TRANSFORMAÇÃO ESPIRITUAL - Jornalista rondoniense que atravessou os Pirineus na França, fala da experiência vivida no caminho de SanƟago de Compostela
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O jornalista Bosco Cardoso, resolveu comparƟlhar uma experiencia incrível que vivenciou no inicio desse mês de setembro, ao optar em fazer o Caminho Francês de SanƟago de Compostela, começando a parƟr de Saint-Jean-Pied-de-Port/França, até a cidade de SanƟago de Compostela, Região da Galicia na Espanha. Segundo ele, esses relatos talvez possam servir de inspiração para quem quer conhecer ou um dia se aventurar nessa experiencia única de descobertas e aprendizados, que certamente fará bem para o espírito. Ele lembra ainda que para percorrer a pé todo o caminho francês de aproximadamente 825km, são necessários de 30 a 34 dias. Como ele Ɵnha apenas 15 dias para fazer a peregrinação, teve que pular algumas etapas. O Caminho de SanƟago de Compostela, já existe desde o Século IX, ou seja, a mais de 1200 anos, sendo percorrido por dezenas ou centenas de milhares de pessoas de toda a parte do mundo todos os anos. É considerado Patrimônio Cultural da Europa e Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco. A peregrinação é uma das mais concorridas da Europa, cuja importância só é superada pela Via Francigena, com destino à Basílica de São Pedro em Roma e o Caminho Sagrado em Jerusalém.
- Assim que cheguei em Madrid/Espanha, peguei o trem na famosa estação Puerta de Atocha e segui até à bela cidade de Pamplona, onde acontece a tradicional festa religiosa em homenagem a São Firmino, evento no mínimo curioso, em que uma mulƟdão segue ao lado e a frente dos touros, causando vários acidentes e até mortes. De lá segui de ônibus até a cidade de Saint-JeanPied-de-Port/França, onde tem início a milenar rota francesa de peregrinação, escolhida por mim entre as muitas possibilidades que levam a catedral em homenagem ao apóstolo Tiago Maior na Espanha.
Saint-Jean-Pied-de-Port
Quem escolhe começar a peregrinação a parƟr de Saint-Jean-Pied-de-Port, uma pequena e bela subdivisão administraƟva no País Basco francês, tem a oportunidade de se encontrar com muitos outros peregrinos oriundos de várias nações, que também resolvem espontaneamente fazer o caminho francês. Posso dizer que vivenciei uma grande experiência mulƟcultural, pois conheci pessoas de todas as partes do mundo. Tive por exemplo, a oportunidade de fazer amizade com peregrinos vindo de Israel, Australia, Nova Zelandia, Korea do Sul, Estados Unidos, Japão, Argélia, Hungria, Dinamarca, México, Inglaterra, Suíça, França, Espanha, Itália, Colômbia, ArgenƟna, dentre outros que não lembro. Quanto a forma como nos comunicamos, é a linguagem universal da boa convivência, através de gestos de solidariedade, tolerância e generosidade mútua. Cada um faz o seu caminho por várias razões, seja por moƟvos religiosos, espirituais, culturais ou para fazer uma introspecção, cujo o resultado pode levar a uma evolução de consciência sobre nossa existência e o nosso papel nesse plano. Dizem que no caminho acontece algo mágico e que não é você que escolhe o caminho, mas é o caminho que escolhe você. O fato é que quem faz o caminho de SanƟago de Compostela, não volta da mesma maneira que foi.
Assim que cheguei em Saint-Jean, foi logo procurar a Oficina do Peregrino, para carimbar minha credencial de peregrino, sem a qual não é possível se hospedar em albergues públicos ou paroquial (os mais em conta, custando de 8 a 12 euros) e nem tão pouco, adquirir o cerƟficado quando chegar na Basílica de SanƟago, a chamada Compostela. Acabei ficando hospedado em um albergue público juntamente com outros peregrinos estrangeiros, que serviu de enfermaria para os soldados de Napoleão Bonaparte, quando invadiu o norte da Espanha em 1807.
