ALÉM DO OSCAR – “Indústria Americana” é melhor do que “Democracia em Vertigem” – Por Marcos Souza
Uma coisa é certa, assisti o documentário “Indústria Americana”, patrocinada pelo casal Barack e Michele Obama, e que acabou ganhando o Oscar de melhor do gênero no ano, passando por cima de “Democracia em Vertigem”. Ele é melhor e coloca discussões sobre como os americanos se sujeitam a um subemprego formalizado pela indústria chinesa, que barateia a mão de obra e exige excelência, não permitindo a criação de nenhum sindicato – eles atrapalham os negócios e geram conflitos entre empregados e patrão.
Notável por ver um país comunista, de diretrizes da indústria de massa ser tão capitalista e centralizadora dos lucros em vista do investimento praticado.
Quem for assistir vai verificar um documentário forte e muito bem realizado, mostrando os conflitos trabalhistas entre chineses e estadunidenses em uma fábrica no distrito de Dayton, em Ohio (EUA), que pertence a um chinês que investiu meio bilhão de dólares numa indústria de vidros automotivos e recontratou antigos funcionários de uma fábrica da General Motors que fechou depois da quebradeira de 2008.
O conflito é gerado quando 200 chineses, que gerenciam o local, tem que ensinar dois mil empregados americanos o estilo de trabalho chinês, dobrando sua hora de trabalho e sem horas extras pagas.
Vai existir momentos de tensão e um rescaldo na salvação da economia do distrito de Dayton com a nova fábrica, que mesmo pagando a metade do valor salarial que a GM pagava antes de fechar é a salvação de milhares de famílias que dependem desse empreendimento.
Não entro em detalhes para não estragar o prazer de acompanhar o andamento da estruturação da fábrica. O mérito dos diretores, o casal Julia Reichert e Steven Bognar é fazer o registro de dois anos – de 2015 a 2017 – desde a inauguração, dos primeiros conflitos entre chineses e americanos, o intercâmbio entre gerentes, a diferença de culturas – tanto sociais quanto trabalhistas – e como isso pode acarretar uma revolução.
É um belo trabalho de pesquisa, registro de fatos e mostra a reestruturação sindical como garantia dos direitos trabalhistas, porém em conflito com os investidores.
O documentário é tecnicamente irrepreensível, tem imagens muito fortes e icônicas entre o poderio capitalista e o socialismo em situações inversas e distintas. Uma ironia que permite você entender as características entre a ambição, o poder e a submissão, com ecos políticos – evidente.
Vale a pena e está disponível na Netflix.
TRAILER:
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