GRAMPO: “Nóis mói ele, nós dibulha ele”

A estratégia do presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, Maurão de Carvalho, mancomunado com o deputado Jesuíno Boabaid e estimulado pelo senador Valdir Raupp (MDB) forçaria o governador Confúcio Moura a permanecer no cargo até o final do mandato.

A gravação da conversa amplamente divulgada em redes sociais revela dois parlamentares à beira da baixaria em diálogo no qual arquitetam o impeachment de Confúcio.

Com essa manobra, o vice-governador Daniel Pereira foi atingido em cheio. Não assume o governo e, se sair candidato, não contará com a máquina administrativa.

Assim, Maurão estaria na condição de único candidato do partido e do governo à sucessão de Confúcio, beneficiando da mesma forma o senador. Raupp seria também o único do partido e do governo a postular a reeleição ao Senado Federal, sem risco de dividir votos com outro concorrente do próprio MDB.

A leitura do momento sucessório estadual evidenciou nesta quinta-feira detalhes ainda mornos no caldeirão que tende aquecer-se no início da próxima semana, com o retorno do governador Confúcio Moura [no Rio de Janeiro]e do vice Daniel Pereira [em São Paulo].

O impossível só acontece em política. Não se pode descartar a possibilidade de entendimento entre Confúcio e Daniel, educados e civilizados, o que faria o quadro voltar à condição anterior, aparando-se arestas surgidas em tempo relâmpago com substituições de chefias em primeiro e noutros escalões. As mais comentadas: no DER e na PM.

ASSEMBLEIA MUDA

Apática, totalmente apática. A dupla que daria seus primeiros passos na escola golpista caiu por terra feito jaca madura.

Diante do escândalo do grampo telefônico revelando a trama dos deputados Maurão de Carvalho e Jesuíno Boabaid, a Assembleia inteira silencia. Nenhuma palavra, à exceção das declarações do presidente e do discurso de Boabaid na tribuna.

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O Parlamento Estadual está fazendo “cara de paisagem”. Ao que tudo indica, o assunto já está sob alçada do Ministério Público Estadual.

Os próprios deputados da trama querem perícia federal na gravação, atraindo para si o efeito bumerangue.

Entendem, conforme divulgam, que se deve investigar o grampo e sua autoria, mas passam ao largo da falta de decoro e das ameaças feitas durante a conversa entre ambos.

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Ainda sem falar no áudio explosivo cuja gravação é atribuída ao chefe da Casa Civil, Emerson Castro – que a nega – os deputados admitem criar uma CPI para apurar atos do governo estadual.

COMO FICAM AS CANDIDATURAS

Se até o dia sete de abril Confúcio decidir reassumir a candidatura ao Senado e deixar o governo, Daniel daria continuidade ao seu plano. Nove meses no poder possibilitariam sua campanha com chance de vitória.

A essa altura, permanecendo Confúcio no MDB, o partido se uniria para eleger os dois. O governador continuaria com a preferência do seu eleitorado, enquanto Raupp seria a segunda opção de voto. Exatamente esta a situação que o senador buscou evitar, ao estimular [conforme o áudio] Maurão “a partir pra cima do Confúcio”.

PERDEDORES

Até o momento, pela repercussão negativa da mídia ao boteco, do templo religioso ao cupinzeiro, o presidente da Assembleia tem sido o maior perdedor.

O áudio mostrou claramente que o equilibrado Maurão é também capaz de praticar atos que ferem a ética, o decoro e a boa conduta dita republicana.

Daniel Pereira, por possível atitude confrontadora com o governador – ao rejeitar ponderações, ou em razão de suposta chantagem sofrida por Confúcio –, de uma hora para outra perdeu a condição de assumir o governo e dar continuidade à candidatura.

Boabaid, o policial militar político que busca construir imagem de parlamentar atuante e impoluto, também de hora para outra se mostra homem periculoso. Basta examinar a sua frase: “Vou matar esse cara”, referindo-se ao governador que Maurão chama de banana.