Servidor Público: o bode expiatório de todas as mazelas

Alguns segmentos do funcionalismo público, nos três níveis de poder, têm recebido com preocupação – mesmo os que o sufragaram na eleição presidencial – as medidas acionadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, destinadas a remodelar o funcionamento da máquina pública, a chamada reforma administrativa.
Modestamente, incluo-me entre os que acreditam que a corda vai arrebentar, mais uma vez, do lado das classes menos aquinhoadas, que não têm poder de pressão, costumeiramente as mais prejudicadas e perseguidas por administradores e políticos cúpidos, que insistem em tratá-las com desdém, o bode expiatório de todas as mazelas que impregnam o setor público, uma espécie de categoria mendiga, sempre de pires na mão à espera que lhe caia algumas migalhas das mesas palacianas. Tudo isso, evidentemente, sob os aplausos velados de uma minoria que de tudo faz para desmoralizar e ridicularizar a maioria dos que presta serviços à máquina oficial.
Apesar de não ser especialista em nada, entendo que a proposta de reforma administrativa precisa estar fincada no ideal de justiça e na renovação de conceitos e estruturas arcaicas, mas, pelo que se tem acompanhado e ouvido nos bastidores da politica, a burocracia palaciana, aliada ao histórico de muitos parlamentares com assento no Congresso Nacional, não deixam dúvidas de que a discussão e consequente aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32/2020) serão marcadas por acordos espúrios e discursos demagógicos, que desde há muito vêm caracterizando o nosso modelo politico, aparecendo, frequentemente, como um foco de infecções a reclamar tratamento cirúrgico pelo povo.
Que os servidores públicos possam mais uma vez cerrar fileiras para defender seus interesses contra as maquinações e os golpes orquestrados por políticos profissionais e dirigentes públicos insensíveis, sempre preocupados com seus mesquinhos e reprováveis privilégios em detrimento das camadas mais sofridas da sociedade. É inaceitável que essa gente continue usando de todos os meios e métodos condenáveis para manter o velho estado de coisas deploráveis que temos.
Quer queira, quer não queira, o desmonte do serviço público começou no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, passando pelas administrações nefastas de Lula e Dilma, chegando ao governo do presidente Jair Bolsonaro. A proposta de reforma administrativa precisa alcançar todos os segmentos funcionais, e não buscar apenas manter privilégios de uns poucos em prejuízo da maioria. Caso contrário, redundará inócua.
Por Valdemir Caldas
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