OPINIÃO DE J.R.GUZZO - A doença da Europa | Notícias Tudo Aqui!

OPINIÃO DE J.R.GUZZO - A doença da Europa

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Por que nações ricas da Europa, enfurecidas pela ideologia da esquerda, se recusam a aceitar o fim das carências sociais e da pobreza?

 

O presidente Emmanuel Macron acaba de realizar uma proeza que poderia entrar para o livro de recordes das piores ideias políticas que um chefe de Estado já teve até hoje na França. Macron pensa, vive e age dentro de uma convicção fundamental: “O centro sou eu”, como o rei Luís XIV estava convencido de que “o Estado” era ele, ou como o presidente Lula proclama, falando de si próprio, que “eu sou vocês”. Coitado do centro na França. Macron conseguiu, na eleição que ele próprio convocou com a certeza de que sairia mais forte, fortalecer ao mesmo tempo a extrema esquerda e a extrema direita — exatamente o oposto daquilo que queria. O seu plano “A”, que era ficar em primeiro lugar, deu errado: quem ganhou foi a esquerda. Seu plano “B”, que era exterminar a direita na vida política da França, deu errado também: o partido da sua demônia-mor, Marine Le Pen, passou de 88 deputados na Assembleia Nacional para 125. Perdeu, porque pensou em ficar no primeiro lugar e acabou no terceiro, mas continua perfeitamente viva — e, pior que isso, vai seguir perturbando a vida do presidente, mesmo porque seu governo, diante da vitória da esquerda radical, passou a correr o risco de virar uma salada em que ninguém concorda com ninguém sobre praticamente nenhum assunto.

A única solução, para Macron, era ganhar. Não deu. Ele terá agora de colocar no lugar do primeiro-ministro, que era do seu mesmo grupo político e já teve de pedir demissão do cargo, algum nome da esquerda que lhe fazia oposição até a véspera das eleições. Pode não ser o pretendente mais radical — no caso, um morto-vivo ideológico de outras eras que defende coisas como o imposto de renda de 90% para ganhos a partir de 400 mil euros por ano (ou R$ 200 mil por mês) e se recusou a participar da mais recente manifestação antissemita realizada em Paris. Mas terá de ser algum peixe graúdo da esquerda, que trabalha contra ele desde que chegou à Presidência da República, em 2022. Não querem sua reforma da Previdência Social, que aumentou de 60 para 64 anos a idade mínima da aposentadoria. Não querem as invenções usinadas na criatividade econômica do governo, como os “minijobs” que criam falsos empregos com falsos salários, o incentivo para consertar sapatos, em vez de comprar um novo par, e outras novidades que não podem dar certo. Não querem restrições, nem mesmo as moderadas, sobre a imigração. Vão ter de conviver uns com os outros daqui para a frente.

A França já viveu muitos períodos de tumulto político — provavelmente não existe no mundo uma cidade que tenha sido incendiada tantas vezes pela própria população quanto Paris. Como em todas essas ocasiões, os políticos vão conseguir alguma saída para os problemas que eles próprios criam, e os franceses vão sobreviver mais uma vez aos seus governantes. Esta última eleição, porém, deixa mais claro que em qualquer outro momento como um país que deveria estar com a vida ganha, com um PIB de US$ 3 trilhões e uma renda per capita na casa dos US$ 45 mil por ano, se deixou intoxicar com rancores ideológicos que acabaram criando ali uma sociedade de tensões, de incompreensão mútua e de descontentamento. O foco central dessa doença, como em outras nações ricas da Europa, está na recusa cada vez mais enfurecida da esquerda, das classes culturais e das forças de ocupação burocráticas que controlam os governos em aceitar o fim da pobreza e das carências sociais como um resultado do avanço da história. Exigem que exista escassez, miséria e “desigualdade” para continuarem a viver da exploração dessas “causas”.

