Entenda um pouco mais a respeito da ajuda humanitária e da intromissão americana na Venezuela | Notícias Tudo Aqui!

Entenda um pouco mais a respeito da ajuda humanitária e da intromissão americana na Venezuela

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Os Estados Unidos declaram que estão simplesmente realizando uma ação humanitária ao enviar toneladas de alimentos, medicamentos e roupas para a Venezuela, com destinatário certo: o autodeclarado presidente Juan Guaidó., que receberá a carga na fronteira, depois de ter baixado um ato - paralegal ou ilegal - autorizando o ingresso da ajuda no país. Já Nicolás Maduro, a única autoridade que pode adotar a medida sob cobertura constitucional, aprova a entrada de ajuda humanitária apenas de Vladimir Putin, que já o ajuda financeiramente e promete chegar ao apoio militar, se necessário.

O cenário de irracionalidade se forma como preparatório a algum tipo de dilúvio. Donald Trump, agindo em seu próprio continente, ao invés de enviar ajuda humanitária aos centro-americanos e mexicanos que tentam entrar nos Estados Unidos, manda tropa militar reprimi-los e cria um fantoche legal - o "estado de emergência" - para continuar a construir seu inacreditável muro, tão vergonhoso quanto o de Berlim, levantado pelos soviéticos para evitar o esvaziamento da República "Democrática" da Alemanha.

Como sabem muito bem os americanos, trata-se de business as usual. Podem ser interesses comerciais ou geopolíticos até legítimos ou defensáveis. Mas a história tem que ser contada exatamente como é. Só assim a fantasia manipulada não dará vez a surpresas desagradáveis. A maior delas seria o Brasil perder a condição de líder arbitral no continente, posição magistralmente estabelecida quando o barão do Rio Branco estabeleceu ao comandar a definição das fronteiras amazônicas como chanceler brasileiro. O litigioso tem agora como chefe do Itamaraty essa figura bizarra de Ernesto Araújo, chefiado pelo capitão - inexperiente na matéria - Jair Bolsonaro.

Acompanhei pessoalmente um episódio semelhante que aconteceu em 1982. Muammar al-Gadaffi (então Kadafi) mandou três aviões com ajuda humanitária à Nicarágua dos sandinistas (cujo líder, Daniel Ortega, é, hoje, ditador). Um deles ficou em Recife. Outros dois cargueiros russos pararam em Manaus. Alertado pela CIA, o governo do patético general Figueiredo reteve os Ilyushin, mas teve que negociar, porque a Líbia era importante fornecedora de petróleo ao país. No maior furo jornalístico da minha carreira, revelei - em O Estado de S. Paulo - que os dois aviões continham armas, mísseis e até avião de combate. O governo não apreendeu os aparelhos, mas eles acabaram retornando à origem.

Em tamanho microscópico, tento fazer a mesma coisa hoje. Bolsonaro & Cia. estão levando o Brasil por um caminho perigoso, ainda que declarando rejeição a qualquer intervenção militar na crise. É legítima a posição brasileira contra Maduro. O que pode ser feito contra o ditador pelos meios legais e diplomáticos, deve ser feito. Sem comprometer a intensa agenda bilateral, mas para forçá-lo a renunciar, mesmo que sob um acordo como o que os próprios EUA fizeram com alguns ditadores do passado (deixando-os levar parte da fortuna que acumularam pelo roubo ao tesouro público), para a realização de uma nova eleição geral. Com todo poder decisório nas mãos dos venezuelanos, sem interferência estrangeira direta ou ilegal.

Parace que o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que irá ao encontro dos chanceleres em Lima, no Peru, na segunda-feira, está mais próximo dessa posição do que Bolsonaro, expressando - ao menos parcialmente - o pensamento dos militares que seguiram a diretriz de Rio Branco. Tomara que seja assim.

LÚCIO FLÁVIO PINTO
De Belém


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