos. Na proposta, a obtenção rápida de ganhos em salários, moradia e aposentadoria após o Grande Conflito (1939-45).
- O compromisso incluía uma indenização por sua condição de combatente, em igualdade aos Pracinhas da Força Expedicionária (FEB) que lutaram no front de Montesee Monte Castelo, na Itália, informa o Vice-Presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros Para os Estados de Rondônia, Pará, Acre, Amazonas e Amapá (SINDSBOR), George Telles.
Juvêncio Arruda de Oliveira, 108 anos, encabeçou a leva de mais de 80% de recrutados só do estado do Ceará. Ele morreu na semana passada, praticamente no anonimato na cidade amazonense de Boca do Acre, na divisa com a Capital acreana.
De acordo com George Telles (Carioca), em 2017, a direção do SINDSBOR esteve naquela cidade e “o documentou como parte viva do plantel de soldados da borracha aptos a receber todos os direitos reservados no Decreto de convocação e recrutamento assinado pelo ex-Presidente Getúlio Vargas”.
À época, Juvêncio demonstrou o desejo de ser reconhecido pelo governo como “combatente de guerra”, em vida. “Não deu pra ele, nempro Tio Deco, nem para o contingente tombado de 35 mil homens mortos nos seringais, a mando dos patrões. Morriam durante o fabricodas bolas de látex, atacados por animais selvagens e atépela temida malária”, assinalou o dirigente do SINDSBOR.
ENTENDA O CASO
- O acordo Brasil e Estados Unidos considerava os homens convocados e recrutados. Mas não foram reconhecidos como “combatentes de guerra” como reza o Acordo Brasil e Estados Unidos. O governo brasileiro por décadas não divulgou o que resultou do Acordo de 1942 sob o título de “Acordo de Washington”, enfatiza Carioca.
À época, segundo dados do SINDSBOR, “o Brasil forneceu borracha à indústria bélica norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo condenado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) por violação de direitos dos soldados da borracha e seringueiros, “ainda hoje a trama política dessa aliança corre em processos na Justiça” – inclusive o do reconhecimento da condição de “Combatentes de guerra”.
Foi Getúlio Vargas que estimulou a convocação e recrutamento de contingentes de nordestinos que enfrentavam dificuldades em função das secas, a vir para a Amazônia. É dele, também, a estratégia que mobilizou através do temido Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) através do serviço de alto-falantes de rua, rádios e cinemas, o deslocamento deles para os seringais da Amazônia.
A atração da mão-de-obra nordestina fazia parte do Acordo de Washington (1942) e visava ocupar os seringais do Norte do País com a formação de um pelotão só de soldados da borracha que integrariam a Campanha Nacional da Extração da Borracha (Látex), a chamado da Nação como dizia Getúlio Vargas ao povo brasileiro. Um esforço de guerra.
Enfim, Antônio Soares Mendes Filho (Tio Deco), 95 anos, nascido nos seringais da localidade de Três Casas, em Humaitá (AM) e Juvêncio Arruda de Oliveira (CE), 108, “morreram após escrever os seus nomes nas mais belas páginas da história dos heróis brasileiros fora do “front” de combate e dos campos de batalha na Itália”, sem ter direito a qualquer reconhecimentopelos relevantes serviços prestados à Nação Brasileira”. O desabafo é do presidente do SINDSBOR, José Romão Grande, 95 anos.
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