O PARADOXO DA INOVAÇÃO EM RONDÔNIA - Apesar dos crescentes investimentos em inovação, Rondônia perde posições em rankings nacionais.
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A Federação das Industrias do Ceará, divulgou por meio do observatório da indústria do Ceará o ranking de inovação dos estados. O Índice FIEC de Inovação dos Estados é dividido em duas áreas, Capacidades e Resultados, as quais avaliam tanto o ecossistema de inovação quanto a inovação em si. O conjunto de indicadores que formam o Índice representam os aspectos e as capacidades essenciais para o desenvolvimento dos estados brasileiros, de modo que esses, quando postos em conjunto, constroem a base para o crescimento da competitividade e produtividade estadual.
A figura abaixo apresenta o desempenho do Estado de Rondônia no Ranking ao longo dos anos, e comparando o ano de 2023 com ano de 2024, percebe-se uma queda de duas posições no ranking nacional, fato que tem intrigado membros do ecossistema de inovação Vale do Madeira.
Para entender por que Rondônia perde posições no ranking de inovação mesmo com alguns investimentos, precisamos considerar vários fatores interligados que definem os desafios enfrentados pela região.
Primeiro, considerando que a transformação do conhecimento em negócios inovadores representa um dos maiores desafios para o desenvolvimento tecnológico em qualquer região. Este processo, conhecido como transferência de tecnologia, é complexo e exige uma série de elementos interconectados funcionando em harmonia.
Imagine o processo de inovação como uma ponte que liga duas margens: de um lado, temos o conhecimento gerado nas universidades e centros de pesquisa; do outro, o mercado que pode absorver e transformar esse conhecimento em produtos e serviços. Em regiões desenvolvidas tecnologicamente, essa ponte é robusta e possui múltiplas vias de conexão. Em Rondônia, no entanto, observamos uma estrutura ainda frágil e com diversas lacunas.
O primeiro obstáculo significativo é a escassez de instituições intermediárias que tradicionalmente fazem essa ponte. Em ecossistemas maduros de inovação, encontramos incubadoras bem estruturadas, aceleradoras de startups, escritórios de transferência de tecnologia, e fundos de investimento especializados em negócios de base tecnológica, Centros de Desenvolvimento Tecnológico, Parques de Desenvolvimento Tecnológico, políticas de incentivo a inovação e retenção de talentos. Estas organizações funcionam como "tradutoras", transformando o conhecimento científico em oportunidades de negócio. A ausência ou fragilidade dessas instituições em Rondônia cria um vácuo entre a sua limitada capacidade de produção do conhecimento e sua aplicação prática.
Outro aspecto crítico é a cultura empresarial local. O tecido empresarial de Rondônia, historicamente formado por imigrantes atuantes em setores mais tradicionais como agropecuária e comércio, ainda não desenvolveu plenamente a percepção do valor da inovação como diferencial competitivo associado as vocações e potencialidades locais, a exemplo da biodiversidade e seu potencial para bioeconomia. Isso cria um círculo vicioso: sem demanda clara por inovação, há menos incentivo para o desenvolvimento de soluções tecnológicas; sem essas soluções disponíveis, as empresas continuam operando em modelos tradicionais.
A limitada disponibilidade de capital de risco também representa um gargalo significativo. Negócios inovadores frequentemente requerem investimentos substanciais antes de gerarem retorno, e os investidores precisam ter apetite para esse tipo de risco. Em Rondônia, o mercado de capital de risco ainda é incipiente, o que dificulta o financiamento de empreendimentos de base tecnológica em seus estágios iniciais.
Além disso, existe um desafio relacionado à própria natureza da pesquisa acadêmica local. Muitas vezes, as investigações científicas não estão alinhadas com as necessidades e oportunidades do mercado regional. Isso não significa que a pesquisa básica não seja importante - ela é fundamental. No entanto, é necessário desenvolver também uma cultura de pesquisa aplicada que dialogue mais diretamente com os desafios e potencialidades da economia local.
A fuga de talentos, agrava ainda mais esse cenário. Quando profissionais qualificados deixam a região, levam consigo não apenas conhecimento técnico, mas também potenciais conexões entre academia e mercado. Cada pesquisador ou empreendedor que parte representa uma oportunidade perdida de construir pontes entre conhecimento e aplicação prática.
É importante ressaltar que a transformação de conhecimento em negócios inovadores não é um processo linear nem automático. Requer tempo, persistência e, sobretudo, um ambiente favorável que permita tentativas, erros e aprendizados. O atual cenário de Rondônia, embora desafiador, também apresenta oportunidades únicas para inovação, especialmente em setores onde a região já possui vocação natural, como o agronegócio sustentável e a bioeconomia.
O caminho para o desenvolvimento tecnológico de Rondônia passa necessariamente pela construção de pontes mais sólidas entre conhecimento e mercado. Isso requer não apenas investimentos financeiros, mas também uma mudança cultural profunda na forma como a região encara a inovação e sua importância para o desenvolvimento sustentável.
Todo este contexto reflete diretamente no desenvolvimento loco regional, pois em um mundo globalizado onde o desenvolvimento é baseado em inovação, as regiões mais desenvolvidas investem mais em formar e atrair massa crítica de recursos e pessoas qualificadas. Quando uma região não possui essa base mínima, os investimentos pontuais acabam tendo eficácia limitada, pois faltam as condições necessárias para que esses recursos gerem resultados significativos.
Por exemplo, quando se investe na formação de um pesquisador, mas não existe um ecossistema de inovação robusto (laboratórios bem equipados, empresas de base tecnológica, outras instituições de pesquisa), esse profissional encontra grandes obstáculos para transformar seu conhecimento em inovações concretas. É como plantar sementes em um solo que ainda não está adequadamente preparado.
Além disso, existe o fenômeno da "vantagem cumulativa" - regiões que já possuem uma base de inovação tendem a atrair mais recursos, talentos e investimentos, criando um efeito "bola de neve" positivo. Quando Rondônia perde seus profissionais qualificados para outros estados, isso reforça ainda mais esse desequilíbrio regional.
Os investimentos atuais em Rondônia, embora importantes, parecem estar abaixo do "ponto de inflexão" necessário para criar uma mudança sistêmica. É preciso atingir um nível mínimo de investimentos em várias frentes simultaneamente (educação, infraestrutura, ambiente de negócios, etc.) para começar a gerar resultados no médio prazo.
Leandro Moreira Dill
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