"Que horror" - exclamávamos na Redação de A Tribuna, quando soubemos do ocorrido com o gaúcho João Cecílio Perez em 1979. Jagunços a serviço da Colonizadora Calama S/A o balearam, jogando-o sobre um formigueiro. A expulsão de posseiros em Rondônia também era feita com esses métodos cruéis. João Cecílio havia inteirado 46 anos quando saiu do Rio Grande do Sul, passou por Chopinzinho (PR) e Jardim (MS), até chegar a Ji-Paraná, onde sonhava ser dono de um lote. Fui conhecê-lo num quarto do antigo Hospital São José, em Porto Velho, acompanhado pelo colega jornalista Jorcêne Martínez.
João lavava verduras para o almoço, quando recebeu o primeiro tiro. Atingido no peito, não tombou, sentia o ardor. Pensou sair correndo e fugir – contava.
A história se passou no Lote Bela Vista, comercializado pela Colonizadora Calama, em Ji-Paraná, a 367 quilômetros de Porto Velho. A Calama foi uma das empresas denunciadas por grilagem na CPI da Terra da Câmara dos Deputados, em 1977.
João Cecílio passava a morar com o sogro, desde que fora abandonado pela mulher, havia 20 anos. Durante seis anos, derrubou mato, plantou arroz, milho, café e contraiu malária. Passou fome.
Comprava um lote da Colonizadora Calama, então, a maior empresa de terras de Ji-Paraná e ali iniciava suas atividades quando a cidade ainda se denominava Vila Rondônia. A empresa pertencia a João dos Santos Filho, vindo de Londrina (PR) nos anos 1970 e assassinado em 1981, por um dos seus próprios jagunços, durante a festa de São João.
No terreiro da casa do lote, três homens apontaram armas para João Cecílio. Numa embalada, saiu de casa e passou por eles.
Queria alcançar o córrego próximo. Mais tiros. Dois acertaram a barriga e o peito, o terceiro atingiu-lhe a coxa. Aí ele caiu. O corpo ficou amortecido. “O que me tocaiou se aproximou e eu o reconheci. Era um tal de Chico, empregado da Calama. Mas por que querem me matar, se eu nunca fiz mal a vocês, nem lhes conheço direito?” – relatava no quarto do hospital.
– E se aparecesse alguma onça ou cateto? Os bichos são bravos – ainda raciocinava. E passou o resto do dia e a noite jogado no chão. Lá pelas oito horas da noite, os homens voltavam ao local, levando um rapaz. João Cecílio deitou-se do mesmo jeito em que se encontrava anteriormente, imóvel, e um deles jogou a luz da lanterna sobre o seu corpo. Pisaram-lhe novamente a barriga, sacudiram o corpo. João Cecílio arrepiou-se ao ouvir frases: “Esse aí tá morto mesmo”, “Vamos enterrar ele”, “Deixa do jeito que tá, os bichos acabam com ele”.
Formigas passeavam sobre o corpo do colono. Os homens foram embora, a madrugada passou, o rol raiou, e ele exclamou: “Estou salvo, meu Deus!”.
Submetido a quatro cirurgias pelo médico Ovídio Tucunduva Neto, finalmente, nosso personagem ficou fora de perigo. Quer dizer, apenas não morreu. Mas perdeu o baço, ficou surdo de um ouvido, com paralisia em uma face e, dadas a infecções do ferimento na cabeça – de onde foram retirados centenas de insetos – perdeu uma vista.
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NOTA
Numa viagem recente a Ji-Paraná fui informado que João Cecílio viveu longos anos num sítio, mas nunca mais fora visto por jornalistas e radialistas antigos, entre os quais, nosso conhecido Valdemar Camata.
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