Bolsonaro pode ser 1º presidente militar eleito pela via direta em 72 anos
Candidato à Presidência pelo PSL, o paulista Jair Bolsonaro, 63 anos, chega neste domingo (28.out.2018) ao 2º turno da eleição como o favorito para conquistar a faixa presidencial. Caso se concretize, Bolsonaro será o 1º militar eleito por voto direto em mais de 7 décadas.
O último foi Eurico Gaspar Dutra, eleito em 1942. Outros 5 militares governaram o país no período da ditadura militar (1964-1985), mas não foram eleitos pelo voto popular. Naquele período, vigorou no país 1 sistema em que 1 colégio eleitoral dominado pelos militares decidia quem comandaria o Brasil.
Natural de Campinas (SP), Bolsonaro concorre ao Planalto pela 1ª vez. Cumpre o 7º mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro. Tenta romper com a sequência de 6 pleitos vencidos por PT ou PSDB.
Em uma campanha marcada pela disputa de discursos nas redes sociais, Bolsonaro recusou os meios tradicionais de se promover durante a corrida.
Recusou ir a debates na televisão, criticou os veículos de imprensa consolidados e captou a maior parte de seus recursos por vaquinhas virtuais.
Mas a internet também foi uma pedra no sapato do candidato. Poucos dias antes do 2º turno, uma reportagem da Folha de S. Paulo afirmava que empresários pró-Bolsonaro contrataram empresas para disparar mensagens contra o PT. O militar rebateu as críticas e disse ser a maior vítima de notícias falsas.
O candidato passou o 2º turno encastelado em sua casa no Rio de Janeiro, parte por recuperação de uma facada levada durante ato de rua, parte por estratégia política.
Com 1 discurso antipetista, utilizou como slogan o “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, que mostra o tom conservador do candidato e o apelo ao público religioso, principalmente os evangélicos.
O Poder360 selecionou os fatos mais relevantes da trajetória de Jair Bolsonaro ao longo da campanha, principalmente o 2º turno:
CAMPANHA E REDES SOCIAIS
Bolsonaro manifesta o desejo de se candidatar ao Planalto há alguns anos. Em 2017, intensificou a busca por 1 partido que desse abrigo a essa intenção. Filiado à época ao PSC, quase fechou com o Patriota. Em março de 2018, foi para o nanico PSL.
Com recursos ínfimos da sigla e poucos segundos do tempo de televisão, o militar se movia nas redes sociais. Em janeiro deste ano, Bolsonaro já era o candidato com maior número de seguidores no Facebook e no Instagram e registrava forte crescimento.
Em vídeos curtos, a maioria com edição simples, ele compartilhava manifestações de usuários das redes e mensagens com suas opiniões.
O candidato também apostava em viagens pelo Brasil. Mesmo antes do início oficial da campanha, o capitão da reserva participava de eventos e promovia sua chegada a aeroportos pelo país, numa forma de atrair o público e depois exibir o apoio na internet.
Na busca por votos, acentuou as passagens pelo interior de São Paulo, reduto eleitoral do adversário tucano Geraldo Alckmin, e pelo Nordeste, tradicionalmente ligado a governos petistas.
Sem alianças e com desconfiança do establishment político-econômico, Bolsonaro teve dificuldades para firmar acordos com outras siglas. Contava com poucos palanques nos Estados e pouca estrutura partidária.
O militar queria o senador Magno Malta (PR) como candidato a vice. O senador não aceitou e a aliança com o PR ficou prejudicada. Outras opções, como general Augusto Heleno (PRP) e Janaína Paschoal (PSL), também não deram certo, seja por discordância das siglas ou pela recusa dos cotados à vaga.
A parceria com o PRTB e a escolha de general Mourão foram anunciadas às vésperas do fim do prazo para indicação do vice. A coligação foi composta apenas por PSL e PRTB.
ALVO DE ADVERSÁRIOS E CRÍTICAS
Na campanha, Bolsonaro se tornou alvo frequente de adversários políticos.
