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Com bom humor, capixaba enfrenta o mosquito Mansonia

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— Eu cozinho carne na panela e em cima do fogão tem uma lâmpada. Eles invadem a cozinha, ficam ali na claridade, e quando eu destampo a panela não sei se vamos comer carne pura ou com mosquito – conta a capixaba Maria Honório bem humorada.

Envolta por uma improvisada saia com tecido de mosquiteiro, essa senhora aparece em frente à pequena sorveteria Bom Sabor, na periferia de Jacy-Paraná, a 88 quilômetros de Porto Velho. Ali também está o pastor da Igreja Assembleia de Deus, Aflaudísio Pascoal Santos, baiano de Itabuna e morador em Cerejeiras (RO) a partir de 1981.

Numa noite memorável estive com essa gente, com quem compartilhei picadas do mosquito Mansonia, um dos mais chatos em atividade na Amazônia Ocidental Brasileira.

Segundo o pastor Aflaudísio, o alvoroço nos galinheiros, mesmo aqueles telados, dá pena. Na Chácara Três Coqueiros ele e Cleber Souza Silva enfrentam os mosquitos na base do veneno. O revés acontece dentro da própria casa, onde a pequena Bárbara, de 2 anos, está alérgica e sofre mais ainda devido ao cheiro de inseticida espalhado, mesmo os aromáticos.

Quanta judieira há no galinheiro da professora aposentada Lúcia Monteiro, na Linha 2 ! Não apenas nele, mas em varandas e quintais com cachorros, gastos de estimação e passarinhos.

Há seis anos ali, Lúcia conta que desde a formação do lago acabou o sossego dela e da vizinhança.

Leva os repórteres ao galinheiro de madeira velha, parte dele coberto com tela tosca esverdeada. Na parte da frente, galinhas chocadeiras tanto se incomodavam com o ataque dos mosquitos que trincavam os ovos, além de picar-lhes o pescoço, sugando sangue.

“E os pintinhos, coitados, morreram sem resistência” , ela relata.

E o mosquito continua fazendo estrago em Jacy, Nova Mutum Paraná e adjacências.

O mosquito Mansonia é mais agressivo que outros já conhecidos na Amazônia e ataca os seres humanos quando entram em áreas de floresta, alertou esta semana o biólogo Flávio Aparecido Terassini, da Faculdade São Lucas, mestre pela Universidade de São Paulo (USP). Entre 2001 e 2003 ele trabalhou na região do Baixo Madeira e no Rio Machado, onde havia grande proliferação desse inseto. “No início da década pouco se sabia a respeito dele, porque o mosquito anofelino [Anopheles spp. Phlebotomineos, transmissor da malária] ocupava a maior parte dos artigos científicos”, lembra Terassini.

Para entomólogos, o Mansonia sempre foi abundante em áreas com águas e florestas, situação comum nos lagos das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira.

“Estados Unidos e Canadá têm sérios problemas com ele, que não é algo específico aqui do Rio Madeira”, comenta. Desde 1999 o biólogo atua nas áreas da Zoologia e Parasitologia Médica, com doenças tropicais na Amazônia Ocidental Brasileira.

Estudos foram feitos no Instituto de Ciências Biomédicas 5 USP em Monte Negro [Vale do Jamari, a 248 quilômetros de Porto Velho], em parceria com a Faculdade São Lucas.

Ao longo da pesquisa, ele constatou que a reprodução do Mansonia ocorreu em plantas, especialmente o aguapé. Assim, a situação do Projeto Joana D’Arc e dos distritos de Nova Mutum-Paraná e Jacy-Paraná evidencia alterações ambientais [com cheias ou pelo próprio represamento] que resultam na sobrevivência de algumas espécies em detrimento de outras.

MONTEZUMA CRUZ
Fotos Ytalo Andrade


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