REVISTA OESTE - O Brasil diz não ao PT
O primeiro turno das eleições no Brasil prova a força do eleitorado conservador, capitaneado por Jair Bolsonaro e pelo governador Tarcísio de Freitas (SP), e joga uma pá de cal no 'lulismo'
A maioria dos brasileiros escolheu prefeitos e vereadores de direita no primeiro turno das eleições municipais, ocorrido no último domingo, 6. Seja qual for o recorte, em capitais ou nas 103 cidades com densidade eleitoral — mais de 200 mil eleitores —, o resultado das urnas é claro: os candidatos que tiveram o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro ou de líderes conservadores foram eleitos. Quem concorreu com as cores do PT e colou a imagem na do presidente Lula da Silva ficou pelo caminho ou entrou em desvantagem no segundo turno.
As afirmações acima são todas baseadas em aritmética. Aos fatos: 11 prefeitos foram eleitos ou reeleitos no primeiro turno, e 15 vão disputar a segunda rodada, no próximo dia 27. Dos que já ganharam nas capitais, nenhum é filiado ao PT ou ao Psol. Todos os outros representam o centrão, e a maioria teve o apoio de Bolsonaro. Há 52 disputas abertas no país (veja o detalhamento abaixo), e o PL, por exemplo, pode levar metade.
Do ponto de vista do xadrez partidário, que pouco importa para o pagador de impostos, mas interessa aos caciques de Brasília, cinco legendas fizeram mais de 500 prefeituras, no imenso universo de 5.568 municípios — o número de unidades formais chega a 5.570, segundo o IBGE, mas Brasília e Fernando de Noronha não têm eleições municipais. São elas: PSD, MDB, PP, União e PL. Nada aqui chega perto das ideologias que estão na prateleira da esquerda no país.
Aliás, a conta que realmente importa, principalmente para 2026, é o eleitorado administrado. Nesse aspecto, a “esmagadora vitória” do PSD, como a imprensa tradicional diz, termina na página dois. O PSD vai controlar 9,3 milhões de eleitores. Foi a primeira vez em 20 anos que o MDB foi superado — ficou com 7 milhões até aqui. Mas e o segundo turno? Pode mudar tudo: se o MDB vencer em São Paulo, já são mais de 9 milhões de votos que estavam na mesa. Outro dado: o PL fez 6,8 milhões, mas esses números vão subir pela quantidade de candidatos que ainda estão em campo — são nove em 15 capitais; ou 23 em 52 cidades de segundo turno.
O PT conquistou 2,2 milhões de votos, mesmo tamanho do PSDB, que desapareceu no país. É até possível dizer que alguns rostos são próximos do “lulismo”, mas não do que o PT defende. Nesse caso, o melhor exemplo é Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, que já foi filiado a seis legendas na vida e jamais se importou com partido político.
Há um caso peculiar, o de João Campos, reeleito em Recife pelo PSB. A sigla, de fato, integra o bloco de esquerda no país, mas a importância da figura de Lula na sua campanha é nula, já que ele é sucessor da tradicional linhagem de Miguel Arraes e Eduardo Campos — morto num acidente aéreo em 2014. A imagem de Lula, aliás, nem sequer foi usada na campanha.
Assim como a reeleição de Bruno Reis (UB) em Salvador não passa nem pelo PT nem pela direita. Reis era secretário de ACM Neto e virou prefeito com facilidade em 2020. A Bahia segue um mistério para os analistas políticos: o PT governa o Estado desde o pleito de 2006, mas o “carlismo” resiste na capital.
Numa reunião pós-urnas nesta semana, os dirigentes petistas lamentaram dois fiascos inesperados, em Teresina e em Goiânia. Comemorar vitórias em Juiz de Fora (MG), Contagem (MG) e Camaçari (BA) é pouco para o partido que governa o Brasil e saiu das urnas com 248 prefeituras pequenas — menos de um terço das 882 do PSD, por exemplo.
Nas capitais, a esperança do PT é a carona na chapa de Guilherme Boulos (Psol) — Marta Suplicy é a vice. Restam cidades mais complicadas para o PT, como Cuiabá, Natal, Fortaleza e Porto Alegre. Nas duas últimas, para avançar, os petistas vão precisar dos votos do instável PDT: do novo brizolismo no Sul, e dos irmãos Ciro e Cid Gomes no Ceará — dupla que perdeu até no seu reduto de Sobral.
