Hospital "invisível" socorre vítimas de AVC, baleados e esfaqueados na periferia de Porto Velho | Notícias Tudo Aqui!

Hospital "invisível" socorre vítimas de AVC, baleados e esfaqueados na periferia de Porto Velho

Compartilhe:

Um hospital “invisível” e itinerante percorre diariamente 500 quilômetros na periferia de Porto Velho. Sua equipe faz de tudo.

O mestre de obras Wanderlei Magalhães de Andrade, a mulher, Luciene e o filho Ian se preparavam para almoçar, na Sexta Feira Santa, em 14 de abril do ano passado, quando sofreu infarto fulminante em casa, teve parada respiratória e ficou totalmente inconsciente.

Em setembro daquele ano, a Equipe Samaúma do Serviço de Atendimento Médico Domiciliar (Samd) passou a visitá-lo e atendê-lo frequentemente. Wanderley, 51 anos, é um dos 270 pacientes sob cuidados do Samd e das respectivas famílias. Essa é a média de atendimento mensal de cirurgiões dentistas, fisioterapeutas, educador físico, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas, psicólogos, motoristas e servidores administrativos.

O Samd, cuja sede funciona no bairro Cidade Nova (zona sul), é um modelo rondoniense norteado pelo Programa Melhor em Casa, do Ministério da Saúde. Tem cinco equipes que trabalham diariamente a partir das 7h. “Em algumas situações já ficamos em casas de pacientes até 21, 22h”, conta a enfermeira Mariana Aguiar.

O território de atuação da Equipe Samaúma compreende os bairros Aponiã, Embratel, Esperança da Comunidade, Flodoaldo Pontes Pinto, Lagoinha, Guajará, Lagoa Azul, Nova Porto Velho, Pedacinho de Chão, Planalto e Teixeirão.

No geral, durante o exercício de 2016, o governo estadual destinou ao Complexo Saúde R$ 6,6 bilhões, obtendo o incremento de 10,13%. Já em 2017, reservou R$ 7,3 bilhões, 23,41% a mais.

DRAMA DE AUTÔNOMO

“Estou vivendo cada dia e buscando compreender a situação, não penso muito no passado, nem no futuro”, diz Luciene.

Wanderlei veio de Humaitá (AM) aos 14 anos, foi motorista a serviço de empresa terceirizada pela Eletronorte e depois entrou no ramo de construção. Não lhe faltavam serviços, conta a mulher.

Formada em letras, Luciene se obrigou a deixar o trabalho em 2017. Anteriormente, trabalhou em diversas escolas estaduais da Capital e de Candeias do Jamari, sempre sob o regime de contratos emergenciais.  “Só na João Bento passei dez anos”, diz.

Ao consultar Wanderlei na manhã de sexta-feira (13), a enfermeira Mariana constatou que a incursão respiratória por minuto (irpm) estava na frequência 18, estabilizando-se; já esteve em 28.

A rotina da casa mudou: Ian, 10, continua frequentando o 5º ano escolar, mas a mãe largou tudo para se dedicar aos cuidados com o marido durante 24 horas, na Avenida Alexandre Guimarães, bairro Nova Porto Velho.

Embora more numa boa casa própria, o casal perdeu a renda. Com isso, Luciene alugou um cômodo nos fundos. Sabe que não pode sair de casa um só minuto. “Um desafio que procuro vencer com a ajuda de Deus”, comenta verificando anotações do Samd numa folha de papel afixada ao lado da cama de Wanderlei.

Entre as despesas, ela explica ter comprado muitos pacotes de fraldas geriátricas, cujo pacote custa acima de R$ 40.

500 QUILÔMETROS POR DIA

A cada semana ocorrem, em média, dois a quatro assassinatos na Capital e, a pedido da família ou da direção hospitalar, sobreviventes recebem atendimento em casa.

Não significa que seja essa a função desse órgão da Sesau, porém, a realidade lhe impôs a sobrecarga de trabalho.

Feridas complexas que exigem curativos diários, inclusive nos fins de semana; oxigenoterapia domiciliar; ostomizados que ingerem medicamentos via oral de 15 em 15 dias; pacientes com necessidade de remédios aplicáveis de 12 em 12 horas e carentes de nutrição enteral e suplementos constituem a clientela do Samd, que é mais procurado por pessoas das zonas sul e leste.

Em situações de promiscuidade, quando até a família desconhece a real necessidade de dependentes químicos em abstinência, são os funcionários do Samd que resolvem o problema. “É a situação do fechar e abrir os olhos, acordar e dormir, sem que a família saiba o que fazer. A gente entra e aí, nossa presença é fundamental”, explica a enfermeira Maria José Micheletti.

Os Caps [Centro de Atenção Psicossocial] encaminham pacientes ao Samd. E o Centro de Reabilitação de Rondônia [Cero] oferece cadeiras de roda, cadeiras de banho, andadores, muletas canadenses, meios de locomoção utilizados por diversos tipos de pacientes, da vítima de AVC ao infartado, acidentado no trânsito ou de tiroteio.

As equipes que se reúnem diariamente, entre 7h e 7h30, são as mesmas – cada uma com 4 técnicos de enfermagem, um enfermeiro e um médico –, mas os serviços aumentaram até para os motoristas que percorrem cerca de 500 quilômetros por dia.

SEQUELAS NEUROLÓGICAS

“Quando se trata de sequelas neurológicas de baleados, por exemplo, cuidamos dele até a estabilização, ou mesmo até a morte, quando ela vem”, relata a assistente social Sâmia Rocha. Pernambucana de Recife, ela se lembra dos nomes e coleciona fotos das vítimas de ferimentos, entre os quais, provocados por armas de fogo.

Vítimas de tiros amparados pelo Samd, em seguida são entregues aos cuidados do Programa Saúde da Família no âmbito da Prefeitura Municipal de Porto Velho.

Desde o início do programa, a cidade está dividida em quatro bases territoriais atendidas pelas equipes Açaí, Buritis, Jatobá e Samaúma.

NÚMEROS DO SAMD

Este é o demonstrativo do atendimento e procedimentos do Samd no ano passado:

Atendimento médico com finalidade de atestar óbito: 12
Visita domiciliar profissional de nível médico: 20
Visita domiciliar pós-óbito: 55
Terapia de reidratação parenteral: 65
Cateterismo verical de alívio: 69
Reabilitação nas multideficiências: 80
Assistência domiciliar por equipe multiprofissional: 134
Cateterismo vesical de demora: 160
Acompanhamento em terapia nutricional: 200
Antibioticoterapia parenteral: 1.000
Atendimento fisioterapêutico: 1.145
Visita domiciliar profissional de nível superior: 2.800
Curativo grau I: 4.000
Assistência domiciliar por profissional de nível médio: 5.089
Sondagem gástrica: 5.200
Consulta/atendimento domiciliar: 26.074

 

MONTEZUMA CRUZ
Foto: Ítalo Ricardo/Sesau

 


 Comentários
Noticias da Semana
Dicas para te ajudar
TV Tudo Aqui