OPINIÃO DE CARLOS HENRIQUE ÂNGELO - A cegueira da estupidez
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Você, leitor, já ouviu falar do “Efeito Dunning-Kruger”? Trata-se do princípio definido em 1999, a partir do estudos de dois psicólogos americanos, David Dunning e Justin Kruger. Grosso modo, estabelece que, quando uma pessoa é ignorante, ela ignora até o fato de ser ignorante. Em resumo: “a estupidez acaba cegando as pessoas estúpidas, a ponto delas acreditarem que são inteligentes”.
Temos encontrado, nas redes sociais, freqüentes manifestações desse desvio cognitivo. Colunistas julgam-se no direito de agredir impiedosamente o vernáculo. Não ligam a mínima para o que supõem exibição de “tecnicalidades fúteis”, como regência e transitividade verbal, regras de pronominalização, crase e outros “meros detalhes” gramaticais. Abusam do gerúndio em lugar da pontuação e exigem orgulhosamente a indigência de seu repertório vocabular.
Isso acontece com frequência entre representantes da classe política, que se sentem obrigados a exibir inteligência como condição para permanecer no cargo. Daí adotarem vocábulos, que acreditam “inteligentes e sofisticados”, para convencer o eleitor a repetir o erro que os colocou lá. Exempo disso é a exaustiva repetição, não importa se apropriada, do vocábulo “narrativa”. É também por aí que surgem propostas indecentes, que pretendem apresentar soluções simples e erradas para problemas de alta complexidade (Mencken).
O filósofo, palestrante, escritor e ensaísta, Clóvis de Barros, cita Ana Arand, alemã e judia, em “A Banalidade do Mal” para explicar por que o mal pode se tornar trivial, óbvio, corriqueiro, incapaz de suscitar indignação. “O mal se torna banal em função da ruptura de cada um consigo mesmo. A começar pela incapacidade de pensar por conta própria. Seguida da incapacidade de atribuição de valor à própria ação, à própria conduta.
“Vemos aí, então, pessoas que pensam como todo o mundo pensa e agem como todo o mundo age. Todo o mundo, claro, pode ser seu grupo, sua tribo ou mesmo uma bolha da internet. Quando você observa pessoas reunidas para se manifestar contra a corrupção, por exemplo, mas vestindo uniformes de uma entidade corrupta, você se pergunta se isso faz algum sentido”. A alusão à camisa da seleção e à CBF não é mera coincidência.
Isso acontece porque não se pensa mais senão o pensamento do grupo, ou se age mais segundo a vontade própria, mas segundo a vontade do grupo. O sujeito delega ao grupo a tarefa de pensar. Ao mesmo tempo em que se desobriga de avaliar suas ações. Aí está perdido! Completamente dominado!
Carlos Henrique
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