Com mais de 9 milhões de votos, a capital paulista é a eleição que mais importa para todas as correntes políticas. A matemática joga contra Boulos: o que decidirá o pleito será o 1,7 milhão de votos de Pablo Marçal (PRTB). Foi a corrida mais apertada de que se tem notícia, desde a redemocratização, decidida por margem inferior a 100 mil votos.
Pablo Marçal brigou palmo a palmo com Ricardo Nunes (MDB) pelo eleitorado de direita e pelo abraço de Jair Bolsonaro. A menos que a cidade embarque num transe ideológico, não é crível que o esquerdista fature. A equação é simples: Marçal acusou Boulos, por exemplo, de ser usuário de drogas e invadir propriedade privada. Por que seu eleitor votaria nele agora?
Fora das capitais, a derrota do PT em algumas praças também foi amarga, como em Araraquara (SP), cidade de Edinho Silva, que administrou o município quatro vezes, Guarulhos (SP), Franco da Rocha (SP), Uberlândia (MG) e no ABC paulista: São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano. Edinho Silva contava com a vitória para suceder Gleisi Hoffmann no comando do PT. Em Osasco (SP), o ex-presidente estadual e líder do partido, Emídio de Souza, teve 15% dos votos — cidade que já governou duas vezes.
No caso de São Bernardo, berço da sigla, dois ministros tiraram férias para fazer campanha: Luiz Marinho (Trabalho), ex-prefeito, e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), cujo irmão, Luiz Fernando, era o candidato. Não deu. O partido ainda levou um susto e tentará reverter o estrago no segundo turno em Mauá (SP) e Diadema (SP) — Filippi Júnior foi prefeito três vezes e tesoureiro do PT.
Lula enfraquecido
O tombo eleitoral da esquerda ocorre num momento de indiscutível derrocada da imagem de Lula. O petista não cumpriu mais agendas públicas fora de auditórios e abandonou as transmissões pela internet por falta de público — o jornalista que o acompanhava no microfone, Marcos Uchôa, ex-Rede Globo, deu no pé. Um ano e dez meses depois de voltar ao poder, o governo não anunciou nenhum projeto concreto — nem um tijolo inaugural do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como Dilma Rousseff fazia no passado —, os ministros não sabem como contornar o recorde de queimadas, a dengue cruzou o inverno e não foi embora, e a segurança pública acumula números sofríveis. Junte-se à lista as crises diplomáticas em que Lula e seu chanceler informal, Celso Amorim, meteram o Brasil pelo mundo, do Oriente Médio à Rússia e à Venezuela. Pior: tudo indica que, se o petista não conseguir algum negócio com os futuros presidentes da Câmara e do Senado, tampouco vai aprovar projetos até 2026, e o revés de quem mandará no Orçamento é certeiro.
Lula enfraquecido
O tombo eleitoral da esquerda ocorre num momento de indiscutível derrocada da imagem de Lula. O petista não cumpriu mais agendas públicas fora de auditórios e abandonou as transmissões pela internet por falta de público — o jornalista que o acompanhava no microfone, Marcos Uchôa, ex-Rede Globo, deu no pé. Um ano e dez meses depois de voltar ao poder, o governo não anunciou nenhum projeto concreto — nem um tijolo inaugural do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como Dilma Rousseff fazia no passado —, os ministros não sabem como contornar o recorde de queimadas, a dengue cruzou o inverno e não foi embora, e a segurança pública acumula números sofríveis. Junte-se à lista as crises diplomáticas em que Lula e seu chanceler informal, Celso Amorim, meteram o Brasil pelo mundo, do Oriente Médio à Rússia e à Venezuela. Pior: tudo indica que, se o petista não conseguir algum negócio com os futuros presidentes da Câmara e do Senado, tampouco vai aprovar projetos até 2026, e o revés de quem mandará no Orçamento é certeiro.
Se em algum momento alguém pensou que, depois de reabilitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e escolhido presidente, Lula pavimentaria um caminho para a esquerda no país, deu errado. Tanto que, no auge da campanha, jogou a toalha e viajou para o México. Os dirigentes petistas disseram que ele pretende ir a Belém, no Círio de Nazaré, apoiar Igor Normando (MDB), aliado da família Barbalho. Também deve aparecer em Porto Alegre, ao lado de Maria do Rosário, em Diadema e em Fortaleza.
