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O vice foi. E voltou.

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Sustentam alguns historiadores que Jânio Quadros despachou para a China comunista seu vice-presidente, João Goulart, numa viagem oficial àquele país, na época muito mais distante e enigmático do que hoje. Com a manobra sagaz, queria estar mais à vontade para dar o golpe de estado que planejou, disfarçado de renúncia, no dia do soldado, 24 de agosto de 1961.

Entusiasmado pela votação recorde e consagradora que teve na eleição de 1960, Jânio achava que teria o mesmo apoio ao pedir demissão do cargo de presidente da república, seis meses depois de assumi-lo. Em discursos contundentes, atribuía ao Congresso Nacional a responsabilidade por não mudar o Brasil a partir de um programa de moralização da coisa pública, confirmando a manifestação da maioria do eleitorado, de que político é corrupto e venal, merecendo a vassourada de limpeza moral do político matogrossense-paulista. Ele voltaria como De Gaulle, nos braços do povo e com superpoderes. Um ditador escolhido por um plebiscito por ele convocado sem precisar caracterizá-lo como tal. Coisa de visionário - ou louco.

Os políticos trataram de dar por acabado formalmente o ato unilateral de exoneração do inconfiável e imprevisível JQ e empossaram o presidente da Câmara dos Deputados, tentando defenestrar o indesejável Goulart (que, graças ao mecanismo eleitoral de então, que permitia a eleição autônoma do vice-presidente da república, derrotou o companheiro de chapa de Jânio, o mineiro Milton Campos, e se livrara do peso do seu aliado na coligação PSD/PTB, o general Lott, esmagado por Jânio). 

O golpe militar esteve na ordem do dia, mas houve a resistência a partir do Rio Grande do Sul de Brizola e Jango, voltando da China, em meio a incertezas e temores, foi empossado no lugar que a constituição lhe reservava, duas semanas depois .

O general Hamilton Mourão foi despachado para a China, passados 58 anos daquela grave crise, mas voltou tranquilo, embora tendo que fazer cinco escalas antes de pousar em Brasília, a bordo de um jato menor da FAB, enquanto o titular e maior levava Bolsonaro à vizinha Argentina. Não só voltou em paz, abrindo caminho para a viagem de Bolsonaro, prevista para outubro, como trouxe uma notícia com características de surpresa: o Brasil não se submeterá ao pedido de Donald Trump de não aceitar a presença da empresa gigante de telecomunicações e informática chinesa, a Huawei.

O presidente americano diz que ela, por ser estatal, faz espionagem para o governo comunista da China. Conseguiu dobrar o Japão e a Austrália. Mas, se depender do que disse Mourão ao repórter do jornal Valor Econômico, no seu gabinete de vice, em Brasília (embora no exercício da presidência), totalmente relaxado, desta vez Trump não conseguirá o que quer. Nem o Itamaraty, seu aliado incondicional - ou subordinado.

O QUE FAZER

O então deputado federal (depois senador e presidente da Federação das Indústrias do Pará por 40 anos), Gabriel Hermes Filho, um conservador que conseguiu passar para a UDN depois de ser do PTB, sobrevivendo na Arena, estava na comitiva de Jango à China. Perguntei-lhe, numa das muitas conversas que nossas excelentes relações pessoais permitia, o que faria ao chegar ao Brasil.

Respondeu-me que, se dada ordem de prisão ao vice, pegaria o pulso dele e declararia, alto e bom som: pode deixar, ele já está preso. Mas se, ao contrário, Jango fosse recepcionado com pompa e circunstância, não titubearia: pegaria o vice pelo mesmo pulso, levantaria seu braço e gritaria - a plenos pulmões, como o poeta russo Maiakóvski - um viva ao presidente.

Aliás, cabe lembrar que o mineiro mais mineiro das montanhas, José Maria Alkmin, quando ministro da Fazenda, se manifestou pelo restabelecimento das relações diplomáticas com o dragão vermelho, que perturbava o sono dos udenistas sempre alertas. Alkmin foi vice do primeiro presidente militar depois do golpe de 1964, o marechal Castelo Branco, que representou o último elo de liderança civil entre os generais que fizeram plantão na presidência da república.

Ah, os políticos: são eternos, a despeito de tudo.

LÚCIO FLÁVIO PINTO
Belém (PA)


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