As mulheres de Rondônia - Por Assis Canuto
Participei de mais uma cavalgada, dessas realizadas nas linhas e nas fazendas de Rondônia, um costume sadio e que já está arraigado em nossa cultura. Mas essa de ontem foi revestida de um caráter especial, organizada e conduzida por um grupo de mulheres da região de Ariquemes e muito propriamente denominada de " Cavalgada das Divas"!
Estou fazendo esse registro para elogiar e parabenizar todas as mulheres que participaram e deram um colorido muito especial a aquela realização! Mas quero aproveitar também para falar um pouco do importante papel da mulher no desenvolvimento de nosso estado.
Não é muito comum valorizar e reconhecer o papel da mulher em nosso universo e muito menos destacar a sua inegável contribuição para o nosso desenvolvimento, mas dando a " mão à palmatória", ultimamente em minhas reflexões sobre esse fabuloso estado em que vivemos, tenho feito questão de registrar esse decisivo papel da mulher em tudo que aconteceu e acontece.
Para tanto tenho buscado lembranças e registros de tempos bem antigos, a começar pelos idos dos anos de 1700, quando os bandeirantes se embrenharam pelos nossos sertões em busca do desconhecido e a procura de ouro, diamante, especiarias outras e de índios para vendê-los como escravos.
Já naquele tempo as mulheres eram deixadas sozinhas para cuidar dos filhos e de todos assuntos que mereciam ser tratados na ausência dos maridos. Aqui na Amazônia (pois não há ainda como falar de Rondônia porque nem se pensava na sua futura existência) não foi diferente nos anos 1800, quando garimpeiros e seringueiros também deixavam as suas mulheres tomando conta "de tudo", enquanto se embrenhavam no seio da floresta e nas barrancas dos rios à procura de produtos de valor comercial que eram abundantes, mas de difícil apropriação!
Mais recentemente, agora já podendo falar de Rondônia, o papel da mulher continuou muito importante e até decisivo para a nossa colonização!
No começo (década de 70) quando tudo era difícil e vivia-se mais de esperança do que de realidade, comecei a distribuir terras para famílias que aqui estivessem ou que aqui chegassem em busca de novas oportunidades! Foi um início difícil e de muitos sacrifícios e de privações para todos. Mas enfrentamos com disposição e muita vontade.
Aqueles colonos recebiam os seus lotes e começavam as derrubadas.Faziam ali barracos e " tapiris" e para lá levavam suas famílias, geralmente a esposa ou companheira e os filhos, via de regra todos menores, e passavam a "viver" isolados no seio da floresta.
Com pouquíssimos recursos de sobrevivência, não desistiram e acreditaram nessa nova e talvez última oportunidade de "vencerem na vida".
Fui artífice e testemunho dessa verdadeira epopeia que se travava aqui no nosso "interior". Por isso, posso falar das dificuldades e incertezas dos primeiros momentos. Mas posso também e proclamar da "valentia" daqueles colonos e seringueiros dos " primeiros tempos"!
Foi uma luta de muitos vencedores e de poucos vencidos.Mas fomos em frente e hoje podemos ter orgulho de viver nesse estado maravilhoso que tantas oportunidades a tantos deu!
É aí que preciso voltar a falar das mulheres.Essas, talvez, as que mais sentiram e sofreram, pois enquanto os homens estavam na "linha de frente," elas permaneciam nos barracos e tapiris cuidando dos filhos, protegendo-os das intempéries e das doenças (muitas por elas desconhecidas). Sem nenhum recurso, sem nenhum remédio, sem ter com quem "aconselhar-se", utilizando plantas nativas e outras já plantadas como fonte de remédios e rezando para que as coisas melhorassem.
Essas preces não escutamos, mas com certeza foram mais úteis do que os " remédios improvisados". E os homens na mata, derrubando, queimando e plantando. Não tinham a menor ideia das dificuldades enfrentadas pelas mulheres nos barracos e tapiris, lutando pela sobrevivência do dia a dia.
Quanta lamentação escondida, até copiosos choros abafados, mas sem recurso e sem conforto, a comida sempre estava pronta e a roupa sempre lavada!
Essa guerra foi travada a pouco tempo e aqui mesmo em Rondônia. Poucos dela se lembram! Mas essas mulheres e tantas outras, verdadeiros baluartes de nosso desenvolvimento, não receberam o galardão e nem as homenagens a elas devidos.
Por isso é que faço esse registro e cito essa cavalgada como um simbolismo das lutas das mulheres de Rondônia e do Brasil, sem elas as vitórias são incompletas e não possuem o doce sabor do dever cumprido!
(Assis Canuto)
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