DOR QUE NÃO PASSA - Técnico do Galo presenciou morte do filho de 9 anos em 'viagem dos sonhos'
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O Atlético-MG tem um novo técnico, o argentino Antonio "Turco" Mohamed, de 51 anos. Desconhecido do torcedor brasileiro, sua chegada para comandar o campeão nacional é cercada de desconfiança. Ele, porém, é um exemplo de superação na Argentina e hoje participa com desenvoltura de programas de entrevistas na TV de seu país quando o assunto é resiliência humana.
Turco viveu uma pesadíssima tragédia familiar em 2006, durante a Copa do Mundo da Alemanha, a "viagem dos sonhos" que faria com seu filho Faryd, de nove anos, igualmente apaixonado por futebol. Mohamed pai e filho estavam no Estádio Olímpico de Berlim vendo a eliminação da seleção argentina ante a Alemanha — na volta, sofreram um acidente na estrada. Quatro dias depois, Faryd morreu. Turco participou de todo o socorro tentando salvá-lo.
É por isso que tornou-se viral o vídeo de Turco chorando sozinho, no banco de reservas, ao ser campeão pelo Monterrey em 2019. "São as promessas que fiz a Faryd", explicou em julho do ano passado ao programa "PH", o "Podemos Hablar", ("Podemos Falar"), um dos campeões de audiência da TV argentina, no canal Telefe.
"Faryd era torcedor do Monterrey. Fui técnico da equipe entre 2015 e 2018, mas não pudemos ser campeões. Em outubro de 2019, me voltaram a contratar porque o time vinha mal e restavam apenas cinco rodadas. Ganhamos tudo e fomos campeões em dezembro."
"Isso foi tocar o céu com as mãos. Por isso não dirigi outro time desde então", contou à Telefe nesta entrevista de julho do ano passado. "Desde que meu filho morreu, ia ao banco com um rosário dele. Desde este dia em que fomos campeões, não levo mais."
"O golpe mais baixo para um pai é perder um filho. Estive no programa há três anos e me custava muito falar disso. Hoje, o único trabalho que tenho é lembrar-me dele como pai. Estou nesse processo de chegar a lembrar-se dele com um sorriso. Ainda faltam alguns passos, mas seguramente vou chegar a esse lugar onde terei a paz que preciso."
Como foi a tragédia
Em 30 de junho de 2006, Mohamed, então com 36 anos, viajava com amigos e seus três filhos até o aeroporto de Frankfurt depois de ver a Argentina ser eliminada do Mundial, pela Alemanha, nas quartas de final, em uma dramática definição por pênaltis. O acidente ocorreu na autopista A4, entre as cidades de Dresden e Eisenach, quando um carro dirigido por um alemão de 22 anos acertou o motorhome de Mohamed, que saiu ferido e correu risco de amputar uma das pernas. O único morto, porém, foi seu filho Faryd, quatro dias depois (4 de julho). Ao todo, eram 16 pessoas no veículo.
"Eu me revoltei com Deus", assume sempre que toca no assunto. "Mas ter outros dois filhos, amigos e família me deu a força necessária. É o golpe mais baixo que um ser humano pode receber."
(Uol)
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