
Porto Velho, 2 de agosto de 2025 — A siderurgia brasileira enfrenta uma de suas fases mais delicadas nas últimas décadas. A Gerdau, uma das maiores produtoras de aço do país, anunciou nesta sexta-feira (1º) que cerca de 1.500 trabalhadores foram demitidos desde o início do ano. O corte afeta principalmente as unidades de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes, em São Paulo, e ocorre em meio a um cenário que o CEO Gustavo Werneck classificou como “assustador” para o setor.
O gatilho da crise: importações em alta e falta de proteção
De acordo com Werneck, o avanço das importações de aço da China — vendidas a preços considerados desleais — tem colocado a indústria nacional em uma situação crítica. O setor esperava que, em julho, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) anunciasse novas medidas de defesa comercial, como cotas mais rígidas ou tarifas adicionais.
“Não tem sentido continuarmos investindo tão alto no Brasil, já que o governo federal não toma medidas alinhadas à Organização Mundial do Comércio para impedir a entrada desleal de aço, especialmente da China. Não conseguimos competir de forma igualitária e isonômica”, declarou Werneck.
Sem novos mecanismos de proteção, a empresa acelerou as demissões e decidiu rever os investimentos planejados para o país.
Investimentos no Brasil encolhem; foco será os EUA
A Gerdau vinha investindo cerca de R$ 6 bilhões por ano globalmente, destinando aproximadamente dois terços ao Brasil. Esse cenário vai mudar a partir de 2026, com redução drástica nos aportes nacionais e prioridade para operações nos Estados Unidos, onde a empresa considera o ambiente de negócios mais previsível e favorável.
“Lá encontramos um ambiente adequado para continuar investindo e produzindo localmente, como fazemos há mais de 30 anos”, afirmou o CEO.
Segundo Werneck, os investimentos em solo americano serão mantidos, em contraste com o redirecionamento de recursos antes planejados para o território brasileiro.
Impacto social e econômico
O corte de 1,5 mil funcionários atinge diretamente o interior paulista, região historicamente dependente das atividades siderúrgicas. A cidade de Pindamonhangaba, conhecida como polo do aço, sente os reflexos em seu mercado de trabalho, comércio e arrecadação tributária.
Economistas apontam que o movimento da Gerdau pode ser um sinal de alerta para todo o setor: se a entrada de aço importado continuar crescendo, outras companhias podem adotar estratégias semelhantes de redução de pessoal e suspensão de investimentos.
Um retrato do setor siderúrgico brasileiro
A crise da Gerdau se soma aos desafios enfrentados por outras gigantes do aço:
- ArcelorMittal Brasil estuda suspender investimentos de R$ 3 bilhões em Minas Gerais, aguardando medidas de proteção comercial;
- Usiminas reduziu seu plano de investimentos para 2025 e monitora de perto o avanço das importações.
O Instituto Aço Brasil reforça que o país corre o risco de desindustrialização se o governo não adotar rapidamente políticas mais duras contra a concorrência internacional predatória.
O que vem a seguir
A decisão da Gerdau pressiona o governo federal a adotar novos mecanismos de defesa comercial. Enquanto isso, sindicatos locais já se mobilizam para minimizar os impactos sociais e buscam diálogo com a empresa para evitar novas demissões.
O cenário atual evidencia o desafio de manter a competitividade da siderurgia nacional em um ambiente de globalização intensa e subsídios estrangeiros. Para o Brasil, os próximos meses serão decisivos: ou o país reforça sua política industrial, ou corre o risco de ver sua capacidade siderúrgica encolher ainda mais.
Fonte: noticiastudoaqui.com