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A cada 24 minutos, uma mulher do Paraná sofre violência

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JÚLIA ROHDEN
Brasil de Fato

 

A próxima quinta-feira (8) será marcada por manifestações das paranaenses. Isso porque 8 de março é o Dia Internacional da Mulher, uma data para mobilizar pela conquista de direitos, discutir a desigualdade de gênero e se manifestar contra a violência física, psicológica e sexual ainda sofridas por muitas mulheres.

Rosani Moreira, professora e integrante da Marcha Mundial de Mulheres, um dos movimentos que participa da organização do ato em Curitiba (PR), conta que historicamente a data é de manifestações e greves de trabalhadoras em busca de melhores condições de vida. No ano passado, o dia 8 de março também fez as brasileiras se manifestarem contra a reforma da previdência, proposta pelo governo de Michel Temer (MDB).

Para Juliana Mittelbach, da Rede de Mulheres Negras, o dia 8 de março une mulheres diferentes para buscar mais direitos e menos violência. “Ainda hoje as mulheres precisam lutar, porque as taxas de violência são muito altas, porque não conquistamos o direito a decidir quando queremos ou não ter filhos e porque somos pouco representadas nas assembleias e câmaras de vereadores – o que trava o avanço de pautas que precisam ser aprovadas em lei”, afirma. Mittelbach ressalta que os atos nas ruas são também pela visibilidade das mulheres em toda sua diversidade, incluindo indígenas, quilombolas, transexuais, bissexuais e lésbicas.

 

Violência

 

A cada 24 minutos é registrado um caso de violência contra a mulher no Paraná, de acordo com o Ministério Público. Sandra Lia Barwinski, presidenta da Comissão de Estudos de Violência de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), explica que os dados assustam porque a violência contra a mulher é geracional, ou seja, é aprendida e reproduzida dentro da família.

“Também precisamos considerar que esses registros representam cerca de 30% da violência que de fato acontece [e não é registrada] e que as mulheres levam em média dez anos para fazer a denúncia”, comenta. Para a advogada, há meios para prevenir a violência contra a mulher, mas o Estado brasileiro se omite.

Juliana Mittelbach lembra que as mulheres negras são as que mais sofrem com violência doméstica, assassinatos e estupros. “A nossa sociedade tem o racismo enraizado e isso faz com que as mulheres negras sofram ainda mais”, diz.

Além de assassinatos, estupros e agressões, as mulheres também sofrem violência psicológica, moral e patrimonial. A Lei Maria da Penha, que tenta impedir a violência doméstica e familiar contra a mulher, prevê esses outros tipos de violência.

Barwinski e Mittelbach consideram que é difícil a mulher perceber que está sendo vítima de violência psicológica, porque é mais sutil se comparada à física. “O relacionamento não começa violento, mas vai se tornando ao longo do tempo.

O companheiro vai isolando ela da família e dos amigos, e vai agredindo a autoestima e a autonomia da mulher, fazendo ela pensar que precisa dele para sobreviver”, informa Juliana Mittelbach.

 

Sandra Barwinski conta que muitas vezes o homem começa a dizer, em tom de brincadeira, que a mulher é feia e que só ele “atura” ela. “Essa agressão vai sendo reforça no dia a dia e faz a mulher perder completamente a autoestima. Já ouvi muitas mulheres dizendo que morreram por dentro”, comenta a advogada.

A violência patrimonial também é pouco conhecida, apesar de acontecer com frequência. É quando o homem (seja o companheiro, filho, irmão) reduz a capacidade financeira da mulher, proibindo ela de ter um trabalho ou uma renda, por exemplo.

“Há relato de marido que molhava todas as roupas da esposa para impedir que ela saísse para trabalhar. Outros, em que o sujeito rasgava a carteira de trabalho da mulher, ou em que o homem usava o cartão bancário dela sem avisar”, conta Barwinski.

 

Por que 8 de março é o Dia Internacional das Mulheres?

 

A data histórica marca diferentes mobilizações e greves feitas por mulheres em todo o planeta que protestavam contra as extensas jornadas de trabalho, salários miseráveis e por melhores condições de trabalho. O dia 8 de março foi proclamado pela II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em 1910. Antes disso, em março de 1857, cerca de 130 operárias que faziam greve nos Estados Unidos foram queimadas e morreram carbonizadas dentro da fábrica. Outro fato histórico que marca março como mês de luta das mulheres foi a greve de tecelãs e costureiras na Rússia que foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa, em 1917.

 

O que é feminismo?

 

A professora Rosani Moreira resume: feminismo é a ideia de que mulher é gente. Ela lembra que as mulheres ocupam poucos espaços de poder, ganham salários mais baixos que os homens no mesmo cargo e passam por várias situações de violência. “Nós estamos dizendo: parem! Nós também somos gente e vamos lutar por direitos iguais”, diz.

 

O que é feminicídio?

 

O feminicídio está previsto no código penal e o termo é usado nos casos de assassinato da mulher por causa de sua condição de mulher.

“Quando o homem mata a mulher porque acredita que tem domínio sobre a vida dela, inclusive para decidir quando ela deve morrer”, explica Juliana Mittelbach que integra a Rede de Mulheres Negras.

A Lei do Feminicídio, sancionada pela presidente Dilma Roussef, colocou o assassinato de mulheres no rol de crimes hediondos desde 2015.


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