No dia seguinte por volta das 5:30 da manhã (na Europa dependendo do País, há uma grande diferença de fuso horário de lá com o Brasil), em companhia de um espanhol, um japonês, um francês e uma jovem da Hungria, parƟmos em direção aos Pirineus. Portanto, quem decide fazer a rota de Napoleão, saindo de Sain-Jean, já sabe que logo de cara terá que enfrentar uma dura jornada, os Pirineus. Trata-se da cadeia de montanhas de 27km e um pouco mais de 1.300m de altura, que separa a França da Espanha, com trechos bastante íngremes e com graus de dificuldades médio e alto. Dependendo da estação, não é viável fazer a travessia. No Inverno por exemplo, a rota fica fechada. Como escolhi o verão europeu, Ɵve a felicidade de pegar um dia azul, lindo, aberto e com muito vento, com uma vista belíssima antes de chegar em Roncesvalles, região Navarra da Espanha.
Roncesvalles a Zubíri
O segundo trecho do Caminho Francês, fica entre Roncesvalles e Zubiri. Trata-se de uma etapa cansaƟva (cheia de subidas e descidas) pois vem logo após a travessia dos Pirineus. Muitos peregrinos inclusive, procuram evitar a travessia dos Pirineus, optando pelo início do caminho em Roncesvalles, não ficando tão diİcil como para os que vem de Saint-Jean-Pied-de-Port. Este segundo trecho, tem cerca de 25km. Passei pelas cidades de Burguete, Espinal e Lintzoain. O sobe e desce também é uma constante neste pedaço, sempre com muito verde pelo trajeto. Na realidade ao longo de todo o caminho, o peregrino irá se deparar com monumentos e estruturas deixadas pelos romanos, além de igrejas em esƟlo clássico, neoclássico e góƟcas, além de museus e vilarejos que parecem ter parado no tempo.
Zubiri a Pamplona
Culturalmente os espanhóis são bem rigorosos no zelo da preservação de seus patrimônios históricos. Em Zubiri por exemplo, me chamou a atenção a estrutura de uma ponte de pedras de 923 anos, construída pelos romanos e muito bem conservada. Passamos também por Larrasoña, porém com pouca estrutura, ficando Zubiri como o principal ponto de parada depois de Roncesvalles, porém os moradores desses lugares assim como em toda a Espanha, são muito acolhedores. Nessa etapa, caminhei 26 km até Pamplona.
Pamplona é uma cidade fascinante e encantadora, sendo a primeira grande cidade ao longo do Caminho Francês. Fiquei hospedado por dois dias no Albergue Jesus e Maria, que fica localizado no centro da cidade ao lado da catedral principal. Pamplona é bem desenvolvida, possui muitos parques e áreas verdes, além de vários monumentos que retratam sua cultura e origens.
Pamplona a Sarria
Como eu Ɵnha apenas quinze dias para fazer o Caminho francês, Ɵve que pular algumas etapas. De Pamplona segui de ônibus com desƟno à cidade de Sarria, que fica na região da galícia no norte da Espanha, a 117 km de SanƟago de Compostela. Antes, Ɵve que passar pelas cidades de Victória e Burgos, com transbordo até a fascinante cidade de León, onde pernoitei no albergue público. No dia seguinte segui para a cidade de Lugo até Sarria. Importante deixar registrado que o Caminho a parƟr de Sarria, é a rota mínima necessária para conseguir a Compostela, acreditação de ter realizado o caminho de SanƟago. Embora o normal seja começar o caminho francês em Saint-JeanPied-de Port ou Roncesvalles, há muitos peregrinos que decidem fazer a rota francesa a parƟr de Sarria, já na Galícia, para cobrir pelo menos os 100km indispensáveis para receber a Compostela.
Após pernoitar em Sarria, iniciei pela manhã a caminha de 24,6km até a cidade de Portomarin, onde pernoitei. Pela manhã segui para as cidades de Pala de Rei, passando por Merite até chegar em Arzúa, percorrendo um total de 30km. Confesso que foi um pouco puxado, bem cansaƟvo, porém tudo estava dentro de minha programação. No dia seguinte fui para as cidades de San Marcos, passando por Monte do Gozo, até chegar finalmente em SanƟago de Compostela. Foi sim uma saƟsfação enorme ter chegado a bela e mágica Catedral de SanƟago. La permaneci por dois dias hospedado no albergue paroquial do Seminário Menor e em seguida fui para Lisboa/Portugal.
Finalizo essas poucas linhas com uma simples frase:
“Os caminhos mais diİceis são aqueles que tem a vista mais bela e o desƟno mais incrível. Não importa a dificuldade da caminhada, apenas siga na sua trajetória para a realização dos teus sonhos”.
João Bosco Cardoso - Jornalista
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