MADEIRÃO AGONIZANDO - O rio da Amazônia que virou símbolo da seca no Brasil | Notícias Tudo Aqui!

MADEIRÃO AGONIZANDO - O rio da Amazônia que virou símbolo da seca no Brasil

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Principal afluente do Amazonas, rio Madeira registra nível mais baixo desde 1967. Estiagem é severa no Norte, mas se espalha por todo o país

 

O Madeira registrou nesta terça-feira (3) o seu nível mais baixo em 57 anos. Com a água batendo pouco mais de um metro de altura em Porto Velho, o rio, que é um dos principais da Amazônia, repete a estiagem severa de 2023. O Durma com Essa conta quais os impactos sociais e econômicos da situação e mostra como a seca se espalha por todos os estados do Brasil. O programa tem também Lucas Zacari explicando como a Record conseguiu quebrar a exclusividade da Globo na transmissão de jogos do Campeonato Brasileiro na TV aberta.

Transcrição do episódio

Antonio: Um rio que é uma das principais rotas comerciais da Amazônia. Um rio que abriga diversas comunidades em suas margens, com modos de vida moldados pela água. Um rio que está quase três metros mais baixo do que se esperava, e que é um dos retratos mais nítidos de uma seca que se espalha por todo o país. Meu nome é Antonio Mammi e esse aqui é o Durma com Essa, o podcast de notícias do Nexo. 

Aline: Olá, eu sou a Aline Pellegrini e tô aqui com o Antonio pra apresentar este podcast que vai ao ar todo começo de noite, de segunda a sexta, sempre com notícias que podem continuar a ecoar por aí.

[trilha de abertura]

Antonio: Terça-feira, 3 de setembro de 2024. Dia em que o rio Madeira atingiu uma cota de 1 metro e dois centímetros. Esse é o menor nível do rio desde o início das medições pelo Serviço Geológico do Brasil, em 1967. 

Aline: O nível esperado para o rio Madeira a essa altura do ano era de algo em torno de três metros e oitenta centímetros, ou seja, quase três metros acima do nível atual. O rio, que é um dos principais corpos d’água da Amazônia, nasce na Bolívia, passa pelo Peru, entra no Brasil por Rondônia até desembocar no rio Amazonas, em território amazonense. 

Antonio: O Madeira é um dos cinco rios mais caudalosos do mundo e é o principal afluente do rio Amazonas. Por isso, ele é essencial para a economia da região, proporcionando pesca, transporte hidroviário e o plantio agrícola nas suas margens. Entre Porto Velho e a foz do Amazonas, o rio tem um trecho navegável que é um dos principais eixos de integração comercial na Amazônia. A capital de Rondônia, aliás, funciona como um centro de distribuição, recebendo mercadorias que chegam por embarcações e remetendo elas para outros destinos. 

Aline: O rio recebeu o nome Madeira porque, no período de chuvas, o seu nível sobe e inunda grandes porções de floresta, arrancando as árvores do solo e transportando seus troncos e restos de madeira. O período chuvoso da região vai de dezembro a maio. Outubro e novembro, por sua vez, são os meses em que o rio historicamente fica mais seco. 

Antonio: Só que o Madeira tá com níveis muito baixos meses antes do período tradicional de secas. Desde julho, o rio vem batendo recordes negativos nesse sentido.

[mudança de trilha]

Aline: Porto Velho tá há mais de três meses sem precipitações significativas. Desde maio, não dá pra dizer que choveu mesmo por lá. Isso se deve sobretudo a dois fatores. Um deles é o aquecimento do Oceano Atlântico Norte, que inibe a formação de nuvens na região. Outro foi o fenômeno climático El Niño, que se estendeu até meados deste ano e que já tinha causado uma seca severa em 2023. As cheias voltaram no primeiro semestre de 2024, mas não no volume desejado. 

Antonio: As autoridades preveem que a seca deste ano seja tão grave quanto a de 2023, ou ainda mais grave que isso. A Agência Nacional de Águas declarou situação crítica de recursos hídricos do rio Madeira, válida até o fim de novembro. 

Aline: A seca no Madeira prejudica o acesso a água e comida das populações ribeirinhas que vivem ao longo do curso do rio. Espécies de peixes amazônicos como o pirarucu e o surubim estão morrendo. Pedras e bancos de areia começaram a aparecer em trechos que antes estavam submersos, dificultando a navegação. 

Moradora: Moro aqui há muito tempo, mas nós nunca vimos uma seca aqui desse jeito. Ver o igarapé seco e os peixes mortos é muita tristeza. 

Antonio: Essa que você ouviu aí é uma moradora de uma comunidade ribeirinha dando uma entrevista para o programa Bom Dia Amazônia, da TV Globo. Essa fala ilustra um cenário em que famílias veem os poços que as abastecem secarem e passam a adotar jornadas de até uma hora para buscar água. Comunidades sem água encanada estão tendo que beber a água do rio, que é imprópria para consumo. 

Aline: Além dos impactos sociais, existe uma grande preocupação com os efeitos econômicos da seca. Embarcações comerciais estão suspendendo as suas viagens. E, além disso, o rio Madeira abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil, a de Jirau e a de Santo Antônio. Juntas, elas representam algo em torno de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro. 

