“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”
Justificando irregularidades, uma autoridade suspende o pagamento de gratificação devida a servidores, mas, sem-cerimônia, nomeia para posto de mando um condenado. E o que dizer daquele dirigente acusado de fraudar a quantidade vagas de UTI para tornar menos rígidas as medidas restritivas de isolamento social. São exemplos de dois absurdos, para não carregar na adjetivação, mas a lista é extensa. Se cada um deles fosse citado, o espaço não seria suficiente para acomodá-los.
O mal de administradores da coisa pública consiste em não assumir a responsabilidade do que fizeram, ou deixaram de fazer. Alguns preferem cantar vantagens quando as coisas dão certo, mas não têm a humildade para reconhecer o fracasso ou eventuais irregularidades de que se revestem seus atos.
Não se diga, contudo, que esse tipo de conduta se restrinja a uma esfera de poder. Pelo contrário, os fatos estão ai para mostrar que eles alcançam todos os níveis, federal, estadual e municipal. Para aquilo que vai bem, o autoelogio, a publicidade oficial milionária, a incensar o dono do poder como o grande benfeitor; porém, para aquilo que vai mal, o silêncio, que mais se associa com cumplicidade, a fuga à responsabilidade ou as desculpas esfarrapadas, sem contar os que têm a cara de pau de atribuir o malogro ao azar, às circunstâncias, aos fatores externos e outras baboseiras do gênero.
É velho o dito popular que ensina “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Ao admoestar lideres religiosos de seu tempo Jesus falou: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés.
Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem.
Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam”. Não deveria ser assim, mas é. O filósofo e senador Marco Túlio Cicero disse que, se fosse preciso escolher entre três sentenças – cometer injustiças e não sofrê-las, cometê-las e sofrê-las, ou evitar ambas –, o melhor seria cometê-las impunemente. Tem gente que acha mais fácil apontar o dedo na direção do outro para condená-lo do que reconhecer suas próprias fraquezas.
Por Valdemir Caldas
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