O PT afirmava que o candidato do PSL representava o retrocesso. Ciro Gomes (PDT) comparou o militar ao alemão Adolf Hitler.
Geraldo Alckmin utilizava seu tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio para disparar críticas contra o capitão. A campanha tucana afirmava quase diariamente na televisão que Bolsonaro representava uma ameaça para as mulheres e que o voto em 1 militar não deu certo na Venezuela.
O tucano Fernando Henrique Cardoso publicou carta em que pedia união de nomes do centro político. Marina Silva (Rede) dizia que Bolsonaro poderia levar o Brasil para o descontrole e tentava se colocar como 1 caminho moderado.
Centrais sindicais também manifestaram-se contra o capitão da reserva.
A lista de rejeição reuniu celebridades como as cantoras Madonna e Dua Lipa. Por outro lado, Bolsonaro foi apoiado publicamente por jogadores de futebol, como Felipe Melo, e por cantores, como Eduardo Costa, e líderes religiosos, como Silas Malafaia.
Veículos da imprensa como Época, Estadão e Folha de S.Paulo divulgaram editoriais em tom antibolsonarista –e também fizeram algumas críticas ao PT. A revista inglesa The Economist afirmou em editorial que Bolsonaro era a “ameaça mais recente da América Latina”.
Já no 2º turno, Bolsonaro foi criticado quando 1 ex-líder do grupo racista norte-americano Ku Klux Klan afirmou que o militar “soa” como eles.
ATENTADO EM MINAS GERAIS
Em 6 de setembro de 2018, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro foi alvo de uma facada.
Bolsonaro foi submetido a duas cirurgias e passou 23 dias internado, a maior parte do tempo no hospital Albert Einstein, em São Paulo (leia neste post como foi o período em que o candidato esteve hospitalizado).
Na cama, o militar utilizou redes sociais para compensar a ausência nas ruas. Recebeu visita de famosos e articuladores. Deixou o hospital em 29 de setembro, faltando pouco mais de uma semana para o 1º turno.
Passou o restante do tempo em recuperação na sua casa, num condomínio no bairro da Barra da Tijuca, no Rio, onde o fluxo de visitas se tornou maior.
Foi duramente criticado por se recusar a participar de debates na televisão. Primeiro, disse que a presença dos embates dependeria da liberação dos médicos.
Depois, admitiu que não iria por motivos estratégicos. No saldo, participou de 2 debates no 1º turno e faltou a todos no 2º.
DECLARAÇÕES CONTROVERSAS
O militar provocou adversários, animou apoiadores e ganhou destaque por suas opiniões postadas em seus perfis nas redes sociais.
Negou com frequência ter havido 1 golpe em 1964. Sobre relatos de tortura durante o governo Geisel, indagou: “quem nunca deu 1 tapinha no bumbum do filho e, depois, se arrependeu?”. No Roda Viva, disse que a ditadura era uma ferida que precisava ser cicatrizada.
Disse que vetaria o aborto caso fosse aprovado pelo Congresso. Manifestou-se a favor da saída do Acordo de Paris. Defendeu o mesmo a respeito da ONU(Organização das Nações Unidas). Em seguida, recuou e disse que a saída seria apenas do Conselho de Direitos Humanos da organização.
Em maio, Bolsonaro se colocou a favor de paralisação dos caminhoneiros. Depois, afirmou que os caminhoneiros tinham ido “longe demais”, apoiando o retorno às atividades.
Em setembro, 2 dias depois de 1 incêndio atingir o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, Bolsonaro falou: “Já pegou fogo. Quer que faça o quê?”. Na oportunidade, o militar reiterou a intenção de restringir incentivos à cultura a apenas algumas áreas, como música caipira e sertaneja.
Em atos de campanha, estimulou crianças a simularem armas com as mãos.