Não é mais possível, hoje em dia, fazer uma nova revolução comunista na Europa, e provavelmente em qualquer lugar do mundo. A estratégia geral, então, passa a ser a sabotagem — é preciso impedir o bom funcionamento dos sistemas de produção capitalistas e forçar as pessoas a acreditarem que a sua vida está sendo um pesadelo. Em nenhum momento da história a Europa teve tanto bem-estar material como tem hoje. Nunca houve tanta igualdade e inclusão social, acesso à cultura e segurança para as pessoas. Por isso mesmo, a extrema esquerda precisa, a qualquer custo, anular as realidades que tornam sua existência irrelevante nos países bem-sucedidos do mundo — e diretamente nociva para os que querem um dia chegar lá. Se os problemas do ser humano foram resolvidos, então é preciso criar problemas que não existem: a “crise climática”, a “extinção dos recursos naturais”, a produção excessiva de alimentos, e todas essas misérias que bilionários, cientistas e “influencers” anunciam todos os dias. Se não há pobres para lutar contra os ricos, então criam-se os pobres que forem necessários. Se há paz, então cria-se a discórdia.

Um dos resumos mais esclarecedores da neurose europeia é a importação de miséria. A esquerda denuncia todos os dias o inferno capitalista que está arruinando a França, por exemplo — mas exige que esse inferno abra cada vez mais as suas fronteiras para os africanos que procuram ali o paraíso. Não querem fazer nada para diminuir a miséria na própria África. O que querem é importar os africanos para manter bem abastecido o estoque de miseráveis sem os quais a esquerda não se sustenta em lugar nenhum do mundo. A questão está falsificada, há anos, pela tramoia ideológica segundo a qual combater a imigração ilegal, ou defender o direito dos países de ter uma política coerente em relação aos estrangeiros que entram ou vivem nos seus territórios, é um mal em si. Dizer que a França deve ser reservada prioritariamente aos franceses, como a Itália aos italianos e a Inglaterra aos ingleses (ou, aliás, o Brasil aos brasileiros), tornou-se, na Tábua de Mandamentos atual da esquerda, uma afirmação “fascista”. É “xenofobia”. É “islamofobia”. É “extremismo de direita”, “discurso de ódio” e ameaça à “democracia”. Não importa qual é a qualidade do seu argumento. Você não tem o direito de ter ideias próprias sobre o assunto.

Está tudo ao contrário. Os botes de borracha que marcam a perversidade do tráfico criminoso de imigrantes — os traficantes vendem passagens em seus navios e abandonam os passageiros nos botes ao se aproximarem das costas da Europa — tornaram-se um símbolo de “resistência” nas manifestações de rua da esquerda. O que é infâmia foi “ressignificado” como virtude; o que é crime virou “símbolo de luta”. Os princípios democráticos que asseguram ao cidadão o direito de viver a sua própria vida, conservar os frutos do seu trabalho e ser proprietário de tudo o que obteve legalmente viraram delitos de egoísmo. Produzir tornou-se sinônimo de “destruir o planeta”. A agricultura moderna, então, vem se transformando em atividade análoga ao crime organizado. Acham que se deve proibir, até o limite do que acharem conveniente, a circulação de carros, o consumo individual e as liberdades pessoais em geral. O pior problema da humanidade passou a ser o ser humano — é ele que atrapalha as árvores, gasta os recursos da Terra e incomoda o senhor Gates, o senhor Soros e todos os outros senhores hoje angustiados com a marcha do progresso.

Atrapalha a eles todos, talvez acima de qualquer outra coisa, uma regra da democracia que em seu modo de ver o mundo “já se esgotou” e tem de ser substituída — aquela que estabelece que os governos devem ser escolhidos pelo voto livre da maioria dos cidadãos e, uma vez eleitos, têm de executar a vontade desta maioria. Não pode mais ser assim, segundo a esquerda, as mentes civilizadas e os comunicadores. As eleições, quando podem ser ganhas pelos adversários, se tornaram um “perigo” mortal para a “democracia” — levam para o governo a “extrema direita” nacionalista, nazifascista, populista etc. etc. etc. que quer se aproveitar do fato de ser a maioria para levar o mundo de volta à Idade da Pedra Lascada. Não devem mais, portanto, ser toleradas em suas formas atuais pelos comandantes do “processo civilizatório”. É pecado mortal ser a favor de Marine Le Pen na França, Giorgia Meloni na Itália, Donald Trump nos Estados Unidos, e assim por diante pelo mundo afora. E o direito à livre escolha? Está sendo substituído pelo direito divino que os reis invocavam a seu próprio favor para serem reis. A eleição na França foi um exemplo de como funciona esse tipo de pensamento. As eleições eram uma “ameaça à democracia” enquanto a direita podia ganhar; essas mesmas eleições se transformaram subitamente numa “vitória da democracia” quando a esquerda ficou em primeiro lugar. É esta a nova verdade.

(revistaoeste)


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