Filme 'O Banquete' é vasta lavação de roupa suja entre comensais
Tudo se passa como se em "O Banquete" houvesse dois movimentos simultâneos e contrários
Daniela Thomas aborda o cinema de maneira solene. Essa diretora de arte consagrada em seu primeiro filme voltou a 1820, a um Brasil colonial e escravocrata. Referia-se, é claro, a um Brasil também contemporâneo, mas a reprodução do passado era tão cuidadosa que o raciocínio parecia se perder em algum ponto, entre a iluminação natural e os sapatos do português.
Em "O Banquete" salta ao Brasil do governo Collor, com intenção aparentemente mais modesta: observar um grupo de pessoas em torno da comemoração dos dez anos de casamento entre um jornalista poderoso e uma atriz famosa.
Não é estranho o fato de todo o filme se passar em uma única peça - a sala de jantar da casa da anfitriã. Também não surpreende o fato de toda a ação constituir uma vasta lavação de roupa suja entre os participantes do evento: o gênero huis-clos favorece.
A perversidade dos personagens, ou de vários deles, pelo menos, chama a atenção: teatralidade, incômodo, humilhação, golpes baixos. "O Banquete" convoca tudo que já deu o melhor de si em confrontos nos tempos de Tennessee Williams. De novo, uma representação dessa elite intelectual (atores, advogados, jornalistas, etc.) que chama a atenção pela vulgaridade e pela grosseria.
Não que o filme tome suas distâncias em relação a elas. Ao contrário, escolhe observá-las sempre com a câmera próxima, usando profundidade de campo mínima. A opção mostra seu lado pomposo já no plano de abertura. Mas o espectador já está um tanto preparado para isso desde o título alusivo, é óbvio, ao diálogo de Platão.
Tudo se passa como se em "O Banquete" houvesse dois movimentos simultâneos e contrários: um, de tornar magníficos os personagens reunidos naquele jantar; outro, de rebaixá-los pela fala vulgar, pelos raciocínios inférteis, pelas grosserias da fala em relação ao amor e à sexualidade -basicamente os dois assuntos abordados ao longo do diálogo.
A proximidade física dos personagens assumida pelo filme tem decorrências não de todo agradáveis -pessoalmente, não chego a entender a vantagem de trabalhar com uma câmera que gruda nos personagens, não para de mexer e perde o foco com frequência rara.
Seria compreensível como tentativa de inovação (normalmente, com o foco curto os atores não se movem ou se movem muito pouco, o que não acontece aqui), caso isso não causasse um efeito desagradável sobre a imagem -e talvez seja um excesso de sensibilidade pessoal, mas em mais de um momento me senti enjoado como passageiro de um navio em mar agitado.
Seria injusto não apontar a direção muito boa de atores como uma virtude, mas também é necessário apontar um problema dramatúrgico grave: a iminente prisão do jornalista poderoso é um subplot muito presente, mas que não leva a parte alguma, nem mesmo à sua anunciada prisão.
Terá quando muito a função -deve-se acreditar que indesejada, ou ao menos inconsciente, de levar grupos que cultivam o interesse pelas vidas de pessoas célebres ou nem tanto- de suposição sobre a real identidade de alguns dos comensais.
Seja como for, a obra pessoal de Daniela Thomas no cinema, que começou um tanto decepcionante, aqui parece passar por um momento de regressão.
O BANQUETE
PRODUÇÃO Brasil, 2018
DIREÇÃO Daniela Thomas
ELENCO Rodrigo Bolzan, Caco Ciocler e Georgette Fadel
QUANDO Estreia nesta quinta (13)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO Ruim
Fonte: Noticiasaominuto
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