Outras frases que causaram crítica de adversários foram as que colocaram suspeição sobre a confiabilidade nas urnas eletrônicas. Bolsonaro é defensor da realização de eleições por meio do voto impresso e disse temer fraude no sistema. Pouco depois, disse que não aceitaria 1 resultado diferente de sua vitória.
Criticou a composição do STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que elevaria o número de ministros de 11 para 21 para alterar a configuração do tribunal.
Declarações de seu entorno também causaram discussão. Candidato a vice na coligação, general Mourão colecionou frases que exigiram a intervenção do cabeça de chapa.
Mourão disse que o Brasil havia herdado indolência dos índios e malandragem dos negros. Pouco depois, falou que famílias sem pais ou avôs, apenas com mães e avós, são “fábricas de desajustados”.
Também criticou o 13º salário, chamando o direito de “jabuticada brasileira” e de “mochila nas costas de empresários”. A última declaração fez Bolsonaro pedir para que Mourão mantivesse a discrição. O general passou a não participar de debates e limitou sua agenda em eventos públicos.
Um dos filhos de Bolsonaro, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro compartilhou foto de internauta contrário ao militar, o que foi interpretado por grupos como apologia à tortura. A interpretação foi negada por Carlos.
Paulo Guedes, o guru econômico de Bolsonaro, também teve de se explicar sobre suposta intenção de recriar a CPMF. Nas redes, Bolsonaro disse ter sido contra a recriação do imposto e que não apoia a proposta.
Também rebateu informações de que teria empregado funcionária-fantasma em Angra dos Reis. Segundo o militar, o erro foi que Wal, como era conhecida a funcionária, “deu água para os cachorros”.
Seus motes de campanha foram o combate a indicações políticas, à corrupção e ao ensino de ideologia de gênero em escolas.
No 2º turno, Bolsonaro afirmou que os sugeriu que os “vermelhos”, –em referência à cor do PT e os movimentos de esquerda– terão de deixar o país ou ir para a prisão caso não se adequem às regras.
Outro filho do capitão reformado, Eduardo Bolsonaro afirmou que “bastava 1 soldado ou 1 cabo” para fechar o STF.
EQUIPE DE EVENTUAL GOVERNO
Até esta semana, Bolsonaro havia confirmado apenas 3 nomes para seu governo: Paulo Guedes, para economia, Onyx Lorenzoni, para a Casa Civil, e do general Augusto Heleno, para o ministério da Defesa.
Há outros nomes cotados, mas que ainda não foram confirmados como o do ex-astronauta Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia.
Desde o começo, Bolsonaro afirmava “não entender nada de economia” e colocava o economista Paulo Guedes como seu homem forte no setor.
Ligado ao pensamento liberal e ortodoxo, o economista foi citado com frequência durante a campanha. Bolsonaro o mencionava como seu “Posto Ipiranga”. Era uma alusão à propaganda desse estabelecimento, no qual se encontraria de tudo. A ideia é que quando tiver dúvida sobre algo na área econômica, o candidato –ou presidente eleito– sempre perguntará a resposta a Paulo Guedes.
Durante a campanha ou em seu plano de governo, Bolsonaro defendeu a realização da reforma da Previdência, a consolidação da reforma trabalhista, a redução dos gastos do governo e da carga tributária, medidas mais duras contra presos e a privatização de empresas estatais –com exceção das consideradas estratégicas.
EVOLUÇÃO NAS PESQUISAS
Bolsonaro esteve à frente nas pesquisas dos últimos meses. Por semanas, ficou estacionado na casa dos 20%, o que fez críticos à sua campanha afirmarem que o militar desidrataria às vésperas da eleição.
Manteve, no entanto, a posição mesmo após a confirmação de Fernando Haddad como o candidato do PT. Dias antes do fim da eleição, posicionou-se acima dos 50% dos votos válidos em todos os levantamentos.
A evolução pode ser vista no Agregador de pesquisas do Poder360, o mais completo da internet brasileira.
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