“Gostaríamos de ter tido o presidente por muito mais tempo, mas ele é presidente da República. Ele tem o país para tocar, e pegou a questão das queimadas e enchentes, os problemas todos, além das agendas internacionais”, lamentou Gleisi Hoffmann, presidente do PT. “Nunca tivemos grandes expectativas para esse processo eleitoral de 2024.”
Chega a ser cômica uma visita ao site do PT, por exemplo, indicando Gleisi Hoffmann e a tesoureira da agremiação, Gleide Andrade, como importantes cabos eleitorais em Curitiba e Belo Horizonte. Por onde elas passaram, o PT naufragou (veja abaixo).
O documento da executiva do PT divulgado nesta semana, sobre as eleições, retrata um partido parado no tempo. A sigla atribuiu o atoleiro eleitoral à Operação Lava Jato e falou em “golpe” contra Dilma Rousseff. “O período histórico inaugurado com a farsa da Lava Jato e o golpe contra a presidenta Dilma abriu as portas para a extrema direita aliada ao neoliberalismo mais selvagem, que seguem ameaçando o país e o sistema democrático.”
Bolsonaro e Tarcísio
Ao contrário de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro percorreu o país desde a virada do semestre para ajudar seus aliados. Alguns casos são emblemáticos: o jovem deputado André Fernandes (PL) era considerado carta fora do baralho eleitoral em Fortaleza, reduto de esquerda, e chegou ao segundo turno. O mesmo ocorreu em Goiânia, com Fred Rodrigues (PL) na dianteira contra Mabel (UB) na próxima etapa. Ou ainda Bruno Engler (PL) em Belo Horizonte. Às vésperas da eleição, aliás, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado de Cristina Graeml (PMB), a maior surpresa da eleição, que decidirá o pleito em Curitiba contra o PSD.
O governador Tarcísio de Freitas também sai vitorioso. O Republicanos conseguiu mais do que o dobro de prefeituras — de 213 para 436. E a esquerda sumiu do mapa no maior Estado da federação: o PT ganhou só em três lugares (Matão, Santa Lúcia e Lucianópolis). O que isso significa? Governar 88 mil pessoas num universo de 44 milhões de habitantes — ou número inferior ao desempenho do vereador campeão de votos na capital. Se não reverter o quadro onde ainda concorre (Mauá, Diadema e Sumaré), o PT vai registrar seu pior desempenho da história em São Paulo. Para o Psol, a única chance é a capital.
O grande triunfo de Tarcísio, contudo, foi levar Ricardo Nunes ao segundo turno. O prefeito paulistano era um desconhecido do eleitorado, filiado ao MDB, partido que sobrevive há décadas na garupa de quem está no poder. Nunes tampouco teve o apoio vigoroso de Bolsonaro — algo que deve mudar nos próximos dias. Apesar das mágoas em São Paulo, a tendência é que a direita se reúna contra a esquerda na reta final da eleição, como ocorreu em 2022.
Restam ainda mais de 50 disputas até o final do mês. Fazer previsões não combina com fatos. Mas é inequívoco que o estrago para a esquerda já aconteceu, a menos que Guilherme Boulos vença em São Paulo — é a única saída. A imagem de Lula e o voto na legenda do PT ficaram no passado, mesmo com todo o empenho das Cortes superiores de Brasília e da imprensa tradicional. A população decidiu: a direita é inevitável.
(revistaoeste)
Noticias da Semana
* TORTURADO E ESPREMIDO ATÉ O 'BAGAÇO' - Moraes mantém benefícios de acordo de delação de Cid
* STF AMPARA BANDIDOS E CRIMINOSOS - STF manda soltar 15 membros de quadrilha de tráfico de drogas
* SANGUE NAS RUAS DA CIDADE - Motociclista é assassinado a tiros no meio da rua em ji-Paraná
* O MONSTRO DA FAMÍLIA - Homem suspeito de estuprar filha é preso em Machadinho d'Oeste, RO
* MELHORANDO A CONTA BANCÁRIA - Alero recebe proposta de novo PCCS para servidores do Judiciário
* NISSO PF DO STF USA 'CRIATIVIDADE' - General e outros militares são presos pela PF
* DESEMPENHO - Rondônia se destaca na Olimpíada Nacional de Eficiência Energética
* LULA IMPACIENTE E APRESSADO - Lula refaz foto oficial do G20 com Biden, mas sem Milei