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Ayahuasca – Santo Daime

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ColunistaMarco Anconi

Ayahuasca, nome quíchua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (caapi, mariri ou douradinho) e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona).

É também conhecida por vegetal, Santo Daime, vinho da alma, professor dos professores, pequena morte, entre muitos outros. O nome mais conhecido, ayahuasca, significa "liana (cipó) dos espíritos".

Utilizada pelos Incas e também por pelo menos setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil.

No Brasil, os principais movimentos religiosos organizados são: Santo Daime, A Barquinha, União do Vegetal e Irmandade Natureza Divina além de dissidências destas e grupos (núcleos ou igrejas) independentes que o consagram como sacramento de seus rituais.

Efeitos

Segundo algumas correntes de defensores do seu uso religioso e ritualístico, a ayahuasca não é um alucinógeno. Seus defensores preferem utilizar o termo enteógeno (gr. en- = dentro/interno, -theo- = deus/divindade, -genos = gerador), ou "gerador da divindade interna" uma vez que seu uso se dá em contextos ritualísticos específicos. Para seus críticos, contudo, a opção sócio-cultural do usuário ou a tolerância religiosa de alguns países ao seu princípio ativo, o DMT, não altera sua classificação, uma vez que o objetivo continua sendo o de induzir visões pessoais e estados alterados por meio da ingestão de uma substância.

Segundo os relatos dos usuários, a ayahuasca produz uma ampliação da percepção que faz com que se veja nitidamente a imaginação e acesse níveis psíquicos subconscientes e outras percepções da realidade, estando sempre consciente do que acontece — as chamadas mirações. Os adeptos consideram esse estado como supramental "desalucinado" e de "hiperlucidez".

Num contexto religioso, tais fenômenos são atribuídos à clarividência, projeção da consciência, acesso a registros etéricos (arquivos akáshicos) ou contatos espirituais. Noutras experiências, dependendo da formulação de cada grupo e tolerância particular, o estado alterado se dá pelas visões interiores próximas de um estado meditativo, em que o usuário consegue distinguir tais "mirações" pessoais da "realidade exterior".

Cientificamente, a propriedade psicoativa da ayahuasca se deve à presença, nas folhas da chacrona, de uma substância alucinógena denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano. O DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO), e não tem efeitos psicoativos quando administrado por via oral. No entanto, o caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO: harmina e harmalina (antigamente conhecida como telepatina), principalmente. Desse modo, o DMT fica ativo quando administrado por via oral e tem sua ação intensificada e prolongada.

A ayahuasca provoca "expansão da consciência" sem causar danos físicos, inclusive atribuindo à substância propriedades curativas, como reativar órgãos danificados. De fato, não há dependência física conhecida, ainda que a necessidade intrínseca do uso da planta em todos os ritos para se atingir estados alterados seja visto como manifestação de uma dependência psíquica bastante estimulada pelo contexto religioso e social.

Segundo linhas tradicionais de uso, a ingestão dessa bebida pode provocar a absorção do “Espírito da Planta”. Os sentidos são expandidos, os processos mentais e as emoções tornam-se mais profundos. A jornada pode mover-se em muitas dimensões: o vôo da alma, a partida do espírito do corpo físico, uma sensação de flutuar, etc.

A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir catarses e conseqüentes experiências de renovação e de renascimento; visões arquetípicas, de animais, de espíritos elementais, de cenas de vidas passadas, de divindades etc. Abre-se o portal para outras formas de realidade.

Nem todos recebem visões da primeira vez que experimentam. Às vezes são necessárias várias sessões para se conseguir atingir tais estados.

À ayahuasca atribui-se a cura de males físicos, psicológicos, mentais e espirituais. Há estudos científicos preliminares sobre aplicações médicas e psicoterapêuticas, contudo não conclusivas.

No Peru os xamãs evocam guardiães, protetores espirituais. Evocam carcanas (escudos protetores) por meio de cânticos de poder (ícaros), fumo de tabaco, uma poção de limpeza (vomitiva), camalonga, e algumas águas perfumadas (água de Florida, flores de Kananga) que atraem os espíritos.

A jornada com ayahuasca leva à exploração tanto deste mundo ordinário como de mundos paralelos, que estão além de nossa percepção corrente. Podem ocorrer sensações de liberação dos limites normais de espaço-tempo.

Sua utilização divide opiniões. A favor do uso, seus adeptos ressaltam que:

- Após 18 anos de estudos, o CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) do Brasil, retirou a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 10/11/2004.

- A Suprema Corte dos EUA decidiu (em 20/02/2006) que o governo estadunidense não pode impedir a filial da União do Vegetal no Estado do Novo México de utilizar o vinho ayahuasca em seus rituais religiosos. O veredicto atesta que o grupo religioso está protegido pelo Religious Freedom Restoration Act.

- A ONU emitiu um parecer favorável recomendando a flexibilização das leis em todos os países do mundo no que se refere à ayahuasca.

Riscos para a saúde

Não há dados científicos que indiquem riscos em relação à saúde física. Há, contudo, constantes relatos de vômitos, diarréias e sudorese em alto percentual dos que a experimentam, o que sugere tentativas do corpo em expelir a substância. O uso contínuo, entretanto, parece favorecer uma tolerância química ao princípio ativo e conseqüente diminuição da intensidade dos sintomas.

Em alguns casos, a ingestão pode levar a sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. Na maior parte das vezes tais reações passam junto com o efeito da bebida, sem necessidade de atendimento médico.

O consumo da bebida pode desencadear quadros psicóticos em pessoas predispostas a essas doenças, ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas tais como transtorno bipolar e esquizofrenia.

Pessoas com transtorno bipolar (antiga psicose maníaco-depressiva) devem merecer atenção especial. Os alcalóides inibidores de monoamina oxidase presentes na bebida, como a harmina e harmalina, têm efeito análogo a alguns antidepressivos, como a moclobemida (Aurorix®). Importante observar que antidepressivos, sejam inibidores de monoamino oxidase, inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou ainda de outras classes são associados a maior risco episódios de mania nos casos de transtorno bipolar. Há significativo risco de surtos psicóticos em indivíduos com predisposição genética. Pode ainda ocorrer persecutoriedade, fuga da realidade e alienação, além de dependência psíquica de moderada a grave.

O texto acima foi retirado integralmente da Internet e, portanto, é de domínio público.

A minha experiência, no entanto, revelou aspectos muito particulares. Na primeira experiência com a Ayahuasca, até por estar consumindo medicamento restrito (antiinflamatório de uso hospitalar), foi uma “peia” fenomenal, iniciando com um desmaio (sincope), seguido de vômitos, diarréia, frio intenso (frio nos ossos). Mesmo assim, creio que foi bastante proveitosa, pois tive “mirações” que se referiam exclusivamente a mim, expondo situações que somente eu tinha conhecimento.

Outras experiências se seguiram, nas quais pude ir aprofundando o entendimento tanto da Ayahuasca, quanto de mim mesmo. No cômputo geral creio firmemente na veracidade do que vi e senti e atribuo como normais os desarranjos fisiológicos. Exceções existem e devem ser observadas cuidadosamente. Para mim, a Ayahuasca é para todos, porém alguns podem vir a não se ajustar aos seus efeitos e revelações.

Seja feliz e encontre-se. Ame-se e evolua.

Marco Anconi
mac.anconi@gmail.com


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