O Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro, levanta uma série de questões sobre a região, como temas que poderiam ganhar mais visibilidade.
A Amazônia concentra alguns dos maiores desafios sociais, econômicos e ambientais do Brasil. A região abriga mais de 30 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e ocupa uma posição estratégica por compartilhar 11 mil quilômetros de fronteiras terrestres com oito países da América do Sul.
Essa localização a torna vulnerável ao tráfico internacional de drogas, à exploração ilegal de recursos naturais e à presença de organizações criminosas. Além disso, comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas convivem diariamente com dificuldades de acesso a serviços básicos como saúde, educação, alimentação saudável e água potável.
O Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro, levanta uma série de questões sobre a região, mas apesar do foco em 2025 ser grande, muito em função da realização da COP 30, três temas poderiam ganhar mais visibilidade nos debates sobre os problemas estruturais amazônicos: segurança pública; alimentação sustentável e água potável; e direitos humanos.
Os temas se interligam e revelam alguns dos principais entraves para o desenvolvimento sustentável e para a preservação da floresta e de seus povos.
Segurança pública
A segurança pública é um dos temas mais críticos na Amazônia. Em 2024, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou que facções criminosas atuam em 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal, evidenciando o avanço do crime organizado na região. Essas organizações exploram rotas fluviais e terrestres, utilizadas tanto para o tráfico de drogas como para contrabando e transporte de minérios extraídos de forma ilegal.
No campo do combate, operações como a operação Ágata Amazônia, coordenada pelo Ministério da Defesa, intensificaram a presença das Forças Armadas em mais de 600 mil quilômetros quadrados de fronteira, com foco no enfrentamento ao garimpo ilegal e ao tráfico de drogas. Já a Polícia Rodoviária Federal informou que, em 2025, realizou a maior apreensão de ouro do garimpo ilegal de sua história, interceptando 143 quilos do minério nas rodovias do Pará e de Roraima.

Um caso emblemático também marcou a pauta de segurança: os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, em junho de 2022, no Vale do Javari. Em 2025, o Ministério Público Federal denunciou Ruben Dario Villar, conhecido como “Colômbia” e que apontado como mandante do crime. Sobre o episódio, Beto Marubo, membro da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) declarou ao jornal The Guardian que “a ausência do Estado possibilita a consolidação de regiões controladas por traficantes”, reforçando a necessidade de maior presença governamental em áreas isoladas.
Alimentação sustentável e água potável
A insegurança alimentar e hídrica é outro ponto de destaque. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em 2024 mostrou que 69,3% dos domicílios urbanos de Itapiranga (AM) vivem algum grau de insegurança alimentar, e que 46,2% sofrem insegurança hídrica. A pesquisa concluiu que a falta de acesso à água potável está diretamente associada às formas mais graves de insegurança alimentar.
Em nível regional, dados da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) apontam que apenas 60% da população amazônica tem acesso à água potável e somente 14% dispõe de esgotamento sanitário adequado. Essa precariedade compromete a saúde pública e amplia a dependência de políticas emergenciais.
Para enfrentar o problema, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social informou, em maio de 2025, que ampliou o Programa Cisternas para comunidades ribeirinhas e indígenas, instalando sistemas que captam e armazenam água da chuva.
Outro ponto chave é sobre a caça de subsistência de comunidades tradicionais, necessária para a sobrevivência dessas pessoas, mas que deve ter a atenção de ações educativas, para que não exceda aquilo que a floresta pode oferecer sem ser explorada de modo prejudicial.
Direitos humanos
A violação de direitos humanos na Amazônia está relacionada à exploração ilegal, à violência contra defensores da floresta e à falta de políticas públicas universais. A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece, desde 2010, o acesso à água potável e ao saneamento como direitos humanos essenciais. No entanto, relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) indicam que esses direitos ainda não são plenamente garantidos para indígenas, quilombolas e ribeirinhos da Amazônia.
A atuação de movimentos sociais tem sido fundamental. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), por exemplo, denuncia constantemente ameaças à vida e ao território de lideranças locais. Isso porque muitas vezes os crimes ambientais (como o garimpo, desmatamento, etc) estão ligados à violações de direitos, principalmente de populações tradicionais na região.
(portalamazonia)