MADEIRA MAMORÉ: O sonho não quer morrer | Notícias Tudo Aqui!

MADEIRA MAMORÉ: O sonho não quer morrer

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Ontem, o anúncio feito pelo governador Daniel Pereira no sábado, 28, comemorando antecipadamente o Dia do Ferroviário(30/04), ainda ecoava nos ouvidos saudosos dos trabalhadores aposentados da extinta Ferrovia Madeira Mamoré, acerca de suas intervenções para preservar o que sobrou da “Ferrovia do Diabo”:

- A Estrada de Ferro tem um investimento para ser feito,de compensação da usina(Santo Antônio), mas eu quero aproveitar para fazer algumas intervenções de melhorias também.

Ali, ele informava que a Usina Santo Antônio vai realizar projeto previamente aprovado, de revitalização de setores do patrimônio histórico.E que, o estado de Rondônia, no seu curto governo, também vai realizar algumas melhorias.

E continuou, pontuando ações já realizadas para poder fazer as melhorias anunciadas: 

Daniel informa suas ações em favor da Madeira Mamoré 

- Eu estive na última terça-feira com os representantes do Iphan em Brasília e apresentamos pedidos, por exemplo, para fazer limpeza dos trilhos da estação até a igreja de Santo Antônio, para que as pessoas possam fazer caminhadas. Observa-se que épara as pessoas andarem a pé. Não é o trem que vai andar.E continuou:

- Também estamos solicitando autorização para fazer limpeza do Cemitério da Candelária, algumas intervenções na Vila Candelária e pavimentação asfáltica no trecho que dar acesso ao Memorial Rondon. Aqui, o governador destaca mais quatro ações em áreas patrimoniais da ferrovia. E demonstra boa vontade de ajudar, de alguma forma.

Mas o que os cerca de 40 ferroviários sobreviventes dos cerca de 3 mil que existiam querem mesmo, eles, o povo de Rondônia e os turistas que nos visitam, é ver e andar nas velhas marias fumaças e litorinas. Mostrar para os filhos e, junto com eles, se emocionar com alguém lhes contando a história desta epopeia amazônica e mundial.

 

Litorina revitalizada 

Escutar o resfolegar de suas máquinas, ver suas caldeiras incendiadas, ouvir os estridentes apitos, se encantar com a fumaça branca parecendo névoa, escapando da chaminé e nas laterais do motor, sentir o vapor quente da máquina e olhar o farolzão na cara da Maria Fumaça, como se fosse um grande olho.

Desejam, ardentemente, sentir o balanço e os trancos dos assentos sobre os trilhos. Nem que seja por um pequeno lapso de tempo ou curto trecho de viagem da estação central até, pelo menos, Santo Antônio.

“A Madeira Mamoré está viva. Não morreu”. 

José Bispo de Moraes, 83 anos, presidente da Associação dos Ferroviáriosé enérgico ao defender a ativação da Estrada de Ferro:

- A Madeira- Mamoré está viva, ela não morreu. Meu sonho é ver ela ativa novamente. O governador Daniel Pereira garantiu que vai ajudar os ferroviários e nós queremos ver o trecho até a igreja de Santo Antônio operando de novo. Para nós, é como se nascêssemos de novo. Ficamos felizes de ver o governador focando seus olhos para a Madeira-Mamoré.

Como se ver, o sonho não morreu. E o próprio Daniel estáalimentando a esperança nos corações dos resistentes ferroviários. A maioria pereceu sem realiza-la. Embora, em alguns momentos, ela tenha se materializado.

Jorge Teixeira conseguiu revitalizar o trecho da Estação Central até Santo Antônio. Os domingos passaram a ser uma grande festa repleta de alegria. Com a presença de centenas de pessoas e famílias inteiras de Porto Velho e de todos recantos de Rondônia, conduzindo crianças irrequietas e curiosas, pelas mãos. Em um tempo de estradas sem asfalto.

Este repórter, por exemplo, vinha de Ariquemes com seus dois filhos, crianças, comendo poeira no verão, ou atolando no inverno. Só para passear com eles na Maria Fumaça. E depois, leva-los com seus skates, para descer uma ladeira em curva, bem asfaltada no Bairro Triangulo. As duas coisas não existem mais.

No governo de Jerônimo Santana o trem parou de novo. Coube ao governador Osvaldo Piana, revitalizar o trecho outra vez. E a alegre algazarra do povo encheu de novo a Praça da Madeira Mamoré às margens do Rio Madeira. O sonho era chegar até às Cachoeiras de Samuel, que também, não existem mais.

Não durou muito. Outros governadores vieram, ignorantes da história e da cultura do povo que governaram. Em 2014 a natureza, revoltada, quase acabou com tudo. Os milhões de reais que o prefeito Roberto Sobrinho gastou para revitalizar a praça com seus galpões, virou lama e desolação.

 

-

  

- Eles (os ferroviários e o empresário americano Percival Farquar) fizeram uma das maiores obras que a engenharia já construiu no planeta, a segunda grande obra feita em Rondônia. A mais antiga é o Forte Príncipe da Beira e a terceira é a linha telegráfica feita pelo Marechal Rondon. Três grandes obras que permitiram a ocupação da nossa região que era inóspita.

Triste constatação: todas três monumentais obras estão sofrendo a insensibilidade dos homens que não suaram para faze-las. Um descaso irresponsável e criminoso.

A lição de história foi do governador Daniel ao prestar homenagem aos ferroviários no seu dia.

São tantas as adversidades para que o sonho do povo se realize que nem dá para contar. Mas a maior delas é a falta de compromisso com a história e a cultura de uma nação, de um povo.

É tão cruel que o maior patrimônio de Rondônia ora está com a União, ora está com o estado e hora está com o município de Porto Velho. Daqui a pouco retorna para o estado ou para o município. E,a cada vez, se ilude o povo com compromissos de revitalização, recuperação, etc. E nada acontece.

Cheio de esperanças de que alguma coisa boa possa agoraacontecer, o ferroviário Edimar Maia de Oliveira, 87 anos, lembra, com nostalgia e orgulho, da época em que a ferrovia era a grande protagonista do progresso na região. E conta histórias encantadas das sagas do seu tempo de rapaz vigoroso, ferroviário.

“Um exército de 2 mil homens para 365 mil dormentes”

 

Ele tinha um exército: enfrentou índio, onças, cobras e malária.

 

- Eu trabalhei produzindo dormente para a Madeira-Mamoré. Ela estava precisando de reforma e não tinha dormente de Itaúba [Árvore nativa do Brasil]. Foi quando me convidaram para que eu levasse dois mil homens para extrair dormente no Alto Guaporé, onde tinha muitos índios e muita malária. Mas as como já tinha enfrentado a selva na guerra contra a Alemanha, aceitei o desafio e deu tudo certo graças a Deus. Nós produzimos 365 mil dormentes.

Os tempos áureos da ferrovia também é recordado pelo casal Vanilde Bispo dos Santos, 69 anos, e Luiz Paulo de Almeida, 83 anos com muito carinho. Ele era estivador, responsável por carga e descarga do que era transportado pela ferrovia e ela aproveitava a movimentação para oferecer ao público o que ela produzia como bolo e tapioca. Eles contam: 

- O trem ia até Guajará-Mirim. Pra mim era tudo muito divertido. Quero que ele volte a funcionar para fazer um passeio junto com meus netos, sonha Vanilde.

- Pra mim essa ferrovia sempre será especial, balbucia emocionado, seu Luiz. Olhar perdido no horizonte.

 

Edição: Redação noticiastudoaqui.com


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