Antonio: São efeitos que podem se espalhar pelo Brasil. Em 2023, o baixo nível do rio Madeira levou à paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio e ao desligamento do chamado “Linhão do Madeira”, que leva energia de Rondônia até Araraquara, no interior de São Paulo. 

Aline: A preocupação com o fornecimento de energia elétrica não é uma exclusividade do que está se passando com o rio Madeira. Rios em todo o país estão em níveis historicamente muito baixos. O Operador Nacional do Sistema Elétrico já anunciou a ativação de termoelétricas pra suprir a demanda. Um reflexo de uma seca generalizada e sem precedentes.   

[mudança de trilha]

Antonio: O Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais, confirmou ao site G1 que a seca de 2024 é a maior da história do Brasil. Nunca houve uma estiagem em extensão tão grande no território nacional. Mais de um terço do país vive problemas sérios associados à falta de chuvas, e o único estado que não sofre com falta delas no ano é o Rio Grande do Sul que, como se não bastasse, viveu enchentes trágicas em maio. 

Aline: Além do El Niño e do aquecimento do Atlântico Norte, que são fatores que contribuíram pra seca no Norte, outras partes do país sofrem com bloqueios atmosféricos que impedem o avanço de frentes frias vindas do Sul e com isso fazem as chuvas rarear. 

Antonio: Segundo meteorologistas ouvidos pelo G1, o cenário deve piorar. Ainda tem estação de seca no Norte e a chuva esperada pra depois deve vir mais fraca do que o normal. Também não são claros quais podem ser os impactos do La Niña, fenômeno oposto do El Niño que já começou a se formar e pode trazer mais chuvas para o país. Não se sabe se elas acontecerão num nível suficiente pra reverter os estragos causados pela estiagem no Brasil. 

Aline: Para além dos fenômenos atmosféricos, a seca acontece em um mundo que passa por mudanças causadas pela atividade humana, em que eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais frequentes. Um estudo da rede de cientistas World Weather Attribution apontou que a seca de 2023 na Amazônia foi 30 vezes mais provável por causa das mudanças climáticas. Em condições normais, seria um evento previsto para ocorrer a cada 350 anos. E que agora se repete, um ano depois, com previsão de ser pior ainda.

Antonio: O Durma com Essa volta já.

[trilha da redação]

Antonio: A TV Record está prestes a anunciar oficialmente que vai transmitir o Campeonato Brasileiro de futebol masculino em 2025, quebrando uma exclusividade de dez anos da Globo na TV aberta. O Lucas Zacari escreveu um texto sobre o assunto. Lucas, com quem a Record negociou os direitos de transmissão e como a gente vai saber onde assistir aos jogos no ano que vem?

Antonio: A Record negociou os direitos de transmissão com a LFU, Liga Forte União, que reúne 32 clubes. Com esse contrato, a emissora vai poder transmitir 38 jogos anualmente, sendo um por rodada, entre 2025 e 2027. A Globo fechou contrato com outro grupo, a Libra, Liga do Futebol Brasileiro. Essas ofertas são exclusivas para a TV aberta. A Record vai poder transmitir as  partidas da primeira divisão em que os times da LFU atuem nos seus estádios, como mandantes. E a Globo vai poder transmitir os jogos em que os times da Libra forem mandantes. Já os direitos dos jogos para TV fechada e internet ainda estão sendo negociados.

Antonio: E Lucas, por que os clubes se dividem em ligas para negociar as transmissões?

Lucas: Ao se dividirem em ligas, os clubes ganham poder de barganha pra negociar conjuntamente e tentam garantir alguma paridade entre eles, com regras pra um time não ganhar muito mais dinheiro que outro. O formato também facilita a venda dos jogos e campeonatos como um produto. A primeira tentativa de formar um grupo nesse sentido vem de 1987, com a criação do Clube dos 13. Na época a iniciativa era até mais ambiciosa, e o grupo organizou o Campeonato Brasileiro daquele ano. Depois, o Clube dos 13 passou a cuidar da negociação dos direitos de transmissão, coletivamente, com valores maiores pros times de maior torcida. O grupo acabou em 2011, e depois de um período em que os clubes negociavam contratos individualmente, foram criadas a LFU e a Libra. Cada uma das ligas têm suas regras de rateio, e aí cada clube adere àquela que ele julgar que atende melhor seus interesses.

Antonio: O texto do Lucas você lê em nexojornal.com.br. E um último aviso: os cursos do Nexo estão com novas turmas abertas. Tem curso sobre como fazer e ler gráficos, como escrever textos mais claros e sobre a história e a aplicação das regras das guerras. E assinante tem desconto, hein. Entra lá em nexojornal.com.br/cursos pra saber mais.

Aline: Da seca no rio Madeira até os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, durma com essa

Antonio: Com roteiro, apresentação e produção de Antonio Mammi, roteiro de Mariana Vick, apresentação e edição de texto de Aline Pellegrini, participação de Lucas Zacari, edição de áudio de Roberto Soares e produção de arte de Lucas Neopmann, termina aqui mais um Durma com Essa. Até amanhã!   

(nextjornal)


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