SÍLVIO NAVARRO, DA REVISTA OESTE - A cara do Brasil
O desempenho sofrível da esquerda nas urnas — mesmo com todo o empenho da mídia tradicional — prova que, sem a interferência do Judiciário, a direita é o caminho preferido do eleitor
O segundo turno das eleições municipais no país, encerrado no domingo, 27, reforçou a fotografia da rodada inicial: a ampla maioria dos pagadores de impostos não quer ser governada pela esquerda, rejeita a patrulha do Judiciário na política e escolheu candidatos de direita — com uma agenda que vai do liberalismo ao conservadorismo. Essa é a cara do Brasil.
O mapa das urnas retrata também que esse cenário é completamente diferente do que o consórcio de poder instalado em Brasília pelo presidente Lula da Silva e o Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio da imprensa tradicional, tenta empurrar para a sociedade.
Os números não precisam de legenda (veja os gráficos abaixo): a esquerda foi dizimada em cidades de todos os tamanhos e regiões do país. O PT só venceu em uma capital: Fortaleza (CE), numa das mais apertadas disputas deste ano, resolvida por 9 mil votos. A legenda terminou a corrida eleitoral com o status de sigla de pequeno porte (252 prefeituras), menor do que o também minguado — e outrora seu antagonista — PSDB (276).
Outro exemplo: o Psol, nascido da costela do petismo e que representa a agenda woke e o “progressismo”, não fez nenhum prefeito nas 200 disputas em que entrou. O PCdoB fez 19. A Rede, 4. O PSB saiu melhor — 312 — porque conseguiu renovar parte dos quadros, por exemplo o prefeito de Recife (PE), João Campos. A aritmética não deixa dúvidas: as agremiações que se definem como de esquerda não terão um quarto das prefeituras a partir de janeiro. Resta ainda uma massa de siglas satélites, que mudam de lado por conveniência regional, como PDT, Podemos, Solidariedade, PV etc. O resto foi dominado pela centro-direita.
Não há outra palavra para descrever a atuação de Lula e da primeira-dama, Janja da Silva, como cabos eleitorais senão vexame. Em quase todas as cidades onde a dupla se meteu na campanha, seus candidatos ficaram pelo caminho. Lula visitou 26 cidades e ganhou em 4. No segundo turno, praticamente desistiu de participar de campanhas. Janja ficou no traço — pior, ainda se expôs, gravando vídeos para Maria do Rosário, em Porto Alegre, imitando um diálogo da candidata americana Kamala Harris com o casal Obama, e outro acusando o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, de agredir a mulher. A estratégia de apoio virtual da primeira-dama falhou.
No Estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, alguns resultados ocorrem em redutos simbólicos: Araraquara (SP), com o fim da hegemonia do prefeito Edinho Silva, no ABC paulista — Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema —, Osasco, Guarulhos, Campinas e no litoral. O PT vai governar somente os municípios de Mauá, Matão, Santa Lúcia e Lucianópolis.
O desempenho pífio abriu uma crise interna: o vice-presidente do partido, Washington Quaquá (RJ), disse que a chapa Guilherme Boulos e Marta Suplicy na principal cidade do país foi um erro. “Boulos era a crônica de uma morte anunciada. Escolhemos uma candidatura com um teto de limite de eleitores de esquerda. Parece que reaprendemos a gostar de perder”, disse. “O governo federal também não atuou coordenando e apoiando sua base. Age como se não tivesse responsabilidade com as eleições. Se não mudarmos, seremos derrotados em 2026.”
A despeito do estilo de Quaquá, o “petista-raiz”, conhecido por sair no tapa com adversários — ele responde a processos no Conselho de Ética da Câmara —, não é necessário ser cientista político para concordar. Mesmo com todo o esforço dos comentaristas da GloboNews, por exemplo, que chegaram a afirmar que Boulos só precisava de mais uma semana de campanha (leia artigo nesta edição) para virar a eleição, não é um cenário crível. Figuras como Boulos e Maria do Rosário têm, de fato, um teto eleitoral cada vez mais baixo por causa do histórico de radicalismos e da tendência conservadora do brasileiro.
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que não é bem recebido no Congresso Nacional desde o começo do mandato, foi na mesma linha de Quaquá e acabou repreendido publicamente por Gleisi Hoffmann, presidente da sigla. Ela não gostou da analogia futebolística feita pelo colega, segundo quem o PT estava na zona de rebaixamento do campeonato.
“Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”, disse Gleisi. “Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados.”
Gleisi tem sido pressionada para deixar o comando do partido antes de junho de 2025, quando termina o seu mandato. No Congresso, corre a versão de que Lula deve acomodá-la num ministério em janeiro, o que funcionaria como uma “saída honrosa”, uma licença do posto. Mas há outro dilema: quem será o substituto? Até o início de outubro, o favorito era Edinho Silva, que saiu abalado pelo fracasso em Araraquara.
Em meio à lavagem de roupa suja do PT, ainda apareceu o ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação), o responsável pela distribuição de verbas para a imprensa que defende o governo Lula. Ele faz parte da lista de derrotados: seu candidato perdeu a eleição na cidade gaúcha de Santa Maria. Mas Pimenta sacou uma frase que nem os jornalistas da GloboNews entenderam, numa entrevista ao vivo. O petista disse que “as urnas falam” e que a mensagem foi “a derrota da extrema direita”. E concluiu, numa ginástica impressionante: “O governo saiu fortalecido do processo”.
O Brasil ‘endireitou’
Um levantamento do site Poder360 mostra ainda que, pela primeira vez desde as eleições de 1996 — antes da aprovação da emenda da reeleição no governo Fernando Henrique Cardoso —, cinco legendas que reúnem políticos de centro-direita voltaram a ganhar musculatura e dominam o país. São elas: PSD, MDB, PP, PL e o confuso União Brasil — fusão do extinto DEM, que já foi PFL, com o que sobrou do PSL “bolsonarista”. Juntas, elegeram 65% dos prefeitos — 3.615 municípios.
Se somar a esse grupo o Republicanos, do governador paulista Tarcísio de Freitas, que elegeu 440 prefeitos, o avanço da centro-direita é ainda maior. O partido deve ganhar mais força nacional em fevereiro com a provável vitória do deputado Hugo Motta (PB) para a presidência da Câmara.
Aqui cabe a ressalva: com exceção do PL e do Novo, essas siglas do “centrão” não deram exatamente as costas ao governo Lula. Mas deixaram claro que o acordo é restrito a Brasília: uma troca de votos em pautas econômicas no Congresso Nacional pela chefia de ministérios e estatais. Ou seja, quando começa a corrida eleitoral, o jogo é outro. E isso ficará ainda mais acentuado com um provável desembarque formal dessas siglas até 2026. Dez entre dez líderes de partidos na Câmara afirmam que, se o lulismo confirmar o naufrágio, ninguém vai aderir a uma chapa presidencial fadada a perder.
(Poder360)
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