OPINIÃO DE AUGUSTO NUNES - Estrabismo cafajeste | Notícias Tudo Aqui!

OPINIÃO DE AUGUSTO NUNES - Estrabismo cafajeste

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Lula ordena aos devotos que não enxerguem tentativas de assassinato

 

Em 6 de outubro de 2023, Alexandre de Moraes transformou o que deveria ser a palestra de encerramento de um seminário sobre Direito Financeiro e Cidadania em outra incursão destrambelhada pela selva infestada de fake news criminosas, golpistas alojados em gabinetes do ódio, fascistas obcecados pelo enterro da democracia e demais abjeções bolsonaristas. Já no início da discurseira, o primeiro-ministro do Supremo Tribunal Federal declarou-se especialmente estupefato com a imensidão de brasileiros que acreditaram numa mentira deslavada por ele capturada não lembrava quando. “Três, quatro anos, talvez mais…”, calculou antes de tentar resumir a tapeação: “A Venezuela já havia invadido o Acre, o Brasil, e estava marchando, e tal. E cada vez mais pessoas estavam acreditando na invasão, apoiada por comunistas. O comunismo dá ibope”.

Alguém na plateia pode ter imaginado que o orador se espantara por ver tanta gente engolindo sem engasgos uma impossibilidade geográfica: como começar aquela invasão do Brasil por um Estado que não tem um único centímetro de fronteira com a Venezuela? A continuação do palavrório esclareceu que o motivo do espanto era outro. “Cada vez mais gente acreditava na invasão, não importa que nenhuma televisão dê isso. Nem a Globo nem as outras diziam nada, mas todo mundo começava a achar que a Venezuela avançava. Nada na televisão. Mas a fake news ia crescendo.” A história da invasão talvez tenha sido inventada pelo palestrante. Mas entendi ao conferir o vídeo do palavrório que Moraes só acredita no que dizem os telejornais (e a imprensa estatizada reproduz). 

Se agiu assim no último sábado, o ministro só soube com algumas horas de atraso do atentado que por muito pouco não explodiu o crânio de Donald Trump. Como constatou J.R. Guzzo nesta edição, a tentativa de assassinato noticiada pelo site de Oeste minutos depois de ocorrida só conseguiu aparecer na mídia tradicional depois de superada a furiosa resistência das tropas lulistas acampadas nas redações. Enquanto a vigarice prevaleceu, o ministro que só acredita no que dizem veículos subordinados ao Grupo Globo teve de contentar-se com um cardápio reduzido a três tapeações: “Trump caiu do palco durante comício na Pensilvânia com sangue no rosto” (O Globo); “Trump cai durante comício de campanha” (GloboNews); “Comício de Trump é interrompido após supostos sons de tiros” (G1).

Os torturadores da verdade afundaram atirando. A multiplicação de fatos e evidências que comprovavam a revogação do direito à informação correta foi ignorada pelos companheiros de fraude até a consumação do naufrágio. O autor da infâmia não foi tratado como um fanático assassino, obcecado pela ideia de eliminar fisicamente o Grande Satã da esquerda mundial. Errou o alvo por milímetros, e continuou atirando. Ao ser abatido por agentes de segurança, matara um homem e fizera o possível para minar a solidez da mais antiga e robusta democracia do planeta. Foi agraciado pelos redatores lulistas com a mesma palavra que identifica bandidos precoces mortos em confrontos com a polícia: “jovem”. Um assassino vocacional foi para a cova com a fantasia de “jovem assassinado”.

Até o atentado ocorrido em Juiz de Fora, jornalistas e leitores enxergavam com nitidez tentativas de assassinato que miravam celebridades políticas

Por culpa da vítima, decidiu o editorialista do Estadão que comentou a erupção de violência na Pensilvânia caprichando na pose de doutor em assuntos estadunidenses. “Não se pode dizer que era imprevisível em um contexto no qual o recurso à força das armas tem sido estimulado pelo próprio ex-presidente como meio de afirmação política desde o fatídico 6 de janeiro de 2021”, ensina um trecho do besteirol. O tom arrogante sugere que o autor do texto manteve com o assassino morto aos 20 anos uma longa conversa mediúnica — e dele ouviu que a decisão de executar Trump foi tomada no dia da invasão do Capitólio, quando nem chegara ao fim da adolescência.

O pensador de picadeiro precisa saber que desde 15 de dezembro de 1791, quando foi aprovada a Segunda Emenda, a Constituição dos Estados Unidos garante a todo cidadão o direito de possuir e portar armas de fogo. Uma alma caridosa deve contar-lhe que em novembro de 1963 o presidente John Kennedy foi morto a tiros, e que em março de 1981 o presidente Ronald Reagan sobreviveu aos estragos causados por balas. Quem responsabiliza pelo crime o instrumento usado pelo criminoso decerto ignora que armas de fogo não apertam gatilhos. E nem desconfia que podem ser substituídas por armas brancas, como reiterou em 6 de setembro de 2018 a facada desferida em Jair Bolsonaro por Adélio Bispo de Oliveira. 

Até o atentado ocorrido em Juiz de Fora, jornalistas e leitores enxergavam com nitidez tentativas de assassinato que miravam celebridades políticas. Foi assim em 1893, quando o presidente Prudente de Morais sobreviveu a um atentado. Foi assim em 1954, quando o jornalista Carlos Lacerda sobreviveu ao tiroteio que resultou na morte de um oficial da Aeronáutica e apressou a agonia do presidente Getúlio Vargas. E assim teria sido com o ataque sofrido por Bolsonaro se os tiros em Trump não conferissem dimensões epidêmicas a uma estranha disfunção que afeta devotos de Lula: o estrabismo cafajeste, que faz com que seus portadores só enxerguem o que o único deus da seita deseja que vejam. Nesta semana, por exemplo, o mestre fingiu lamentar o tiroteio na Pensilvânia, mas ordenou a alguns discípulos que deixassem de enxergar os atentados que alvejaram Trump e Bolsonaro. 

Um deles foi o deputado André Janones, que fortaleceu a candidatura a líder da bancada das bestas quadradas com um comentário no X: “Agora sabemos o que o miliciano foi fazer nos Estados Unidos assim que deixou a Presidência. É a fakeada fazendo escola. Pelo menos dessa vez lembraram de providenciar o sangue”. Ganhou o endosso do companheiro Ricardo Berzoini: “Acreditar no ‘atentado’ contra Trump é o mesmo que crer na fakeada de Juiz de Fora em 2018”, escreveu o deputado do PT. Berzoini foi avalizado por Gleisi Hoffmann: a presidente do partido que virou bando publicou uma caricatura sugerindo que aquele vinco vermelho-escuro no rosto de Trump não era sangue. Era ketchup. 

Os disparates informam aos berros que a trinca de governistas difunde fake news a poucos metros do gabinete de Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal. Eles sabem que no inquérito conduzido pelo Primeiro Carcereiro não há vagas para vigaristas que nem precisam de crachá para circular de bermudas nas sedes dos Três Poderes.

(Poder360)


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