ATOS DA NATUREZA - 'As capivaras comeram as bananeiras': roedores invadem condomínio argentino | Notícias Tudo Aqui!

ATOS DA NATUREZA - 'As capivaras comeram as bananeiras': roedores invadem condomínio argentino

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"Anamá, as capivaras comeram as bananeiras", avisou, por telefone, o atual inquilino de Anamá Ferreira, ex-modelo e atriz brasileira famosa na Argentina, da destruição das árvores que ornamentavam o jardim da casa dela em Nordelta, complexo de condomínios de luxo construídos sobre zonas úmidas a cerca de 40 minutos do centro de Buenos Aires.

Anamá, que chegou ao país vizinho em 1976 e ganhou notoriedade nos anos 1980, conta a história com humor: em apenas um dia, os pesos gastos no paisagismo da entrada da propriedade foram devorados e certamente depois se transformaram em bolinhas de fezes que se espalham nos jardins da região. Dona de uma agência e uma escola de modelos com dez unidades no país, a Anamá Models School, a brasileira diz que investiu 30 mil pesos argentinos (cerca de R$ 1.600) nas bananeiras.

Os cocôs, jardins devastados, capivaras nadando nas piscinas e até ataques a cachorros pequenos (uma moradora divulgou a foto de sua schnauzer miniatura muito machucada, que segundo ela estava na boca de uma capivara) são algumas das reclamações de vizinhos dos condomínios fechados localizados no delta do rio Paraná, em Tigre, na Grande Buenos Aires.

Nos últimos dias, as queixas se somaram ao vídeo de um motoqueiro derrubado por uma capivara que atravessou a rua correndo, provavelmente assustada com alguma coisa. Os incidentes, que deixaram a elite "em vigilância", acabaram ganhando a atenção da imprensa local e os roedores viraram sensação nas redes sociais, como líderes de uma espécie de revanche da natureza diante do avanço da expansão imobiliária sobre seu habitat natural.

A revolução dos bichos

Entre os memes, apareceram montagens como a de membros do Talibã com rostos de capivaras no palácio presidencial do Afeganistão, uma capivara no lugar da famosa menina com um sorriso malicioso diante de uma casa em chamas, uma capivara lendo Karl Marx, entre outras sátiras com os roedores que "ocuparam" a propriedade de endinheirados das classes média alta e alta argentinas do Nordelta.

Diversos internautas já se manifestaram em defesa das capivaras, afirmando que são os únicos animais que merecem estampar as notas de pesos argentinos.

"Todo mundo nas redes está a favor dos mais fracos, que são as capivaras", diz Anamá, lembrando que até um dirigente social de esquerda argentino, Juan Grabois, se manifestou com uma frase de Che Guevara: "Com as capivaras, hasta la victoria siempre. Se mexerem com uma, vão mexer com todos nós", bradou em uma rede social.

"Olha até onde as capivaras chegaram", ri a brasileira, pontuando, no entanto, que esta "não é uma luta da natureza contra os ricos, é uma luta para que esses animais possam viver tranquilos". "Se as pessoas vieram morar perto da natureza, elas não podem de repente detestar os bichos", diz ela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Cidade-povoado

Criada pelo empresário milionário e dono do Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires), Eduardo Constantini - que também se pronunciou a favor das capivaras, que chamou de "seres indefesos" — a "cidade-povoado" Nordelta começou a ser construída no ano 2000. Hoje, são mais de 1.600 hectares com escolas bilíngues, igreja, centro judaico, posto de gasolina, clube, campo de golfe, quadras esportivas, bares e restaurante no complexo, habitado por mais de 40 mil pessoas.

A apenas alguns metros da guarita da entrada principal - controlada por guardas, câmeras e cancelas — há um shopping com supermercado. Há também vigilância para o acesso a cada "bairro particular" e, apesar de barrarem o acesso a jornalistas por questões de segurança, a reportagem do TAB esteve em um deles e pôde comprovar pessoalmente que os moradores precisam digitar uma senha para entrar. Em sites imobiliários é possível encontrar casas à venda no complexo por preços que vão de 100 mil a 4,5 milhões de dólares, de acordo com a metragem e a localização.

