Ana Lúcia, guerreira pelo social em Rondônia | Notícias Tudo Aqui!

Ana Lúcia, guerreira pelo social em Rondônia

Compartilhe:

Pouco tempo atrás ela caminhava perto da Fiocruz, quando foi reconhecida por um aluno que lhe disse: “Professora, depois daquele curso nunca mais faltou dinheiro em casa”.  Referia-se a um curso de artesanato com plantas promovido pela Fundação Ribamar Araújo.

Em tempos de crise, dribla-se a crise. Com esse propósito, a coordenadora social da Fundação, Ana Lúcia Sousa treina e organiza desempregados para venderem seus próprios salgados, panificados e peças de artesanato – arranjos, sandálias e bonecas.

 

E como vende! Em recente leilão com renda revertida para as obras do Hospital do Câncer da Amazônia, dois vasos saíram por R$ 400.

 

Nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, neste oito de março, ela tem lugar cativo. Por tudo de bom que faz, não poderia faltar na lista de mulheres de expressão em Rondônia.

 

O ser humano, a dor do povo, o voluntariado. Isso está impregnado em Ana Lúcia desde menina, quando via o pai Oliveiro Sousa Moutinho fabricar caixões para mortos de famílias sem recursos, na zona rural de Laginha (MG), em cujo trabalho era auxiliado pela mãe dela, Dinair Rodrigues de Sousa, que costurava tecido nas bordas.

 

Quinta dos dez filhos do casal, ela via Dinair cozinhar diariamente dois panelões de arroz e feijão. E todos se alimentavam bem.

 

Veio para Rondônia em 1984, com as impressões da infância mineira. Foi bancária em Porto Velho, porém, não planejava participar de atos solidários, quando organizou um sopão para moradores da Vila Princesa, onde há muitos catadores de lixo.

 

Levou consigo os filhos Carlos Diego, 23 anos, hoje publicitário, e Pedro Henrique, 21, quintanista de medicina, ensinando-lhes que se põe no prato o suficiente para se alimentar. “Isso evita o desperdício e possibilita a distribuição do alimento para mais pessoas”, disse-lhes.

 

Entre as ações de solidariedade, amparou um paralítico cerebral abandonado pela mãe, que só o criou até um ano de idade, mesmo assim, sob cuidados de uma enfermeira.

 

Auxilia até hoje pessoas internadas com diferentes moléstias; meninos da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) e AMA (Associação dos Amigos dos Autistas), entre outras entidades contempladas com emendas parlamentares do deputado Ribamar Araújo (PR).

 

Recebe mensagens de agradecimento no WathsApp, telefonemas de autoridades, algumas delas simpáticas à futura postulante a um cargo eletivo. Se for mesmo, o tempo irá dizer. Enquanto isso, Ana Lúcia encara as próximas missões concebidas em forma de projetos socioassistenciais.

 

Providencialmente, ela mora ao lado da Fundação Ribamar Araújo, onde conhece um a um os frequentadores. Instalou-se em Candeias do Jamari em 2006, e ali foi funcionária de um grande banco. Dali para a participação em projetos sociais, a distância foi cada vez mais curta. Ana Lúcia já acumulava alguma experiência disso que se convencionou a chamar de “geração de renda”.

 

“A mulher, principalmente, tem que libertar de um jugo que muito lhe atrapalha: na ânsia de cuidar dos filhos e querer trabalhar fora, ela constata que não tem como colocá-los na creche”, relata com alguma indignação.

 

“Que empoderamento é esse?”, questiona. “Ela tem que ter plenas condições de produzir alguma renda, se sentir útil”, observa.

 

Em suas andanças, Ana Lúcia percebe dificuldades e facilidades de mercado para o grupo feminino com o qual se relaciona no âmbito do Território da Cidadania Madeira-Mamoré, do qual é coordenadora regional para os municípios de Porto Velho, Candeias do Jamari, Itapuã do Oeste, Nova Mamoré e Guajará-Mirim, onde cabem folgadamente alguns países europeus.

 

Uma estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais voltado às regiões do País que mais precisam, com objetivo de levar o desenvolvimento econômico e universalizar osTerritórios da Cidadania são programas básicos que integram ações do governo federal e dos governos estaduais e municipais. A sociedade participa.

 

Em cada território, um Conselho formado por esses governos determina o plano de desenvolvimento e faz a agenda de atuações.

 

Nos cursos promovidos e no contato com as pessoas, Ana Lúcia percebeu nichos de mercado para absorver produtos oriundos do aprendizado nos cursos de floricultura, vasos ambientais, sabão e detergente natural (ecológicos), bonecas, pães e pizzas.

 

Ao mesmo tempo, a professora Ingrid Germano ensinou técnicas de panificação para 40 mulheres e reeducandos que se formaram e recebem certificados da Fundação esta semana.

 

Um aluno de Candeias entrega a um caminhoneiro vasos coloridos feitos com toalhas e tapetes velhos, e este os revende no sul. Vasos e bonecos são vendidos a R$ 50 e R$ 80.

 

Os 36 cursos promovidos até então ministrados em Porto Velho e no interior abriram caminhos do empreendedorismo para muitas pessoas nos residenciais Orgulho do Madeira, Porto Belo, Porto Madero, Jardim Santana, Lagoa, entre outros. No centro da Capital atendeu à Associação de Mulheres.

 

Aproximadamente três mil pessoas aprenderam a fazer alguma coisa este ano e outras 1,5 mil se candidatam a esse benefício em 2018.

Em Nova Mutum-Paraná, a 106 quilômetros de Porto Velho, a equipe atuou a convite da Usina Hidrelétrica Jirau. Também trabalhou na Casa de Reeducandos do Bairro Areal, a Igreja Mafave, no Setor Chacareiro (zona leste) e no Assentamento Adelino Ramos.

 

“Na produção e venda de alimentos, vivenciamos a oportunidade de pôr em prática o slogan: minha família servindo a sua”, lembra.

 

Nesse aspecto, Ana Lúcia acredita que o curso de massas e panificação não apenas ensina uma profissão, mas barateia e melhora a qualidade alimentar. Segundo ela, o zelo na fabricação de pizza e requeijão implica cuidados com a saúde, e da mesma forma, o sabão pode ser feito com óleo de fritura e outros componentes sadios.

 

Nos cursos as pessoas também aprendem a fazer estrogonofe da casca de banana e da batatinha.

 

O insumo para os produtos ecológicos tem custo zero. São folhas de milho verde, mato, açaí, restos de pano, pneus, entre outros. A pintura é feita com spray.

 

Com o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFRO), o curso de salgadeiras formou 40 mulheres em Itapuã do Oeste no ano passado, dentro do programa “Mulheres mil”. Na Capital também se formaram 40 cuidadoras de idosos, um requisito bem presente no País cuja população envelhece, segundo constata o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

E o “Desafio confeiteiro”, também promovido pela Fundação, mobiliou no final de 2017 concorrentes do distrito de Triunfo e de Nova Mutum-Paraná. Nesse evento se conheceram valores anônimos na gastronomia regional.

 

Mulher guerreira merece o reconhecimento. Desta vez, entre outras tantas, Ana Lúcia aparece, ao mesmo tempo em que reafirma o ideário de luta e de solidariedade humana.

 

 

 


 Comentários
Noticias da Semana
Dicas para te ajudar
TV Tudo Aqui