O estupro coletivo
Em 2016, C. tinha 16 anos, um filho de três anos, era filha única de um funcionário público aposentado e de uma psicóloga, mas que não podia trabalhar por ser bipolar. A família morava num condomínio de classe média com piscina em Taquara, bairro do Rio de Janeiro. A avó, professora do município, morava na Barra da Tijuca.
Dois anos depois, já na maioridade, ela continua a ser apenas C. Durante um ano viveu à custa do Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte. Foi para outra cidade, onde se alimentava e pagava o aluguel com dinheiro do governo e a ajuda da família.
O pai, que já tivera um AVC, sofreu mais dois. Ele e sua esposa acompanharam a filha, que mudou de nome e de fisionomia. E também saiu do programa oficial por ter rompido as regras que lhe davam direito à proteção e à ajuda financeira. Uma delas a obrigava a receber tratamento psicológico. Outra, a se manter afastada de telefone.
Em dezembro ela concluiu o ensino fundamental por um curso à distância. Diz que sua prioridade é o filho, cujo pai, um traficante de drogas, que era casado e não assumiu a criança, foi morto do ano passado. C. quer, agora, ter uma vida normal. Pode ter. Mas dependerá só dela.
Em maio de 2016, sem ser identificada, por sua condição de menor, ela se tornou caso mundial. Teria sido estuprada por mais de 30 homens, que a violentaram numa casa que servia de abatedouro para um chefe de tráfico de uma favela carioca.
Ao sofrer os abusos, C. estava desacordada, provavelmente pelo uso de drogas, o que ela nega, admitindo que, em outras ocasiões, consumia maconha, ecstasy e loló. Sua tragédia começara como uma relação sexual consentida com dois homens e resultara em estupro. Não com 30 homens ou mais: comprovadamente, com quatro.
C. já fora estuprada uma vez antes. Tivera relacionamentos com traficantes e bandidos, mas sustentava que ia aos bailes funks nas favelas apenas para se divertir. Nem beijo de boca ela dava.
Era tão frequente e destacada nos morros que passou a ser companhia de traficantes, bandidos e outros moradores. A família não desconhecia as suas aventuras, mas não tinha condições de detê-la, temendo pela sua dependência das drogas e do que precisava fazer para obtê-las.
O estupro coletivo, que teria sido o maior da história humana se a primeira versão fosse verdadeira, provocou movimentos de protesto, ondas de indignação e muita agitação nas favelas e no tráfico, com mortes e prisões.
Mas C. conseguiu escapar, quase por milagre, como documenta uma excelente matéria publicada na revista Época desta semana. Importante e ignorada pelos que se mobilizaram dois anos atrás sob o impulso de informações precárias e inconfiáveis.
O drama de C. não interessa mais?
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Belém
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