Nas ruas internas, placas alertando para o limite de velocidade criam obstáculos em ziguezague para impedir o trânsito a mais de 20 km/h, o que também é controlado por radar, sob pena de multas, devido à circulação de crianças. Diante das belas construções, estão estacionados carros de luxo, mas como alternativa de deslocamento para a capital também há uma linha de ônibus que percorre o complexo e até um barco.

Habitat natural

Mas a ideia é que os moradores tenham acesso ao máximo possível sem sair do complexo, que não para de ser ampliado. Atualmente há enormes terrenos em obras, o que para a artista Verónica Espinosa, que mora no Nordelta há seis anos, explica o maior número de capivaras nas áreas residenciais nos últimos meses.

"Estão construindo mais moradias, um centro cívico, uma clínica médica. Não há uma superpopulação de capivaras, o que acontece é que estão desmantelando o habitat natural delas, onde ficam suas tocas e alimento, então elas se deslocam em busca do que comer. Elas não viriam ao meu jardim, onde estão meus cachorros, se tivessem um lugar melhor. Por isso pedimos que haja uma reserva para elas", diz, contando que plantou agapantos em seu jardim, mas que "evidentemente" essa planta de flores roxas apetece as capivaras que devoraram tudo em dois dias.

Espinosa conta que esses roedores sempre estiveram no local, assim como tartarugas aquáticas, peixes, diversas aves, gatos selvagens, lebres, e outros animais, mas a quantidade de capivaras aumentou muito nos últimos meses. Já a docente Nora Nouche, da organização Nuevo Delta, conta que as capivaras se perdem em meio às cercas que protegem as propriedades, e muitas vezes não conseguem chegar até a água, ficando em meio à circulação de veículos.

Para muitos, o complexo de elegantes casas, com caiaques estacionados em píeres particulares nas lagoas, ao longo das quais há bonitas pontes de pedra, foi um refúgio contra a insegurança. Foi o caso de Nouche, que morava em Vila Adelina, na Grande Buenos Aires. "Marcaram minha casa com um símbolo. Limpei e marcaram de novo. Tinha muito medo de que acontecesse alguma coisa com minha filha e passei quase um mês sem dormir à noite", lembra ela, que perdeu o marido, copiloto, em um acidente de avião em 1999. Com a indenização que recebeu, comprou um terreno no local, há mais de 10 anos, e construiu sua casa aos poucos.

Mas nem o que pareceria ser um paraíso residencial particular está isento de problemas. Prova disso foi um tuíte indignado de Anamá Ferreira no mês passado, com uma foto de uma capivara ferida por uma bala. Segundo moradores, esse foi somente um dos casos de ataques, já que também foram encontrados veneno e armadilha contra os roedores.

Disputa territorial

Apesar de andarem em grupo e terem um tamanho considerável — chegam a 1,30 metro de comprimento e pesam até 65 kg — as capivaras são animais tranquilos e geralmente só observam os humanos enquanto continuam comendo. "Se você aproximar muito, elas se afastam e se jogam na água", relata Espinosa, pontuando que os ataques a cães provavelmente aconteceram para proteger crias.

Na tarde do último sábado, o TAB presenciou um grupo numeroso de capivaras descansando sob um arbusto, enquanto eram fotografadas por curiosos nas ruas do complexo. Dias depois, três comiam plantas ao lado de uma piscina e pularam na água quando o morador da casa se aproximou.

Mas os recentes incidentes têm agitado os grupos de WhatsApp de moradores. Como solução, alguns defendem a castração de machos, outros o translado dos animais para outros setores, há quem sugira a criação de uma reserva e quem defenda a caça de capivaras.

Anamá acredita que elas deveriam ter alguma saída natural para o Rio da Prata, pois imagina que a grande população de capivaras já deve ser bem superior às 400 estimadas por alguns vizinhos. Ela atribui o atual problema à frequência de reprodução desses animais, e diz que "é uma questão de matemática".

Já Nouche defende a criação de uma reserva e um corredor verde para os roedores. "As capivaras sempre estiveram aqui, mas antes víamos mais esporadicamente, porque elas se sentem mais protegidas no meio da vegetação ou na lagoa. Mas o Nordelta cresceu muito nos últimos anos com novos bairros e edificações, e elas ficaram sem território", diz. "Tem quem se incomode, que deveria estar morando na cidade de Buenos Aires, mais longe da natureza. Felizmente, somos mais os que queremos viver em comunhão com elas", conclui.

(Uol)


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