TENENTE FERNANDO (1) - Um caso tabu na história de Rondônia | Notícias Tudo Aqui!

TENENTE FERNANDO (1) - Um caso tabu na história de Rondônia

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Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da Academia de Letãs e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia

Eu era garoto em Manaus e, além de fazer o que todos os garotos gostam de fazer, instigado pelos meus pais Délio e Zélia, eu também gostava de outra coisa: ler. E foi assim que eu soube, na primeira metade da década de 1950, que um ano antes de eu nascer, num lugar chamado Território Federal do Guaporé, um tenente do Exército chamado Fernando Gomes de Oliveira havia desaparecido. Não lembro nas páginas da revista O Cruzeiro ou se foi no Jornal do Commercio, cuja primeira edição foi em 1904, o mais antigo jornal da Amazônia,.

Até então eu só me interessava pelo Território do Guaporé porque minha mãe dizia que fora em Porto Velho que meu pai havia arrumado uma noiva quando viajava como agente postal dos Correios; porque o Fast Club foi jogar uma vez numa cidade chamada Guajará-Mirim onde viviam índios que atacavam seringueiros. Ou (o que considerava mais importante): quando a seleção de futebol do Guaporé ia a Manaus para jogar no Campeonato Brasileiro de Seleções no estádio do Parque Amazonense – e como eu morava na rua atrás do campo tinha duas opções para entrar, pulando o muro ou esperar a bola ser chutada para fora do estádio e disputar a pegada dela para me apresentar ao porteiro e usar a devolução como moeda de troca do ingresso.

Para o primeiro número do jornal a Tribuna, o diretor Rochilmer Rocha pautou o caso do oficial desaparecido na selva

Em 1975 quando vim trabalhar em Porto Velho, o diretor do jornal A Tribuna, o jornalista e advogado Rochilmer Mello da Rocha, seu diretor, passou uma pauta de assuntos para o primeiro número e, dentre eles, estava o caso do tenente Fernando. A muitas pessoas antigas aqui perguntei: “Você ouviu falar do tenente Fernando?”.

Houve quem dissesse saber, mas que não comentavam. “Tem coisa que a gente não fala”, disse um cidadão que, depois, vim saber estava no acampamento da 2ª Companhia Rodoviária Independente, comandada pelo tenente, no dia do desaparecimento.

Nesses quase 50 anos de Rondônia ouvi e li as poucas coisas publicadas sobre o assunto. De mestres da História local: a professora Yêda Borzacov, o jornalista Esron Menezes, o professor Abnael Machado de Lima (os três historiadores), o jornalista Euro Tourinho, o poeta e típico exemplar da própria história rondoniense Walter Bártolo, de muitas outras pessoas, em Porto Velho, Guajará-Mirim, Ariquemes e Candeias, ouvi versões diversas, algumas conflitantes, mas sempre agregando algo novo.

Sei que dificilmente a verdade-verdadeira sobre o sumiço do oficial virá à tona, mas procurei reunir nesta série o máximo de informação que consegui, sempre usando o que tenho praticado em um bocado de anos como repórter: pesquisar, ler, ouvir o máximo de fontes possíveis e, ainda que haja acusações contra alguém, não tomar partido.

O TENENTE

Fernando Gomes de Oliveira era jovem. Oficial engenheiro do Exército, os que o conheceram garantiam que ele era alto, forte, bonito. Citavam-no como jogador de basquete e atleta de remo de um clube carioca.

Numa cidade com menos de 10 mil habitantes, sua presença era logo notada e, lógico, para as mães de jovens casadoiras da Porto Velho de então, certamente era o que se dizia àquela época, “um bom partido”, aliás, “o partido ideal” para qualquer daquelas jovens.

O oficial desapareceu quando saiu do acampamento da 2ª Companhia Rodoviária Independente, criada para abrir uma rodovia, de Porto Velho no sentido de Ariquemes, idealizada em 1937 pelo superintendente da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e principal autoridade local, o coronel Aluízio Pinheiro Ferreira.

Por volta das 15 horas daquele domingo, 29 de julho,  oito dias antes de um avião dos Estados Unidos lançar uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, o tenente Fernando saiu do acampamento para caçar uma inambu e nunca mais foi visto.

Começava ali um drama para sua família, um clima de terror imposto pelos que vieram investigar o desaparecimento – e muitos foram torturados, a inclusão do oficial na cena política do Território, porque logo em seguida começaram a circular várias “teorias da conspiração”, desde sequestro por índios “bocas-negras”, um colapso menta do tenente que a seguir sumira no mato, e até que ele poderia ter sido vítima de um atentado envolvendo o próprio governador do Território, Aluízio Pinheiro Ferreira, dentre tantas outras.

Durante minhas buscas para encontrar pistas que pudessem ajudar a mostrar o que de fato aconteceu, ouvi de tudo.

E até uma ameaça velada feita ao autor desta série: “Veja o que você vai publicar sobre o coronel Aluízio…..”

Lúcio Albuquerque
serieslucio@bol.com.br


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